FRASE:

FRASE:

"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A BATALHA DE RIO JIMA

O desfecho foi parecido: soldados numa elevação hasteando a bandeira nacional. Mas, talvez parem aí as semelhanças da Batalha de Iwo Jima, no Pacífico, em 1945, com a Batalha do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, em 2010.
Em 25 de novembro de 2010, após uma semana de ataques esporádicos de facções criminosas, com bloqueios em ruas, incêndios ateados em ônibus e automóveis particulares, e tiros contra cabines policiais, uma poderosa força composta de membros do Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar e  da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE)da Polícia Civil, empregando meia dúzia de blindados de assalto M-113 da Marinha do Brasil operados por fuzileiros navais, invadiu a favela de Vila Cruzeiro, enclave intocável dos traficantes de drogas durante vários anos de governos omissos, acordos sujos, populismo e demagogia.
Os costumeiros bloqueios usados pelos bandidos para obstruir as ruas de acesso às favelas não funcionaram contra os potentes e blindados veículos, dotados de lagartas ao invés de pneus. Caminhões atravessados na rua foram afastados do caminho com facilidade pelos tanques navais.
O helicóptero de uma emissora de TV mostrou então um dos espetáculos mais insólitos já vistos nos últimos tempos: pelos fundos da favela, numa passagem em torno de um morro que leva ao vizinho complexo de favelas do Alemão, começou o desfile de mais  de 200 bandidos, carregando armas de guerra e bolsas com munições, como uma bando de baratas fugindo de uma fossa dedetizada. Um franco atirador da polícia, bem postado, ainda disparou duas ou três vezes, acertando pelo menos dois marginais, que tombaram feridos. Mas, deve ter interrompido os tiros ao ser informado de que tudo estava sendo mostrado ao vivo pela camera no helicóptero. As entidades protetoras dos bandidos não iriam tolerar que os pobres marginais armados fossem alvejados assim.
Os marginais restantes abandonaram a estradinha e se dispuseram a atravessar o morro varando  o mato baixo, e chegaram ao Complexo do Alemão.
Assim, os homens da força mista entraram na Vila Cruzeiro praticamente sem resistência e ocuparam a comunidade.
Enquanto isto, chefões que comandaram os atentados de dentro dos presídios eram rápida e prontamente transferidos por ordem judicial para presídios de segurança máxima em outros estados. Também eram suspensas algumas regalias concedidas oficialmente a criminosos de alta periculosidade, como visitas quase ilimitadas de advogados e visítas íntimas de suas mulheres. E finalmente, a prisão de advogados de traficantes, acusados de servirem de estafetas para transmitir ordens dos seus clientes presos para as quadrilhas executarem os ataques terroristas.
Certas emissoras de TV, sempre prontas a denunciarem a dureza da polícia em ações nas chamadas comunidades, desta vez aprovaram tudo o que estava sendo feito, admitindo ser necessário, apesar dos transtornos para a população do local. E fica a pergunta: como de uma hora para outra se fizeram coisas que precisavam ser feitas há tanto tempo?
Talvez por um erro fatal cometido pelos marginais. Os traficantes ficaram aborrecidos com a implantação das chamadas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em morros e favelas cariocas. A presença constante da polícia nas redondezas,  interagindo com as associações de moradores e líderes religiosos locais, além de ocupar o espaço político dos  traficantes, fez cair movimento dos pontos de venda de drogas, afugentando os usuários e causando grandes prejuízos aos "negócios". Esperavam que, após as eleições, as coisas fossem afrouxando e as UPPs fossem aos poucos sendo neutralizadas. Como viram que isto não aconteceu, resolveram partir para a intimidação. Facções criminosas até então adversárias se uniram e seus chefes, mesmo confinados em presídios, orquestraram atentados, distribuídos como "dever de casa" para cada favela sob o seu domínio. Como a cidade é praticamente toda cortada por favelas, seria possível semear o caos em doses aleatórias, tornando difícil o trabalho da polícia. Mas, suas ligações com o exterior dos presídios estavam sendo monitoradas e, no presídio de Cantanduva, no Paraná, em cartas de presidiários interceptadas foram encontradas instruções para sabotar o ato de criação de uma UPP, possivelmente no Complexo do Alemão, além de outros atos de terrorismo urbano capazes de prejudicar por tabela eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016! Aí, o seu grande erro! Ao fazer isto, mexeram com pessoas e entidades que planejam faturar milhões com estes eventos, desde empreiteiras e políticos até aos gigantes da mídia televisiva!
Meu palpite é de que foi isto que causou esta súbita mudança de atitude, que a TV quer nos convencer de que foi uma "conscientização coletiva da população", quando na verdade foi obra de poucas mas poderosas pessoas e entidades que não admitem que seus interesses sejam prejudicados! Ainda bem que, neste caso, isto ainda pode ser útil também para o povo.

 Soldados americanos hasteiam a bandeira em Iwo Jima, em 1945
Policiais do CORE hasteiam a bandeira no Morro do Alemão, em 2010
(Foto: Jornal Extra - Rio)

Mas, os bandidos, acuados, estavam no grande Complexo do Alemão. Agora com ajuda mais acentuada das forças armadas, começou o cerco à comunidade, bem maior do que a de Vila Cruzeiro. A segurança do perímetro ficou ao cargo de aprox. 800 homens da Brigada Paraquedista do Exército, e com mais carros de combate do exército, além dos da Marinha já presentes no local. A Polícia Federal também se envolveu, e a Força Aérea contribuiu com helicópteros Super Puma para cobertura aérea. Às 08:00 h de domingo, com a chegada de um helicóptero blindado da PM, começou a invasão do Complexo do Alemão. Mas, a resistência novamente foi bem menor do que o esperado. Apesar de alguns tiros disparados a esmo pelos bandidos, logo as forças policiais chegaram ao centro do complexo e asseguraram o domínio da comunidade. Alguns bandidos foram feridos e presos em escaramuças, outros se entregaram, mas aqueles mais de 200 que vieram da Vila Cruzeiro e os tantos outros que devem existir no próprio complexo não apareceram. Ou escaparam, furando o bloqueio dos paraquedistas, o que é difícil para tantos homens, ou continuam lá, escondidos entre os moradores locais, como hóspedes não convidados.
Num prédio mais elevado, foram espetadas as bandeiras do Brasil e  do Rio de Janeiro, como foi feito em Iwo Jima com a bandeira americana, enquanto ainda haviam japoneses enfiados nas cavernas da ilha.
Esperemos os próximos atos desta epopéia.
Só o futuro dirá se a data de 25 de novembro será o marco de uma virada na história desta cidade...

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

MAS, ISSO VOA? - O ESTRANHO BV-141

Uma vez, o meu amigo blogueiro Jair (Um Blog Que Pensa) emitiu uma postagem onde relacionava a beleza e a simetria nas formas. Chegamos a debater o assunto e eu pus essa idéia em dúvida, acabando esmagado pela embasada argumentação do autor.
Mas, parece que, em 1937, ninguém tinha avisado sobre isto ao engenheiro e projetista alemão Richard Vogt. Pois este ilustre cidadão do Reich projetou uma das aeronaves mais incomuns de que temos notícia. O que mais chamava a atenção era o fato do avião, em sua versão final, ser totalmente assimétrico!
Aqui vai um resumo da história do Blöhm Und Voss BV-141, uma das aeronaves de aparência mais estranha que já voaram nos céus deste planeta.
No ano de 1937, o Reichsluftfahrtministerium (RLM), o ministério da aeronáutica do Reich, apresentou aos fabricantes de aeronaves Arado e Focke-Wulf as especificações para um avião de reconhecimento de curto alcance, que também pudesse desempenhar as funções de bombardeiro leve, ataque rasante e dispensador de cortinas de fumaça. As especificações requeriam uma aeronave para três tripulantes, com uma cabine de ótima visibilidade, e potência de 850 a 900 hp para decolagem.

 O aspecto da série final do BV-141, com o motor BMW 801 e o conjunto estabilizador/profundor totalmente assimétrico. Não parece que está faltando algum pedaço? (Foto: Arquivo Nacional da Alemanha.)

Em função de tais especificações, a Arado construiu o mal sucedido Ar-198, apelidado "aquário voador", por possuir áreas transparentes por cima e por baixo da cabine, enquanto a Focke-Wulf aprontava o elegante FW-189. A Hamburg Flugzeugbau não foi convidada a participar da concorrência, mas seu diretor técnico, engenheiro Richard Vogt, assumiu bancar um projeto paralelo por conta própria.
Embora não fosse estipulado nas especificações que a potência total deveria estar em apenas um motor, a maioria dos projetistas da época não pensava atender as exigências do projeto com mais de um motor. Vogt, particularmente, julgava que com um projeto monomotor assimétrico, teria uma cabine o mais desobstruída possível, e ainda poderia compensar os efeitos negativos do torque, presentes em todos os aviões monomotores.
As autoridades aeronáuticas não ficaram nem um pouco entusiasmadas com o esquisito projeto, designado Ha-141, mas Vogt conseguiu sensibilizar Ernst Udet, recém nomeado chefe da Seção de Desenvolvimento do Departamento Técnico da Aeronáutica. O projeto de Vogt afinal foi aceito na concorrência e recebeu financiamento oficial.
O protótipo voou em 25 de fevereiro de 1938 e apresentou excelentes características de maneabilidade e uma ótima visibilidade, exceto pelo lado esquerdo, onde ficava a nacele do motor. O motor era um BMW 132N, desenvolvendo 865 HP ao nível do mar e 960 HP a 3.000 m. Seu armamento defensivo consistia em duas metralhadoras MG 17 de 7.9 mm fixas dianteiras e outra móvel em um montante flexível na traseira da cabine. Tinha cabides para até 4 bombas de 50 kg e era equipado com uma camera automática. Suas velocidades máximas eram de 340 km/h ao nível do mar, 410 km/h a 3.778 m, e a velocidade de cruzeiro era de 375 km/h a 4.474 m. Seu alcance máximo era de 1.170 km e o seu teto máximo de 8.948 m. (Os alemães utilizavam o sistema métrico decimal.)
Em função do excelente desempenho do protótipo, as autoridades tiveram que "engolir" o estranho avião e foram feitas encomendas de mais cinco aparelhos de pré-produção, para mais ensaios operacionais. Mas, aí começaram os problemas: o ponto falho do projeto nada tinha a ver com a aparência do avião, mas ficava no seu sistema hidráulico, que acionava os flapes e o trem de pouso. Dois protótipos sofreram acidentes com o trem de pouso, o que atrasou o início dos testes operacionais. Mas, os testes foram afinal iniciados em abril de 1940.  A esta altura, a Hamburg Flugzeugbau havia passado a se chamar Abteilung Flugzeugbau, fora incorporada ao estaleiro Blöhm Und Voss, e o avião passou a se chamar BV-141.
Os relatórios dos ensaios eram favoráveis, mas as autoridades tinha clara antipatia pelo projeto, motivados pela sua estranha aparência. Buscaram uma falha para rejeitar o avião, e o motivo apresentado foi a falta de potência. Mas Votg não se deu por vencido e já trabalhava numa nova versão do esquisito avião, desta vez equipado com o potente motor BMW 801 (o mesmo usado no caça FW-190A). Com 14 cilindros em estrela e refrigerado a ar, este motor fornecia até 1.560 HP na decolagem, e os números de desempenho da aeronave foram incrementados, mas isto também implicou em um redesenho completo da sua parte estrutural. O novo protótipo voou em janeiro de 1941, e já se estudava a compra de mais 5 protótipos e 10 aparelhos de pré-produção.
Porém, as modificações feitas em função do novo motor acabaram alterando negativamente as boas características do avião. Vibrações e esforços estruturais excessivos foram detectados, os ailerons se tornaram muito sensíveis, enquanto os problemas hidráulicos permaneciam. Para melhorar o campo de tiro do artilheiro de cauda, o conjunto estabilizador horizontal/profundor tornou-se também assimétrico, tornando a aparência do avião ainda mais insólita. Os ensaios operacionais prosseguiram. Estava em formação uma unidade experimental para operar os primeiros aviões na frente oriental.

O Focke-Wulf FW-189: a mesma cabine, em um design mais equilibrado e elegante. (Foto: THE WARPLANES OF THIRD  REICH - William Green, Mc Donald-London, Ed. 1972)

A essa altura, porém, já se iniciara o ano de 1943, o menos problemático (e menos esquisito) FW-189 já estava em estágio bem mais adiantado, e 80% das instalações da fábrica Blöhm Und Voss estavam alocadas para a produção das aeronaves FW-200, uma vez que a sua linha de montagem na Focke-Wulf fora seriamente danificada por ataques aéreos aliados.
Tudo concorria contra o BV-141, e assim, para frustração de Richard Vogt, seu projeto foi definitivamente cancelado. Mas, este não foi o único projeto estranho da engenharia aeronáutica do III Reich.

sábado, 20 de novembro de 2010

A ESCRAVIDÃO EDUCACIONAL

"Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida." (provérbio chinês).
A data de 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi, líder  do Quilombo dos Palmares, foi transformada em “Dia da Consciência Negra”, o que me faz pensar: e se alguém resolver criar também o “Dia da Consciência Branca”? Será acusado de racismo? E o “Dia da Consciência Amarela”? Será um complô de orientais?
Eu sei que isto é visto por algumas pessoas militantes e bem-intencionadas como uma espécie de resgate de cidadania, ou uma compensação pelos erros cometidos no passado contra os africanos e seus descendentes, entre os quais também me incluo. Posso estar errado, mas  a essa altura do campeonato, acho um contra-senso ficar enfatizando diferenças raciais. Acho mais adequado acentuarmos cada vez mais a integração dos brasileiros como cidadãos de uma nação cosmopolita, mas unidos em torno de ideais comuns.
Qual o motivo de um dia dedicado a apenas uma suposta etnia, que hoje em dia nem sequer está  assim tão bem definida? Vimos recentemente, num vestibular, um irmão ser considerado "branco" e o outro "negro"! Muitos brasileiros tem parentes com aparência racial bem diversa.
Vejamos os antecedentes: com a abolição da escravidão, os escravos saíram das senzalas nas fazendas para as favelas e calçadas, isto é um fato, pois a abolição foi um ato de improviso e os governos daquela época não criaram nenhum programa para integrar os negros libertos à sociedade civilizada. Desta forma, os negros passaram da condição de animais de propriedade de senhores de fazendas à de mendigos livres, miseráveis, sem teto, sem documentos nem instrução, incapazes de obter empregos que não os reservados aos analfabetos. Sem poder trabalhar em empregos regulares, pela falta de documentos, escolaridade e especialização, viraram serviçais baratos das classes mais favorecidas. Escravos que não precisavam ser alimentados. Sem perspectivas, alguns se entregaram aos vícios e ao crime.
As sequelas deixadas foram irreparáveis. Gerações e gerações foram condenadas à pobreza e o ritmo de ascenção social entre a população negra nunca alcançou a média nacional. Isto num país de abismos sociais imensos, onde esta escalada já é tão difícil para todos os pobres.
Mas, o mal já foi feito, e nenhum revanchismo poderá reparar estas desvantagens. Mesmo porque atualmente, grande parte da população não sabe nem ao certo de que etnias veio o sangue que corre nas suas veias, independente de sua aparência.
Hoje, os descendentes dos escravos estão na sua quase totalidade, diluídos na imensa legião de pobres deste país. Não vejo agora nenhum sentido em recolher um “negro” da calçada e deixar o “branco” que está ao seu lado caído. Não é mais um problema racial, mas, social. E o Brasil é um campeão em desigualdade social!
Algo tem que ser feito para diminuir as diferenças sociais e alguma voz misteriosa me diz que a chave se chama EDUCAÇÃO!
E aí nos deparamos com mais aberrações. Eu acho que a criação de cotas raciais nas universidades não resolve nenhum problema, além de criar outros. Foi apenas mais um ato político demagógico e desastroso, feito por quem não quer resolver o verdadeiro problema: a falta de qualidade do ensino público!
Se a qualidade do ensino público fosse boa, os alunos que cursam escolas públicas poderiam competir por vagas em condições de menos desigualdade com os alunos de escolas particulares. E quem cursa as escolas públicas? Todos os pobres, inclusive os negros, dos quais 99,9% estão incluídos nesta categoria! Nem todos os pobres são negros, mas, quase todos os negros são pobres! Mas o problema não é mais só dos negros, mas dos pobres! A questão não é racial, mas sócio-educacional!
Todos os anos, vejo paralisações nas aulas das escolas das redes públicas, provocadas por greves de professores mal pagos, falta de merenda escolar, falta de carteiras, falta de salas de aula e outros problemas. Em resumo, falta de vontade de realmente elevar o nível da educação. No final do ano, os alunos são aprovados como se nada tivesse acontecido, tudo é ajeitado, ninguém é responsabilizado, e vamos criando mais uma geração de “filhos de pobres”, de baixa escolaridade que terão poucas chances de competir com quem estudou numa escola de verdade!
Aqui no Rio, apareceram até uns “gênios” inventando uma tal “aprovação automática”, ou seja, o aluno passaria para a classe seguinte com ou sem aproveitamento! E assim iria, até ficar tão incapacitado de acompanhar o programa que acabaria desistindo! Mais uma boa forma de maquiar um problema, mascarando suas consequências. Felizmente, parece que as reações impediram a continuação desta idéia de mais um “bonzinho” de plantão!
Mas, investir em educação não dá frutos imediatos, e os louros serão colhidos em outros mandatos políticos, não rendendo votos para os autores do investimento! E, além disso, gente com boa escolaridade teria melhores critérios ao escolher seus candidatos e cobraria atitudes mais coerentes dos políticos que elegeu! Desta forma, nossos governantes acharam melhor investir na demagogia! Esta tem retorno imediato! A forma como foi tratado o recente problema com as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) mostra o habitual descaso com a educação, tradição antiga dos governos deste país.
Alguns acreditam que o nível econômico dos brasileiros melhorou, com a elevação de mais brasileiros para as classes econômicas imediatamente superiores. Mas, quando isto é feito abaixando os números que enquadram a renda destas classes, não há nenhum benefício, apenas estatísticas favoráveis.
Nos últimos anos, a única coisa que realmente beneficiou a todos foi a estabilidade econômica, com o fim da hiperinflação que parecia uma peneira a vazar nossos rendimentos. O que vemos agora são os efeitos do fim daquele pesadelo. Já anda por aí uma nova geração que nem sabe o que são rotuladoras de preços, aquelas máquinas que passavam o dia remarcando produtos nos supermercados!
Quando um país realmente melhora, as pessoas passam a entender melhor o seu próprio papel na sociedade, o significado dos eventos políticos nacionais e a exigir mais de quem recebe procuração para gerir esta imensa massa de recursos que são propriedade de todos.
Esperemos que um dia, algum redentor faça a abolição da escravidão educacional, principal fator a impedir a melhoria da qualidade de vida deste país!
Neste data, esqueceremos as "raças" e celebraremos o Dia da Consciência Nacional...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O TEMPO PASSA... AS COISAS MUDAM...

Eu tenho um fascínio pelos anúncios comerciais publicados em revistas, principalmente os do século passado. Com a internet, tive a oportunidade de acrescentar aos já escaneados de minhas revistas antigas alguns outros, na maioria americanos, baixados de sites especializados. Não tenho nenhum objetivo comercial ou lucrativo com esta coleção, mas apenas o prazer da contemplação. 
E, examinando os anúncios, assim como em uma coleção de selos, podemos vislumbrar coisas da história. Hoje, vivemos na época do "politicamente correto" em que existem eufemismos para designar coisas que antes eram ditas de forma mais explícita. Por outro lado, coisas que eram expressas por insinuações hoje são ditas de forma escancarada!
De qualquer forma, o que se nota é que mudaram as formas de se encarar certas coisas. O cigarro, por exemplo, presença obrigatória nos filmes antigos de Hollywood, dava o "toque de elegância" aos heróis e heroínas. Humphrey Bogart sempre acentuava suas cenas com o seu inseparável cigarro, quase uma marca registrada. Hoje, os anúncios de cigarros foram banidos de praticamente todas as formas de divulgação.
Mas, numa dessas espiadas, me deparei com o insólito anúncio que usei para ilustrar esta postagem. Na época, no longíquo ano de 1946, devia parecer muito natural, já que o texto é de uma desinibição total.

Coisas de outros tempos...(clique para ampliar).

Aqui vai uma "traição" livre do conteúdo:

TODO MUNDO O CONHECE...
Mais cedo ou mais tarde, ele vira uma figura familiar para todos os policiais da rua: ele é um médico – atendendo a uma chamada de emergência!

A vida de um médico não lhe permite viver como gostaria. Férias, fins-de-semana, e noites de sono podem ser interrompidos. As emergências exigem sua presença por longas e exaustivas horas...com alguma pausa ocasional e, às vezes, o prazer de um cigarro. Depois, de volta ao trabalho de preservar vidas.

De acordo com uma recente pesquisa em caráter nacional:
A MAIORIA DOS MÉDICOS PREFERE OS CIGARROS CAMEL
Os fabricantes de CAMEL estão naturalmente orgulhosos pelo fato de que, dos 113.597 médicos a quem foi perguntado que cigarro preferiam, a maioria respondeu CAMEL. Esta pesquisa foi de caráter nacional, cobrindo médicos de todas as especializações, inclusive em nariz e garganta. Os resultados foram apurados por três agências independentes conhecidas nacionalmente. Experimente CAMEL. Faça o teste da “Zona-G”.

A “Zona-G”: “G” de gosto e de garganta.
A “Zona-G” é o nosso campo de provas para qualquer cigarro. Porque somente o seu gosto e a sua garganta podem decidir qual o cigarro que lhe agrada...E como ele afeta a sua garganta.
[Originalmente, Zona "T", taste (gosto) e throat (garganta)]
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Este anúncio fez parte de uma campanha publicitária dos cigarros Camel, e existem diversas variantes, usando o mesmo refrão. Anteriormente, em 1945, houve outra série protagonizada por mulheres de destaque na sociedade americana.
Hoje, tenho mais idade do que o meu pai tinha ao falecer prematuramente, vitimado por problemas relacionados com o cigarro. Talvez por isto, coisas assim me chamam a atenção.
Time goes by...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

FILME: O RESGATE DO SOLDADO RYAN

Uma vez deflagrada, uma guerra só nos dá uma alternativa: vence-la, a qualquer custo! Isto porque as consequências da derrota são as piores que podemos imaginar. E vencer uma guerra a qualquer custo significa esquecer todos os princípios de humanidade, caridade, compaixão e compreensão que idealizamos para viver em harmonia com os outros habitantes deste planeta. Só a ilusão e os efeitos da propaganda podem levar alguém a pensar que podemos estabelecer regras numa guerra. É  por isto que a guerra deve ser evitada a qualquer custo! (Leonel, o pensador)

Em junho de 1944, durante a II Guerra Mundial, numa seção de ajudância do exército americano, ao lado do gabinete do Chefe do Estado-Maior, General George Marshall, diversas datilógrafas tinham muito trabalho: sua tarefa era datilografar as cartas que seriam enviadas às familias dos militares americanos que morriam diariamente nas frentes de combate. Mas, uma delas percebeu que já havia datilografado mais de uma carta para a mesma Sra. Ryan,  naquele dia: foi conferir e verificou que uma pobre mãe americana iria em breve receber três cartas, comunicando a morte de três de seus quatro filhos combatentes! O próprio general foi informado que o único filho sobrevivente da família Ryan era um paraquedista que acabara de saltar atrás das linhas alemãs, numa ação precursora dos desembarques aliados do Dia-D, na europa continental, dominada pelos nazistas.
E uma decisão foi tomada: deviam a todo o custo impedir que esta família americana fosse irremediavelmente extinta! E a única forma de fazer isto seria desmobilizar imediatamente o filho sobrevivente, resgatando-o do combate e despachando-o para casa.
Esta situação fictícia dá o tema para um dos filmes mais incisivos e realistas sobre a II Guerra Mundial, talvez o melhor de todos.
 Pouco antes do inferno: o Sgto. Horvath (Tom Sizemore) e o Cap. Miller (Tom Hanks) numa lancha de desembrque, rumo à Normandia, no dia-D, 6 de junho de 1944.

O filme O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan, EUA, 1998, 170 min.) foi produzido por um grupo liderado por Ian Bryce, teve a direção de Steven Spielberg e a consultoria de Stephen Ambrose, falecido em 2002, autor de diversos livros sobre a história dos EUA e sobre a II Guerra: Band of Brothers, Azul Sem Fim, O Dia D, e outros.
Durante as filmagens, os atores foram levados a passar por algumas experiências para sentirem melhor como viviam os soldados americanos na II Guerra: durante 10 dias, tiveram que dormir em barracas e se alimentar com as rações enlatadas servidas como alimento-padrão aos soldados do front.  E tudo isto sob a orientação de um autêntico capitão da reserva dos fuzileiros dos EUA, que ministrou ao elenco um treinamento básico de combate.
Dezenas de veteranos sobreviventes das ações mostradas no filme foram entrevistados e tiveram suas experiências reais registradas como subsídio para o filme.
A película recebeu seis indicações para o Oscar de 1999 e foi escolhida em cinco: melhor diretor para Steven Spielberg, fotografia, edição, edição de som e  som. Além disto, recebeu também o Globo de Ouro como melhor filme e melhor diretor,  o Bafta britânico como melhor filme, efeitos especiais e som, e o troféu Grammy pela trilha sonora de John Williams (Star Wars). No Japão e na França, foi premiado como o melhor filme estrangeiro. Acho que não tiveram coragem de premiar mais uma vez o já agraciado Tom Hanks.
O filme retrata alguns dos momentos mais cruciais da guerra, sem a “pasteurização” que torna os vencedores bonzinhos, deixando os atos impiedosos para os “bad guys”.
As cenas que mostram a fúria dos soldados americanos contra os alemães que massacraram seus companheiros minutos antes, no desembarque na praia francesa de codinome Omaha, são um exemplo desta crueza.
A sequência do desembarque é de extrema violência, mas acreditem, todas as tomadas são reproduções de fatos reais. O diretor montou um  mosaico com as lembranças dos veteranos que estiveram presentes ao desembarque real na costa da Normandia, em 6 de junho de 1944. Assim, ao assistir ao filme, cada um dos verdadeiros protagonistas acabou vendo em determinado momento uma ou mais cenas que ele mesmo viu acontecerem naquele dia. Quem leu as obras de Richard Collier, Cornelius Ryan e Stephen Ambrose sobre o assunto poderá ver coisas familiares.
Mas, passada o angustiante desembarque, vemos o jovem capitão da infantaria americana John Miller (Tom Hanks), incumbido de formar um grupo de combate para cumprir a missão de localizar e resgatar o jovem James Ryan (Matt Damon), no interior de uma França que virou terra-de-ninguém, sem fronteiras definidas, onde se pode topar com um inimigo a qualquer momento e em qualquer lugar.
Como prêmio por esta missão, eles também serão mandados de volta para suas casas, o que aumenta de forma substancial a sua motivação.
Os diálogos soam muito autênticos, como se esperaria ouvir de soldados reais, sem as patriotadas e romantismos de alguns filmes deste gênero. 

 Grupo em marcha: o caubói grandalhão Reiben (Edward Burns) vai à frente, empunhando o pesado B.A.R.

As aventuras em que o grupo de resgate se envolve fazem o deleite dos apreciadores de filmes de guerra. Pode-se ver uma amostra de diversos tipos de ações que podem ocorrer numa guerra, e os soldados se mostram um grupo bastante heterogêneo, cada um com características bem definidas.
O sargentão Horvath (Tom Sizemore), veterano de diversas campanhas, que guarda na sua mochila latinhas com terra dos lugares onde esteve combatendo, é  como um irmão mais velho que cuida de todos, inclusive do seu capitão.
O atirador de elite e devoto Jackson (Barry Pepper ) usa um rifle com luneta e, ao disparar, reza para que o Senhor guie seus tiros.
O soldado Mellish (Adam Goldberg) faz questão de dizer na cara de cada prisioneiro alemão que é “juden” (judeu, em alemão).
O soldado Caparzo (Vin Diesel) é guiado pelas suas emoções, como um bom ítalo-americano.
Para alguma eventualidade, ainda levam o dedicado oficial-médico Irwin Wade (Giovanni Ribisi). 
E não podia faltar o cabo burocrata e meio moita Upham (Jeremy Davies), excelente com uma máquina de escrever, mas pouco afeito às escaramuças do combate. Faz tudo para ficar de fora desta boca pobre, mas como fala francês e alemão, tem escalação garantida.
Uma coisa que chama a atenção é a preocupação com a autenticidade dos detalhes: as armas inclusive. Nota-se que, como de costume nos grupos de combate do exército americano, o soldado grandalhão Reiben (Edward Burns) carrega o B.A.R. (Browning Automatic Rifle), uma arma automática, grande e pesada, que não era para qualquer um.
E de aventura em aventura, vão aprendendo duras lições sobre a guerra: neste mundo caótico, atos piedosos podem ter resultados desastrosos, a bravura pode ser castigada com uma morte estúpida, e a covardia pode ser a chave para o heroísmo.
Mas, talvez a mais cruel e presente dessas lições seja: o inimigo que você poupar pode ser aquele que o matará!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

ENEM: A PROVA DO DESCASO

As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação. O objectivo básico do desenvolvimento é criar um ambiente habilitador para que as pessoas tenham vidas longas, saudáveis e criativas. Isto pode parecer uma verdade simples. Mas é frequentemente esquecido, com a preocupação imediata de acumulação de bens e riqueza financeira. (Citação no primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano do PNDU (Plano das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em 1990.)

Alunos estudam, se preparam para uma prova que pode influenciar no seu futuro e ao final, as coisas não são decididas numa sala de aulas, mas na justiça!
Este é o triste espetáculo que vemos (mais uma vez) na prova do ENEM.
Erros, apontados e reconhecidos, inclusive pela gráfica responsável, que assumiu a responsabilidade, ao contrário do órgão governamental, que aconselha os alunos a procurarem seus direitos através de recursos administrativos ou legais.
Da vez passada, foi o vazamento das provas, na própria gráfica, que não era a mesma de agora.
Desta vez, foram erros na impressão, que passaram por todos e chegaram até aos alunos.
Os responsáveis ainda insistem em não anular uma prova tão cheia de irregularidades, que claramente representou um problema a mais para os alunos. E foi um prejuízo desigual, pois em algumas salas, a orientação sobre os erros chegou atrasada e de forma confusa e em outras nem chegou.
Sobre os comentários do chefe da nação, quando interpelado pela imprensa, eu nem quero comentar, pois não quero falar palavrões. Para ele, nada aconteceu, e foi tudo muito bem. É compreensível, para alguém que nunca passou por situação semelhante...
Na TV, o ministro da EDUCAÇÂO, ao invés de assumir e corrigir o erro, fala sobre como vai convencer os juízes de que não é necessário anular esta prova, já que diversos alunos estão entrando com recursos na justiça, pedindo a anulação. Eu quero ver é como ele vai convencer os milhares de alunos prejudicados pela incompetência de sua equipe... 
Quando um país cheio de recursos naturais como o Brasil abre mão de investir maciça e seriamente na EDUCAÇÃO, está abrindo mão do DESENVOLVIMENTO!
A última avaliação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas) de 2010 colocou o Brasil em 73º lugar. Pela avaliação anterior, estávamos em 77º, mas esta aparente "melhoria" talvez se deva a uma mudança na metodologia de avaliação.
Se houve algum reprovado nestas provas, foi a política educacional brasileira!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

HISTÓRIA: QUILOMBO DOS PALMARES

Quilombo era o nome genérico dado à comunidades marginais formadas no Brasil colonial por escravos que logravam escapar das fazendas e engenhos onde serviam como mão-de-obra. Os quilombos de que se tem conhecimento eram na maioria situados no Nordeste.
O  maior de todos foi o Quilombo dos Palmares,  situado na serra da Barriga, no atual estado de Alagoas. Este povoamento existiu por mais de um século.
No fim do século XVI, as aldeias que formavam Palmares ocupavam uma área de palmeirais que se estendia do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, até a atual cidade de Penedo, às margens do Rio S. Francisco, no estado de Alagoas.
Por ocasião das invasões holandesas do Brasil (1624-1625 e 1630-1654), muitos proprietários de terras fugiram de suas propriedades, e os escravos aproveitaram para buscar também refúgio, não dos holandeses, mas de seus próprios senhores.
Em consequência disto, registrou-se um crescimento da população em Palmares, que passou a formar diversos núcleos de povoamento, chamados mocambos. Os principais foram:
Macaco, espécie de capital do quilombo, com cerca de 1.500 casas;
Subupira, que era o centro das atividades militares, com cerca de 800 casas;
Zumbi e  Tabocas eram aldeias menores.
Historiadores estimam que, em 1670, a população local era de cerca de vinte mil pessoas.
Essa população sobrevivia graças à caça, à pesca e à agricultura. Também, havia  o artesanato para consumo local: (cestas, tecidos, cerâmica, metalurgia). Os excedentes eram comercializados com as populações vizinhas, de tal forma que colonos chegavam a arrendar terras para plantio e a trocar alimentos por munição com os quilombolas. Portanto, havia um fluente intercâmbio comercial entre o quilombo e as povoações vizinhas.

 Vista da linda região da Serra da Barriga, nas Alagoas, onde atualmente existe um parque temático sobre o quilombo. (Foto: Google Earth)

Pouco se sabe sobre a organização política no quilombo. Alguns historiadores afirmam que se constituiu ali um verdadeiro estado, nos moldes dos reinos africanos, sendo os diversos mocambos governados por oligarcas sob a chefia suprema de um líder.
Outros historiadores apontam para a possibilidade de uma descentralização do poder entre os diferentes grupos, pertencentes à diversas etnias que formavam os núcleos de quilombos, que delegariam esse poder a lideranças militares, conforme o seu prestígio. As lideranças mais notáveis foram Ganga Zumba e seu sobrinho, Zumbi. Como de costume na África, havia a discriminação entre as tribos e a prática da escravidão.
Com a expulsão dos holandeses do nordeste do Brasil, voltaram os senhores de terras a ocupar suas propriedades originais, e houve a retomada de produção dos engenhos de açúcar da região. Dado o elevado preço de novos escravos africanos, o governo colonial foi pressionado pelos senhores de engenho a atacar Palmares, visando a recaptura de seus integrantes.
Em carta à Coroa Portuguesa, um Governador-geral reportou que os quilombos eram mais difíceis de vencer do que os holandeses.
Foram necessárias, ao todo, cerca de dezoito expedições, organizadas desde o período de dominação holandesa, para erradicar definitivamente o Quilombo dos Palmares.
No último quarto do século XVII, o líder do quilombo era um rei chamado Ganazumba, que no dialeto kimbundu significa "grande senhor". Mas entre os portugueses, acabou virando "Ganga Zumba". Ganga Zumba tinha as prerrogativas de um verdadeiro rei africano, com toda uma infraestrutura de apoio e criadagem inerentes ao seu cargo. Em 1677, Fernão Carrilho, enviado pelo governador de Pernambuco, ofereceu a Ganga Zumba um tratado de paz, que na verdade era bem desvantajoso para os quilombolas. Por seus termos, era oferecida a liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras inférteis na região de Cocaú, desde que passassem a ser devolvidos os escravos fugitivos que procurassem refúgio na comunidade. Este acordo na realidade não fora autorizado pelo governador, e sim proposto por iniciativa de Carrilho. Mas, foi aceito por Ganga Zumba, que chegou a enviar seus três filhos e doze de seus chefes menores ao Recife, onde foi feita a celebração. Porém, na realidade, a maioria dos quilombolas rejeitou os termos desse acordo, inclusive porque tirava a chance de fuga de parentes ainda escravizados. Houve forte dissidência e Ganga Zumba foi envenenado, subindo ao poder o seu irmão, Ganga Zona, moderado e aliado dos portugueses. O acordo foi rompido, e os os dissidentes acabaram dando um golpe e assumindo o poder em Palmares, colocando no trono Zumbi, filho de Ganga Zona.
Zumbi fora capturado ainda menino, durante uma incursão de Brás Rocha Cardoso contra o quilombo, e entregue ao padre católico Antonio Mello, que o batizou com  o nome cristão de Francisco. Ele foi criado, alfabetizado e educado na paróquia de Porto Calvo, aprendendo inclusive latim, e tornou-se coroinha nos serviços religiosos.
Mas, com pouco mais de 15 anos, fugiu e retornou à suas origens, reencontrando seus parentes no quilombo. Lá, logo se destacou pela sua iniciativa e por seus conhecimentos, acabando por liderar os dissidentes que derrubaram seu pai.
No primeiro momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva pela guerrilha, com a prática de ataques de surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos.
Após várias investidas infrutíferas contra Palmares, o governador e Capitão-general da capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, contratou o bandeirante Domingos Jorge Velho e o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.
O quilombo passou a ser atacado pelos bandeirantes que, mesmo experientes na guerra de extermínio contra os índios, tiveram grande dificuldade em vencer as táticas dos quilombolas, melhor organizados que os indígenas. Além disso, não foram bem recebidos pelos colonos da região, vítimas de saques dos bandeirantes em diversas ocasiões.
Em janeiro de 1694, após um ataque frustrado, as forças dos bandeirantes iniciaram uma campanha vitoriosa, com um efetivo de seis mil homens bem armados, apoiados inclusive com artilharia.
Um quilombola, Antônio Soares, foi capturado e torturado, até que, mediante a promessa de Domingos Jorge Velho de que seria libertado, revelou o esconderijo do líder.
Zumbi foi finalmente encurralado e morto em uma emboscada, em 20 de novembro de 1695.
A cabeça de Zumbi foi cortada e conduzida para Recife, onde foi exposta em praça pública, no alto de um mastro, para intimidar os escravos que pretendessem fugir.
Sem a liderança militar de Zumbi, o quilombo se desfez, no ano de 1710.
Entretanto, sobreviventes se reuniram em comunidades menores e mais discretas, e algumas delas existem até hoje, habitadas por descendentes dos quilombolas originais. Cajá dos Negros, no município de Batalha, no estado de Alagoas, é uma delas.
A constituição brasileira de 1988 estabeleceu, no seu artigo 68, Título X, que tais descendentes tem o direito de posse das terras que ocupam, nos seguintes termos:

TÍTULO X
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

É interessante notar que:
Mesmo nos quilombos, havia a prática da escravidão de membros de etnias diferentes, costume trazido da África, onde até hoje ainda há hostilidade entre tribos.
Ao contrário do que diziam lendas antigas, Zumbi nunca foi escravo, nem se suicidou, mas nasceu livre e foi morto pelos bandeirantes.
Não houve o extermínio nem captura total dos habitantes, pois muitos escaparam e se refugiaram, internando-se em regiões mais remotas, em comunidades menores. O governo julgou não valer  a pena gastar com novas expedições para erradicar esses núcleos residuais, o que permitiu a sua sobrevivência.
Cabe ainda registrar que, no município alagoano de União dos Palmares, situado na mesma Serra da Barriga, a 70 km de Maceió, foi criado em 2007 o Parque Memorial  Quilombo dos Palmares, um parque temático sobre a história do quilombo.