No ano passado, guardei esta nota para comentar, mas acabei não o fazendo.
A agência AFP publicou em 13/10/2010:
Tommie Smith quer vender medalha dos Jogos do México-1968
PARIS - O americano Tommie Smith, cuja imagem com o punho levantado com uma luva negra após a vitória nos 200 metros nos Jogos Olímpicos do México-1968 se tornou emblemática, decidiu colocar a medalha de ouro à venda, informa o jornal San Jose Mercury News. Smith, 66 anos, colocou em leilão a medalha e os tênis utilizados na prova a um preço inicial de 250.000 dólares, segundo o jornal.
"A medalha é importante para ele, mas a recordação é muito mais importante. Com certeza faz isto pelo dinheiro, mas está desesperado", afirmou a pessoa responsável pelo leilão, que deve acontecer em 4 de novembro.
(Não houve interessados em pagar o alto preço pretendido pelos leiloeiros. Entretanto, a notícia me levou a recordar o impacto causado naquela época pelos eventos que envolveram a conquista da medalha, e o quanto os EUA mudaram desde então.)
O polêmico gesto em 1968: o medalista de prata Peter Norman(e), da Austrália, apesar da atitude respeitosa, declarou seu apoio ao protesto, o que lhe custou a carreira.
Na Olimpíada do México, em 1968, num gesto que chocou o mundo esportivo, os velocistas americanos Tommie Smith e John Carlos, respectivamente ouro e bronze nos 200 m. rasos, ao invés da atitude respeitosa durante a execução do hino nacional americano, vestiram luvas pretas, ocultando simbolicamente as palmas das mãos, e ergueram os punhos cerrados, numa saudação usada na época por grupos de militantes radicais negros dos EUA.
Tais grupos, se contrapondo às ideias de resistência pacífica e integração do Reverendo Martin Luther King, acreditavam numa escalada de violência e separatismo em resposta ao tratamento racista dispensado aos americanos negros em seu próprio país. Em tese, visavam o estabelecimento de instituições e bases para a criação de uma nação negra com poderes próprios e independente, em contraposição à "América branca".
Esta ideologia separatista e racista era conhecida como black power. Porém, na sua autobiografia, Smith nega ter pertencido a tais grupos, e alega que seu protesto era apenas pelos direitos civis. Outros atletas negros americanos repetiram o gesto durante as competições, mesmo sendo advertidos pelo comitê olímpico.
Esta ideologia separatista e racista era conhecida como black power. Porém, na sua autobiografia, Smith nega ter pertencido a tais grupos, e alega que seu protesto era apenas pelos direitos civis. Outros atletas negros americanos repetiram o gesto durante as competições, mesmo sendo advertidos pelo comitê olímpico.
Os dirigentes olímpicos acharam inadmissível gestos de fundo político durante as competições...entretanto, não podemos esquecer que nos jogos de 1936, em Munique, os atletas alemães faziam ostensivamente a saudação nazista quando venciam, sem que ninguém os reprimisse...
Os dois velocistas foram expulsos da vila olímpica por esta indisciplina. Mais tarde, Smith, Carlos e outros atletas sofreram até ameaças de morte ao voltarem ao seu país. Os movimentos radicais foram sufocados nos anos 70 pela ação do FBI e a situação foi gradativamente mudando para os negros americanos, mas não por ações diretas da luta armada. As novas gerações já eram capazes de enxergar além das trevas do racismo e o antagonismo decaiu de parte a parte.
Hoje, o presidente dos EUA é um homem originado por um casal “alvinegro”, e foi eleito em um país onde os negros representam menos de 13% da população(*)! Donde se conclui que os eleitores não olharam sua raça, mas suas propostas.
Mas, independente do acerto ou não das ideias que motivaram o polêmico gesto de 1968, ficou registrada a coragem de expressar publicamente a revolta, naqueles tempos difíceis...E a fantástica marca de 19,83 segs, que perdurou por 44 anos, até ser finalmente quebrada em maio de 2010 por Tyson Gay, que marcou 19,41 segs, em Manchester, EUA , durante os Great City Games !
Porém, o pior estava reservado para Peter Norman, o australiano que foi o segundo colocado em 1968, e se declarou solidário com os americanos.
Ele também sofreu retaliações em seu país e foi cortado de competições onde seria o favorito. Após um rompimento no tendão de Aquiles em uma das pernas, em 1985, teve complicações e acabou sofrendo uma amputação, mergulhando depois na depressão e no alcoolismo. Faleceu em 3 de outubro de 2006, em consequência de um ataque cardíaco. Smith e Carlos estiveram no seu enterro e o conduziram até sua última morada.
Ele também sofreu retaliações em seu país e foi cortado de competições onde seria o favorito. Após um rompimento no tendão de Aquiles em uma das pernas, em 1985, teve complicações e acabou sofrendo uma amputação, mergulhando depois na depressão e no alcoolismo. Faleceu em 3 de outubro de 2006, em consequência de um ataque cardíaco. Smith e Carlos estiveram no seu enterro e o conduziram até sua última morada.
Com o passar do tempo, e com a mudança de postura em relação aos fatos daquela época, os dois atletas americanos começaram a ser resgatados e reconhecidos como legítimos em seus protestos, em função das condições que enfrentavam no seu país naqueles tempos.
Hoje, o gesto virou uma estátua na Universidade Estadual de San Jose, onde os protagonistas foram alunos. Em 2008, numa premiação da TV ESPN, ambos receberam o Arthur Ashe Courage Award, como prêmio de reconhecimento à sua coragem.
Os tempos mudaram, e os vilões de ontem viraram heróis...
Vejamos o que diz a Wikipédia, em um dos parágrafos, abordando a expressão "black people":
One drop rule
Historically, the United States used a colloquial term, the 0ne-drop-rule, to designate a black person as any person with any known African ancestry. Legally the definition varied from state to state. Thomas Jefferson had slaves who were legally white (less than 25% Black) and legally slaves (mother was a slave). Outside of the US, some other countries have adopted the practice, but the definition of who is black and the extent to which the one drop "rule" applies varies from country to country.The one drop rule may have originated as a means of increasing the number of black slaves and been maintained as an attempt to keep the white race pure. One of the results of the one drop rule was uniting the African American community and preserving an African identity. Some of the most prominent civil rights activists were multiracial, and advocated equality for all.
Embora não sendo uma lei aplicável a todos os estados americanos, o método ainda pode ser usado livremente para determinar a raça de um indivíduo nos EUA, com fins estatísticos.