Nelson Rolihlahla
Mandela
(Mvezo, 18-jul-1918 –
Joanesburgo, 5-dez-2013)
Anos atrás, quando ainda
vigorava na África do Sul o regime do apartheid, e o país se
encontrava sob boicote político, econômico e até esportivo de
diversas nações, eu costumava repetir uma profecia sinistra: “no
momento em que a maioria negra assumir o poder, seja de que forma
for, haverá um banho de sangue!”
Eu tomava como base os
fatos já ocorridos após a independência em antigas colônias e
redutos europeus na África, até mesmo pelas
rivalidades radicais entre tribos e facções que até então
dividiam o território africano.
Então, em 1990,
pressionado por muitas nações, o governo de Pretória acabou por
libertar Nelson Mandela, condenado à prisão perpétua e mantido
prisioneiro desde 1964, sob acusações de terrorismo e sabotagem.
Acenderam o estopim de um barril de pólvora, pensei eu. E logo
começaram as manifestações que levaram o Congresso Nacional
Africano (CNA) a apresentar a candidatura de Mandela ao governo.
Convém lembrar que o CNA, apesar de estar direcionado para uma causa
comum, era formado por diversas facções, cada uma com suas próprias
lideranças e algumas delas bastante radicais e inclinadas a ações
violentas.
O próprio Mandela não
tinha um retrospecto exatamente pacifista. Em determinada fase de
suas atividades, chegara a defender métodos violentos em resposta às
ações também violentas que eram empregadas pelo governo da minoria
branca contra a população negra.
Porém, quando se viu
como quase uma unanimidade na preferência da população, conseguiu
estabelecer uma política de transição com o governo de De Klerk,
menos radical que seu antecessor Botha, ao mesmo tempo em que teve
habilidade e firmeza para conter os líderes mais radicais, obter o
seu apoio e convence-los a construir uma nova nação, ao invés de
simplesmente destruir a antiga, substituindo-a pelo caos de uma
guerra civil que nunca teria fim.
Assim, nas primeiras
eleições gerais e livres da África do Sul, elegeu-se presidente em
1994 com grande maioria de votos.
Sem revanchismo, mesmo
sendo visto sem muita simpatia pelos funcionários do antigo regime,
manteve diversos deles nos seus postos, em função de sua
experiência, inestimável na organização de seu próprio governo.
O que mudou, e muito, foi a atitude da polícia nas ações de
repressão em relação à população negra.
O sucesso de Mandela já fora
reconhecido em 1993, quando ele foi agraciado com o premio Nobel de
Paz, juntamente com De Klerk , por terem ambos efetuado com sucesso
as negociações para a difícil transição do regime.
Entretanto, Mandela
também foi muito criticado por não haver promovido mudanças mais
radicais em algumas políticas do antigo regime.
Pelo que sofreu durante o
período de encarceramento, teria motivos de sobra para guardar
rancor de seus antigos captores, mas nenhum ato de revanchismo foi
incentivado por ele, o que lhe concedeu o status de um verdadeiro
estadista!
Me fez queimar a língua e o meu pessimismo!
Descanse em paz, Mandela!
Não foi um santo, nem
foi perfeito, mas seu nome ficará na história!
Nota: entre seus
seguidores, Mandela era chamado pelo apelido carinhoso de “Madiba”.