FRASE:

FRASE:

"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

ANO NOVO, CARA NOVA

Esta deveria ser a primeira postagem de 2011, mas já que 2010 não quer acabar, como já disse o Xipan, estou liberando agora mesmo.
Apesar de ser predominantemente conservador, achei de bom alvitre dar uma renovada no visual do Asteróide.
Depois de me embananar com a largura e com a figura que teimava em não ocupar o espaço devido, finalmente consegui me acertar (como bom brasileiro, ler tutoriais e instruções, só em último caso. Tudo deve ser feito intuitivamente!).
A paisagem da serra de Petrópolis deu lugar à bela praia ao lado da Vila Histórica de Mambucaba, distrito de Angra dos Reis. Para quem vem do Rio, fica logo depois do complexo de usinas nucleares Angra 1, 2 e 3 (as duas primeiras em operação e a última em construção) e da cidade de Angra dos Reis. Como fica numa enseada, as águas são relativamente mansas e dá para nadar sem a todo o instante ser remexido e arremessado por uma onda.
Ao fundo, vê-se parte de uma vila residêncial privativa dos funcionários de Furnas. Apesar de não ser permitido praias privativas, como a vila é fechada, e entre Mambucaba e esta praia existe a desembocadura de um pequeno rio, o acesso à praia acaba ficando restrito aos moradores e aos hóspedes de um hotel, que chegam até aqui, em pequenos botes motorizados, através do rio. Foi este o meu caso, quando bati esta foto.
Acho que esta paisagem combina melhor com o verão, né? 
De vez em quando, talvez eu mude as paisagens, de acordo com as estações ou com o meu humor.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ANO NOVO: MAIS UMA VOLTA...


Estamos prestes a completar, a bordo da nave Terra, mais uma volta em torno desta estrela que chamamos Sol.
Depois de inúmeros cálculos, divisões com resto, e reajustes periódicos, acabamos definindo o tempo decorrido neste percurso como ANO. 
A cada ano, se repete o ciclo das estações, referenciadas pelos solstícios e equinócios tão familiares ao meu amigo "El Brujo" Barcellos e aos druídas de Stonehenge.
Talvez por isto, encaramos o novo ano como uma nova oportunidade de recomeçar, como mais uma rodada de um jogo eletrônico. Recomeçamos com uma nova vida, nos desvinculando dos erros e micos que pagamos no ano anterior e às vezes propomos mudanças de atitude e realização de diversas coisas.
Mas, diferente das estações, tão previsíveis como consequências dos movimentos do planeta, no contexto dos eventos as coisas variam um pouco mais. Embora os eventos sejam quase sempre os mesmos, sua ocorrência é aleatória quanto ao local, hora e pessoas envolvidas. Sua magnitude também varia. 
Quase dá para dizer que o que ocorre a cada ano pode ser enquadrado na teoria quântica: há uma probabilidade percentual de que algumas coisas certamente vão ocorrer com determinada incidência, porém somos incapazes de dizer quando, onde e com quem.
Por exemplo: provavelmente os patrulheiros rodoviários, bombeiros e hospitais já devem ter em mãos uma previsão de mortos e feridos, bem como acidentes sem vítimas nas estradas, nos deslocamentos típicos do final de ano. Até as áreas de maior incidência podem ser mapeadas com algum acerto. Mas, o momento, o local exato e a identidade das vítimas de cada acidente permanece imprevisível, por falta de variáveis na equação. Muito óbvio, não é?
E é assim com tudo.
Confesso que só há pouco tempo, já de cabelos brancos, fui aprender, graças ao velho amigo "El Brujo" Barcellos, o verdadeiro significado da frase: "Navegar é preciso, viver não é preciso". (1)
A frase eu já conhecia há tempos, ao que parece, uma citação de Fernando Pessoa. Mas eu não entendia porque era preciso navegar e não era preciso viver. 
Até que, lendo uma matéria (não me lembro qual) do blog  Sete Ramos de Oliveira  fiquei sabendo que o "preciso" diz respeito à precisão e não ao ato de precisar, necessitar. O ato de navegar, com o sextante e a bússola, pode ser razoavelmente preciso. Já o viver é quase totalmente impreciso, pois envolve muitas variáveis desconhecidas.(2)
Ninguém devia saber disto melhor do que eu, que diversas vezes na vida tracei planos minuciosos e definitivos sobre o meu futuro a médio e longo prazo e depois vi tudo frustrado e as coisas tomando rumos completamente diferentes, devido à fatores com os quais eu nem sonhara.
Então, não podemos planejar mais nada, já que quem decide tudo são fatores aleatórios?
Nem tanto. Quando planejamos algo de forma realista, e estamos mesmo decididos a levar a cabo alguma tarefa a curto e médio prazo, temos grandes possibilidades de realiza-la, apesar de possíveis contratempos.
Porém, nada nos impede de deixar alternativas como "plano B" para o caso das coisas não sairem como pensamos. É recomendável que estejamos sempre com a mente aberta para encarar as novas hipóteses que surgirem. Assim,  não nos parecerá um fracasso se não alcançarmos os objetivos primários da forma como planejamos.
Bem, dito isto, quero dizer  que minhas "resoluções de ano novo" são coisas bem simples, na maioria coisas que já deveriam ter sido feitas, mas por algum motivo nem sempre justificado, foram adiadas. Tipo: plantar uma horta, arrumar o quartinho da bagunça, etc...etc...
Já me considerarei um herói, se conseguir realizar pelo menos metade delas!
Desejo a todos os que tiveram a paciência de ler estas minhas divagações desconexas um 2011 de sucessos e realizações! E os votos utópicos, mas sinceros, de sempre: paz, saúde, amor e prosperidade!

(1) e (2): Nestes parágrafos foram introduzidas correções, após os comentários do Jair e Barcellos, já que eu, à princípio, atribui uma citação erradamente ao blog do primeiro, quando na verdade, ela fora publicada no blog do segundo.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

NATAL, BOA HORA PARA SONHAR

(Foto: FREECHRISTMASWALLPAPERS.NET)
Mais uma vez, é Natal.
Para os cristãos, a lembrança do nascimento de Jesus Cristo, o mestre da paz e do amor.
Para os não-cristãos, uma festividade tradicional que acaba afetando a todos de alguma forma, seja pelos engarrafamentos e pelo burburinho do comércio, ou pelas felicitações dos que participam.
Para os participantes, hora de trocar presentes e manifestações de carinho.
Para os comerciantes, a hora de vender bastante.
Para as crianças, hora de ganhar brinquedos.
Para todos, uma boa hora para sonhar...
Sou suspeito, pois para mim, quase sempre é uma boa hora para sonhar!
Mas, sonhar está liberado e temos a liberdade, embora nem todos saibam, de sonhar com aquilo que quisermos...
Os que preferirem, podem sonhar com bens materiais, com conquistas amorosas, com ascensão social, ou podem optar por coisas utópicas, mas sempre desejadas, como a paz mundial, o fim da miséria, a vitória da compreensão sobre a intolerância, a felicidade eterna, etc...
Depois, despertaremos para o mesmo mundo, com suas mazelas e problemas. De qualquer forma, ganhamos uma sobrevida e um novo alento apenas pelos momentos que passamos sonhando.
Por isto, sonhar é importante!
Para algumas pessoas é fácil, outras precisam fazer um esforço maior para se desligar da realidade e entrar no clima.
Assim, independente de qualquer coisa, podemos aproveitar essa data para relaxar uns momentos e sonhar com nossos ideais, sejam eles quais forem. Talvez possamos ajudar alguém a sonhar! Uma ajudinha às vezes é relaxante e nem precisa custar muito. Solidariedade também faz bem! Podemos ajudar a semear sonhos!
Assim, resta desejar a vocês, escritores e navegadores da blogsfera, que durante este ano enriqueceram a minha cultura, me alegraram, me fizeram refletir ou me emocionar com suas ideias, confissões e comentários, um FELIZ NATAL!
E que o ano de 2011 seja bem melhor que 2010!
Espero em breve estar de volta, talvez com alguns quilinhos a mais, talvez ainda trocando as pernas, ansioso por revê-los!
O meu abraço a todos!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

FILME: UM FIO DE ESPERANÇA

Nem tudo está perdido ! Já faz algum tempo, algumas gravadoras conseguiram entender que existe público para filmes que já fizeram sucesso no cinema e se tornaram clássicos.
E, recentemente, começaram a descobrir que no Brasil também existem pessoas que gostariam de voltar a assistir essas antigas produções!
Graças a isso, foi lançado em 2007 nos EUA, e mais recentemente no Brasil, o DVD  com a edição especial de Um Fio de Esperança (The High and The Mighty - EUA, 1954- 147 min), da Paramount Pictures. O filme está em formato widescreen anamórfico (2.55:1), já que foi originalmente filmado em Cinemascope, e vem numa embalagem com dois DVDs, um deles com o filme e o outro com diversos extras: o trailer, o "making of" do filme, curtas sobre o diretor William Wellman, sobre o compositor da trilha sonora premiada Dimitri Tiomkin, sobre a aviação nos anos 50, sobre como foi feita a restauração do filme, e muitos outros.
A história foi a primeira trama do pós-guerra ambientada na maior parte do tempo na cabine de um avião comercial, e eu considero este filme o percursor do gênero, dando origem à Céu de Agonia, Aeroporto e suas sequências e sátiras, incluindo Apertem os Cintos! O Piloto Sumiu!.
O script foi de Ernest Kellog Gann (*1910-+1991), baseado no romance homônimo de sua autoria. Gann foi piloto da American Airlines, convocado para a USAAF (Força Aérea do Exército Americano) na  II Guerra e posteriormente voou pela Matson Airlines, da qual era também um dos sócios, nesta mesma rota mostrada no filme, Honolulu-S. Francisco. A empresa não resistiu à concorrência com a Pan American, mas inspirou a história do romance.
Logo no começo do filme, ficamos sabendo a história de Dan Roman (John Wayne - *1907-+1979), apelidado "Dan assobiador", um veterano piloto que, apesar da experiência, não é comandante, exercendo a função de co-piloto para um aviador mais jovem, Sullivan (Robert Stack). Tudo por conta de um acidente gravíssimo em que se envolveu no passado, com sérias perdas familiares. A graciosa comissária May Holst (Claire Trevor) é também quem recebe e faz o check-in dos passageiros, no balcão da empresa (1).
Para se captar melhor a atmosfera do filme, é preciso vê-lo com olhos da época. Hoje, nada parece mais corriqueiro (e, ultimamente, até enervante) do que viagens aéreas. Mas, nos anos do pós-guerra, viajar de avião era um misto de aventura e charme, e nos EUA, algo ao alcance de pessoas de classe média alta, que contudo, não queriam arcar com as despesas de uma viagem num navio de classe. Eu  já falei sobre o boom das viagens aéreas nos EUA no início da minha postagem FILMES DE SUSPENSE A BORDO DE AVIÕES. Na lista de passageiros, como o filme mostra, vemos pessoas que usaram suas últimas economias para pagar a passagem ao lado de outras, melhores de vida, já acostumados com as viagens aéreas.
O andamento do filme, como nos moldes da época, pode parecer em certos momentos arrastado, e se fosse refeito atualmente, certamente teria diversas cenas encurtadas ou cortadas. A trilha sonora também pode soar dramática demais, mas é outra característica das produções da década de 1950.
Mas, o filme apresenta os elementos básicos que eu falei na citada postagem:  primeiro, uma revelação dos dramas e situações pessoais dos pilotos e de alguns passageiros (neste caso, com alguns flashbacks);  uma pane ou condição insegura; a tensão a bordo e seus efeitos, gerando reações variadas nos protagonistas. E a definição final, afetando a todos de alguma forma.

 Capa da edição especial brasileira.

O filme recebeu seis indicações para o Oscar de 1954, mas venceu apenas o de "melhor trilha sonora para drama ou comédia", premiando o trabalho de Dimitri Tiomkin. A  linda música repetidamente assobiada por Roman/Wayne, conhecida com o mesmo nome original do filme(2) apesar de indicada para "melhor canção", perdeu para  Three Coins in The Fountain, do filme A Fonte dos Desejos. Mas, da mesma forma que a vencedora, tornou-se um sucesso mundial, e foi gravada por diversos intérpretes.
Jan Sterling (*1921-+2004) recebeu da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood o prêmio de melhor atriz codjuvante, no papel de Sally McKee, uma noiva por correspondência que vai ao encontro do noivo. Um premio que saiu caro, pois conta-se que, para viver a personagem (uma mulher complexada por se achar um tanto passada nos anos), ela teve que raspar as sobrancelhas, e elas não voltaram mais a crescer!

 Jan Sterling: o premio compensou o sacrifício da beleza?
Tudo se passa numa travessia sobre o Oceano Pacífico, na rota Honolulu-S. Francisco. Entre os passageiros, um magnata da aviação, um empresário da indústria farmacêutica, um pescador profissional mal-sucedido que regressa, uma imigrante oriental,  um casal brigado, um casal de turistas cheios de gracinhas, um cientista desiludido, e um homem traído e cheio de rancor.
Os dramas começam com situações envolvendo os passageiros, até que um dos motores pega fogo, ficando fora de ação. Além disso, os tripulantes tem que lidar com um vazamento de combustível e com um erro de cálculo do navegador, e as coisas se complicam. A tensão a bordo vai piorando tanto que até a tripulação acaba entrando em conflito, balançando a escala hierárquica, enquanto decisões críticas tem que ser tomadas.
Finalmente, chega a hora da verdade para aquele punhado de pessoas.
A aeronave usada no filme foi um Douglas DC-4, versão cargueiro militar C-54, comprado como excedente de guerra, remodelado interiormente como avião de passageiros e operado pela Transocean Airlines. Nas cenas externas, o avião foi pilotado por um dos diretores da empresa, amigo de Ernest K. Gann, que quase sofreu um acidente no pouso durante uma tomada, tendo que arremeter, após tocar o solo antes do início da pista.
Dez anos depois, fazendo a rota Honolulu-Los Angeles, em um voo fretado, este mesmo avião, com três tripulantes e seis passageiros, comunicou estar com um dos motores  em chamas e na iminência de um pouso de emergência no Pacífico. Não houve mais contatos e não foram encontrados sobreviventes.
A vida repetiu a ficção da forma mais cruel.
Não restou nem um fio de esperança...
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(1)- Será que era assim mesmo? Algumas empresas aéreas de hoje adorariam fazer isto, para poupar os salários das atendentes!
 
(2) - No CD da trilha sonora, consta como Main Title: Goodbye to Toby  Flashback, Plane Wreck. Mas, em outras gravações, usualmente é citada como The High and The Mighty.

Obs.: John Wayne também foi  co-produtor do filme, juntamente com Robert Fellows.

sábado, 11 de dezembro de 2010

DÁDIVAS TROPICAIS

No final do século passado, estive em Fortaleza, onde fiquei apenas por algumas horas, mas, no aeroporto, havia um local onde estavam à venda umas caixinhas com cajus muito bonitos, como costumam ser por aquelas bandas. Cada caixa continha acho que meia-dúzia de frutas. Comprei duas caixas, uma de cajus vermelhos e outra de amarelos.
Ao final da construção de minha casa atual, por volta de 2001, plantei no fundo do quintal duas mudas, originadas pelo plantio das castanhas, um pé do caju amarelo, outro do vermelho. Depois de alcançar o meu tamanho, as plantas começaram a florir, mas nada de frutas. Até que, no verão de 2004/2005, houve uma estiagem braba, ficou quase dois meses sem chover! Então o caju se sentiu à vontade, e deu caju "a dar com pau"! Essa planta adora o clima seco! Só deve ter sentido falta do solo arenoso! Depois, o caju se encolheu e só voltou a ter outra safra razoável no verão de 2006/2007. 

 Show de vitamina C! O verão de 2004/2005 foi particularmente bom para as minhas frutas tropicais. Aqui vemos uma pequena amostra da produção de quintal: acerolas, cajus vermelhos e amarelos (apenas um pé de cada tipo de fruta).

Agora, inesperadamente, mesmo com as chuvas recentes, o cajuzinho vermelho está florido e o amarelo deu um ar de sua graça! Ainda não dá para prever se será um bom ano, mas é um bom começo!

 O caju amarelinho (ainda verde) já dá um ar de sua graça! Mas, ainda não dá para prever se teremos uma boa safra!
A jaqueira, por sua vez, depois de uma colheita de mais de vinte frutos  de uma vez (haja jaca!) e de uma boa poda, se apresentou novamente para o serviço, invejosa dos cajueiros!

Depois da poda, a jaqueira se apresenta para o serviço!

Hoje, convivo no meu quintal com frutas que na minha infância eu nem sabia que existiam. Nas casas onde cresci, no sul, haviam pés de romã, limão-cidra, peras, pêssegos, uvas e laranjas.
No Nordeste, onde morei por dez anos, fui apresentado às deliciosas graviolas, mangabas, cajás e cajus, além de outras menos cotadas.

Aqui nos trópicos, plantei diversas frutíferas tropicais, quase todas com sucesso.
Infelizmente, os três coqueiros, após uma boa produção inicial, tem sido atacados por pragas que matam e fazem secar os cocos antes que alcancem o tamanho ideal.  Estou procurando soluções para este problema.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SAINT-EXUPÉRY: FIM DO MISTÉRIO?

Na busca por Saint-Exupéry, acabaram encontrando os restos de um pequeno príncipe.

Um dos enigmas da história aeronáutica foi o destino de Antoine Saint-Exupéry, o celebrado escritor e aviador francês, autor de diversas obras sobre aviação, muitas delas narrativas de suas aventuras em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil e a America do Sul, além do Norte da África. De 1926 a 1931, fazia escalas de seus voos entre a Argentina e a Europa, pousando regularmente no aeródromo de Campeche, na ilha de Santa Catarina (SC-Brasil), onde era conhecido como “Zé Perry” e, segundo se conta, participava das animadas festas locais.
Cidadela, Vento, Areia e Estrelas, Terra dos Homens, Correio Sul, e Piloto de Guerra são apenas algumas de suas 28 obras.
Também foi o autor de O Pequeno Príncipe, livro de cabeceira de dez entre dez candidatas a miss universo. Essa história de um principezinho que habita um asteróide foi baseada numa inspiração que o autor teve enquanto vagava pelo deserto do Sahara, após um acidente com seu avião.
Saint-Exupéry era de tendência pacifista, mas apesar disto, durante a II Guerra Mundial, vendo sua querida França invadida pela avalanche nazista, alistou-se na Armée de l'Air (Força Aérea Francesa), onde pilotou uma aeronave Bloch MB 170, no esquadrão de reconhecimento GR II/33. Após a queda da França, foi para os EUA. Ele concluiu O Pequeno Príncipe em outubro de 1942, quando morava em Nova Iorque.
Em 1943, passou a integrar um grupo de aviadores franceses operando na Força Aérea do Exército dos EUA (USAAF).
 Saint-Exupéry, com o posto de major, na cabine de um P-38 F5B. Com 43 anos, já estava um pouco acima da idade para este tipo de aeronave.

Como piloto, sua utilidade era óbvia, porém sua idade (43 anos) e sua filosofia o contra-indicavam para o combate aéreo.  A média de idade dos pilotos de combate era de 21/22 anos. Mas, ele já tinha experiência na atividade de reconhecimento aéreo e assim, em 1943 foi designado para uma unidade americana na área do Mediterrâneo, equipada com aviões bimotores Lockheed P-38 Lightning, na versão F5B, de reconhecimento fotográfico. Desprovido de armas e munição, esta versão era mais rápida que a de caça.
Na sua segunda missão, sofreu um acidente, devido à pane em um dos motores, saiu bem machucado e foi mantido no solo por oito meses, só voltando a voar por intervenção pessoal do General Eisenhower, comandante-geral aliado. Desde que se metera em uma polêmica com o Gen. Charles De Gaulle, líder dos "Franceses Livres", por não apoiar a luta fratricida contra franceses fiéis ao governo colaboracionista de Vichy, ele fora acusado de ser simpatizante dos alemães, o que o deixara deprimido, e ele passou a beber em excesso.

Esta foto mostra um P-38 na versão caça. Na versão F5B de reconhecimento, foram retiradas as armas alojadas no nariz para dar lugar à cameras.

Em 31 de julho de 1944,  aos 44 anos, pilotava novamente um P-38 F5B, em uma missão sobre a Córsega. Parte do voo foi acompanhada pelo radar, mas, após sair de alcance, a aeronave desapareceu.
Houve especulações de suicídio, devido ao seu estado depressivo, mas nada havia que acrescentasse alguma informação sobre o destino do escritor. Alguns anos depois da guerra, foi descoberto que o corpo de um aviador havia sido resgatado do mar durante o conflito e enterrado em uma cova sem nome, na pequena ilha de Riou, no arquipélago de Calanques, no Mediterrâneo, próximo à cidade de Marselha.
Durante algum tempo, se acreditou que estes restos poderiam ser de Saint-Exupéry, e nos anos 60, um médico local os exumou para tentar confirmar a identidade. Os resultados foram inconclusivos e, depois da morte do médico, os despojos foram guardados por sua filha.
Até que, em 1998, no Mediterrâneo, ao sul de Marselha e a leste da Ilha de Riou, o pescador francês Jean-Claude Bianco recolheu nas suas redes uma pulseira com os nomes do escritor, de sua espôsa Consuelo e da sua editora, presa a um pedaço de tecido, parecendo ser do seu traje de voo. 

A pulseira de Saint-Exupéry, recuperada em 1998. Seu corpo nunca foi encontrado.

Em 2001, mergulhadores desceram ao fundo do mar e localizaram os destroços de um P-38 a 80 metros de profundidade. Este avião foi identificado positivamente como o avião pilotado por Saint-Exupéry em sua última missão. Mas, o corpo não foi encontrado.
O arqueólogo submarino Luc Vanrell detectou também restos de outro avião próximo ao P-38. A aeronave foi identificada como um caça alemão da mesma época, um Messerschmitt Me-109, meio enterrado na areia do fundo. Devido à problemas legais, só em 2005 Luc Vanrell, juntamente com o mergulhador Lino von Gartzen, pode içar o motor Daimler-Benz DB-601, fabricado pela Skoda, da Tchecoeslováquia, que fornecia compulsoriamente motores para a força aérea alemã durante a guerra. O motor, com o número de série ainda visível, foi levado para Munique e identificado como sendo de um avião pertencente à uma unidade de instrução tática estacionada no sul da França entre 1942 e 1944. Este avião era pilotado pelo jovem piloto alemão Alexis Friedrich Carl Christian, príncipe de Bentheim und Steinfurt, de 22 anos, quando foi abatido por caças americanos em sua primeira missão, em 2 de dezembro de 1943, meses antes do desaparecimento de Saint-Exupéry. Exames de DNA efetuados nos restos mortais exumados da cova sem nome, ainda em poder da filha do médico que os recolhera, revelaram que eles pertenciam ao “pequeno príncipe” alemão. Posteriormente, foram entregues à sua família, para sepultamento no jazigo familiar.
Mas, Von Gartzen continuou procurando mais informações sobre o fim de Saint-Exupéry, e com a ajuda da equipe de redação da revista dos veteranos da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), Jaegerblatt, começou a entrevistar veteranos ainda existentes da unidade do Príncipe de Bentheim und Steinfurt, o Jagdgruppe 200. E, em julho de 2006, ele fez contato telefônico com o veterano ex-piloto Horst Rippert, em Wiesbaden. Quando explicou o motivo de sua ligação, o veterano de 86 anos admitiu: “Pode terminar sua busca! Eu derrubei Saint-Exupéry!”.
A partir daí, uma nova história veio à tona. 

Horst Rippert, nos tempos da II Guerra, com seu Messerschmitt Me-109: 28 vitórias na II Guerra. Infelizmente, uma delas foi uma derrota íntima, pois causou a morte do seu icone e inspirador.

Segundo Rippert, em 31 de julho de 1944, com 22 anos, ele estava em patrulha em um ME-109 sobre o Mediterrâneo quando viu um P-38 mais abaixo, com insígnias francesas, voando com aparente displicência a uns 6.000 pés (2.000 m.), observando a paisagem em torno, sem se aperceber de sua presença. Ele pensou consigo mesmo:”Está bem, amigo, se você não se cuida, vou despacha-lo!” Se aproximou, fez pontaria e atingiu as asas do avião inimigo com seus canhões. Segundo ele, o P-38 se descontrolou e caiu no mar. O piloto não saltou!
Rippert contou que, na sua juventude, lera obras de Saint-Exupéry e que elas ajudaram a inspirar sua vocação para pilotar. Quando relatórios da inteligência alemã revelaram que os aliados haviam reportado a perda do piloto e escritor, os pilotos alemães começaram a juntar os fatos, e perceberam que Rippert deveria ter sido o autor do abate. Consta que o clima foi de consternação, pois Rippert não era o único admirador do escritor francês.
Ao que parece, os pilotos fizeram um “pacto de silêncio” e nunca mais comentaram o fato com ninguém fora do seu círculo. Depois da guerra, Rippert seguiu carreira no jornalismo e trabalhou como comentarista do canal de TV alemão ZDF.
Quando os restos do P-38 foram localizados, Rippert teve a certeza de que havia abatido Saint-Exupéry. Mas, assim mesmo manteve o silêncio. E o pacto foi mantido até ele receber o telefonema de Von Gartzen. O piloto alemão não se cansou de dizer o quanto lamentou ter sido o agente da morte de seu ícone e inspirador.
Nunca se pode deixar de pensar se a aparente displicência relatada por Rippert não seria uma espécie de “suicídio passivo”. Qualquer piloto militar pode dizer que voar em uma zona de guerra sem checar continuamente o espaço à sua volta bem que pode ser considerado suicídio! Mas, jamais saberemos o que se passava na cabeça do grande escritor nos momentos que precederam à sua morte.
Entretanto, faltam registros oficiais da missão, perdidos ao longo de mais de 60 anos, e assim, só temos relatos e testemunhos verbais e anotações pessoais do fato. A família do escritor acredita no relato de Rippert. Von Gartzen ainda é cético. Existem registros militares alemães de que um P-38 foi abatido em 30 de julho, pelo Sgto. Guth, do 3/200 Jagdgruppe, mesma unidade de Rippert. Esta aeronave era pilotada pelo 2º Ten. Gene C. Meredith, do 23º Esquadrão Fotográfico do 5º Grupo de Reconhecimento. Mas, não há registro do abate alegado por Rippert no dia seguinte.  Porém, cabe notar que tais registros talvez tenham sido subtraídos mesmo durante a guerra, para manter o fato em sigilo, como desejava o protagonista.
Seja como for, a verdade é que em 31 de julho de 1944, a estupidez da guerra ou suas consequências puseram termo à vida de um homem que tinha plena consciência do absurdo contido nos conflitos.
Nas palavras lamentosas de Rippert:”Quem sabe quantos livros ele ainda escreveria?”

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

LESLIE NIELSEN - TRISTE IRONIA

Leslie Nielsen (11-fev-1926 - 28-nov-2010)

O ator canadense Leslie Nielsen deixou nosso planeta neste 28 de novembro, aos 84 anos. 
E, nesta mesma semana, um amigo que reside nos EUA, em visita ao Rio, me trouxe um presente que ele me já me antecipara ao ler minha matéria Um Vovô da Boa Ficção-Científica. Naquela postagem, eu cito a ausência do filme O Planeta Proibido (Forbidden Planet - 1956) nos catálogos de vendas do nosso país. E  agora, este amigo acabou de me entregar nada menos do que uma Edição Especial do filme, com dois DVDs, editada nos EUA! Isto o torna meu verdadeiro Papai Noel antecipado!

 Capa da Edição Especial. Vejam a pose do galã na sua primeira viagem espacial! (Clique para ampliar.) 

A edição vem com trailers deste e de outros filmes similares, cenas deletadas da edição final, curtas da campanha promocional do filme, apresentada por Walter Pidgeon e ainda o filme Invisible Boy, e o episódio The Thin Man, da série da TV americana Robot Client, ambos com Robby, o mesmo robô do filme.
Mas, a irônica coincidência é que este foi o exatamente primeiro filme estrelado por Leslie Nielsen. Enquanto a maioria das pessoas lembrará dele como o velhote maluquete da série de filmes Corra Que a Polícia Vem Aí, Apertem os Cintos Que o Piloto Sumiu e outras comédias (e dezenas de filmes, em 5 décadas), eu o recordo também como o primeiro comandante de nave espacial que pude ver na telona. Muito da série de TV Jornada Nas Estrelas (Star Trek, outra das minhas preferidas) veio de O Planeta Proibido, inclusive a figura do capitão James T. Kirk (William Shatner), inspirada no comandante John J. Adams, do cruzador espacial C-57D, vivido por Nielsen.
Feliz viagem por outras galáxias, Comandante!

Nota: Segundo o site All Movie Guide, o escritor e produtor da TV americana Joseph Michael Straczynski  está preparando o script de um remake de O Planeta Proibido,  a ser lançado em 2011 pela Warner Bros. and Silver Pictures. Espero que não façam um show de efeitos especiais e enquanto estragam a história original, como já fizeram antes com outros filmes clássicos de sci-fi.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

UM PROBLEMA MAIS DIFÍCIL...

Se o que eu li está certo, de acordo com a legislação vigente, ser usuário de drogas não é crime.
Ou seja: se alguém for um consumidor habitual de drogas, e for apanhado com uma quantidade estabelecida como "para uso pessoal", não estará cometendo nenhum crime! Não vou contestar esta situação, pois é um fato consumado e há argumentos a seu favor. O dependente de drogas é na verdade um paciente a ser tratado. Mas, um tratamento para a dependência de drogas precisa da cooperação do paciente, o que geralmente é o mais difícil de se obter.
A verdade é que são os consumidores que sustentam todo o imenso esquema do tráfico de drogas! Quando alguém compra drogas, está se tornando uma das minúsculas mas numerosas engrenagens que mantém esta gigantesca máquina em funcionamento.
Agora, vejamos os últimos números, publicados hoje pelo jornal carioca O DIA ONLINE sobre as apreensões de armas e drogas no complexo de favelas do Alemão, um dos principais centros do tráfico de drogas do Rio:
"A Secretaria de Segurança Pública divulgou, nesta terça-feira, o balanço das apreensões em dois dias de ocupação no Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, Zona Norte. Foram encontradas 33 toneladas de maconha, 235 kg de cocaína, 27 kg de crack, 1406 frascos de lança perfume, além de 135 armas."
Notem que as buscas por drogas, armas e materiais em poder dos traficantes apenas começaram. As drogas apreendidas já estão sendo levadas para os fornos da CSN para serem incineradas imediatamente (Isto é importante, antes que tomem outro caminho e sumam!).
Mas, para que se tenha uma idéia melhor das dimensões envolvidas, vejam este trecho de uma nota sobre o Complexo do Alemão, publicada pela Agência Estado em 27/06/2007:
"O Complexo do Alemão está localizado na zona norte da cidade do Rio, com população estimada em 300 mil habitantes. Um terço desses moradores tem renda menor que um salário mínimo. É formado por 13 favelas distintas: Morro Alemão, Grota, Nova Brasília, Alvorada, Alto Florestal, Itararé, Morro Baiana, Morro Mineiro, Morro da Esperança, Joaquim de Queiroz, Cruzeiro, Morro das Palmeiras e Morro do Adeus. Se encontram na Serra da Misericórdia, parte central da região da Leopoldina, abrangendo uma área compreendida por cinco bairros, Inhaúma, Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha."



Combater os traficantes pode ser mais fácil do que resgatar os usuários de drogas.


Agora, vejam o tamanho do problema: até a este momento, apenas uma pequena parte desta grande comunidade foi vasculhada e a quantidade de drogas já se mede em toneladas!
Quando as buscas forem mais abrangentes, é de se esperar que estes números aumentem e aí eu pergunto: se realmente a espinha dorsal do tráfico de drogas for quebrada, como ficarão os que consomem esta imensa quantidade de drogas?
Alguém, de alguma forma, irá ocupar o espaço e atender às necessidades urgentes dos consumidores, órfãos dos traficantes  desabastecidos! E então? 
A expectativa é de que as drogas alcançarão preços bem mais altos, o que significa que os usuários não-abonados terão que roubar bem mais do que apenas um cd-player para pagar pela sua dose! Os outros terão que gastar um pouco mais da mesada.
Para mim, o pior mal das drogas é este: as pessoas aparentemente inofensivas que, sem andarem portando fuzis AR-15 ou AK-47, nem pistolas de 9 mm ou .40" fazem "a sua parte" no esquema do tráfico, como consumidores/financiadores.
Alguém já imaginou se um dia ninguém ligasse para o disque-drogas ou ninguém aparecesse na boca de fumo para comprar aquela imundície?  De que serviriam essas toneladas de drogas se não houvesse consumidores?
Por enquanto, podemos apenas esperar que, até que os estoques perdidos sejam repostos, os fornecedores de drogas ainda intocados em outras comunidades vão corrigir seus preços!

Algo tem que ser feito para resgatar os usuários de drogas, mas este é um problema  ainda não resolvido que tem alcance em escala global: as drogas atingem indiscriminadamente países ricos e pobres, e abrangem todas as faixas sociais, contaminando desde pessoas bem-sucedidas como astros da música, atletas famosos e atores de Hollywood até aos indigentes que dormem nas calçadas e becos.
Enquanto existir alguém disposto a pagar para ter alguma coisa, aparecerá sempre outro que fará o que for necessário para atende-lo. Infelizmente, tanques e fuzis podem botar qualquer bandido para correr, mas não parecem capazes de mudar isto!