Em nossa existência
neste mundo de quatro dimensões, a cada instante surgem novas
alternativas, onde às vezes temos opções de escolha. Outras vezes,
a alternativa seguinte é decorrência de outros fatores, que estão
fora do nosso controle. Nesta sequência infinita de possibilidades,
parece que nossa vida percorre um caminho tortuoso, determinado pela
combinação das escolhas que fazemos + fatores imponderáveis.
Não se trata de uma
simples árvore binária, onde cada escolha se resume a “sim/não”,
“direita/esquerda”, “acima/abaixo” ou “falso/verdadeiro”.
Na realidade, quase sempre existem graus intermediários,
transformando cada instante em uma múltipla escolha.
A banca está aberta! Façam suas apostas!
Mas, o inconformado ser
humano nunca está satisfeito com seus atributos e quer mais: além
de descobrir o que aconteceu como decorrência da sua escolha,
quer saber também qual teria sido o resultante de uma escolha
diferente.
E se eu não tivesse
feito aquela viagem?
E se eu tivesse aplicado
em tal fundo?
E se eu tivesse escolhido
outro caminho?
E se eu não tivesse
falado aquilo?
Fred Hoyle, em seu livro
Ten Faces of Universe levanta a questão: existirá um universo
paralelo criado a partir de cada possibilidade? Existirão incontáveis
duplicatas de mim vivendo cada hipótese que eu não escolhi?
O mínimo que se pode
ponderar é que se fosse assim, a cada infinitésimo de segundo se
criariam incontáveis versões do universo, cada uma delas se
multiplicando novamente a cada passo.
Isto nos leva a um número
catastrófico cujo propósito, pelo menos ao senso comum, parece não
fazer sentido. Mas, de que vale o senso comum diante da complexidade do universo?
Hoyle, em suas
ponderações, se inclina para a hipótese mais simples: existe
apenas a trajetória escolhida, e as desprezadas simplesmente não
aconteceram, nem podem mais acontecer, pois ficaram para trás,
sumiram no momento exato em que foram rejeitadas.
Isto me recorda um fato
que ocorreu há alguns anos, quando eu vivia no Nordeste: um avião
militar de passageiros saiu da base aérea de Fortaleza, no Ceará, numa rota que
descia pelo litoral brasileiro. Era época de férias, e diversos candidatos disputavam vagas com suas famílias.
Um militar, com sua esposa e a filhinha de uns três anos,
conseguiu passagem até Recife, Pernambuco. Durante o voo, a menina pareceu
estranhar o interior apertado do pequeno avião, e chorava e
reclamava o tempo todo.
Quando o avião fez escala em Natal, Rio
Grande do Norte, a família desceu do avião para relaxar um pouco e
na volta, a menininha se recusou a entrar no avião. Protestou tanto
que os pais decidiram ficar ali mesmo e fazer o resto da viagem de
ônibus.
Outras pessoas que
estavam na vez ocuparam os lugares deixados pela família e o avião
seguiu, superlotado.
Decolou sem dificuldade,
mas, logo após sair do solo, teve falha em uma turbina, que parou de
funcionar. O motor restante não suportou o peso excessivo e durante
a tentativa de fazer o contorno e voltar para a pista, perdeu
altitude rapidamente.
Espatifou-se a pouco mais
de um quilômetro da pista. Todos a bordo morreram.
Não vou entrar em
polêmica sobre a possibilidade de alguma premonição por parte da
criança, mas o que chama a atenção é que foi um dos raros
momentos em que se vê o quanto diferente seria tudo se os pais não
tivessem optado por desistir: alguns minutos depois, estariam todos
mortos!
E quem entrou na vaga deles assistiria a tudo da estação de
embarque!
Mas foi assim que
ocorreu, e os que escaparam só tiveram que respirar aliviados. A
morte passou bem mais perto do que eles jamais imaginariam!
Este é o jogo onde
estamos empenhados e do qual não podemos sair...
A cada instante, às
vezes inconscientemente, estamos fazendo uma nova aposta!
Boa sorte!