As manifestações de
protesto começaram aparentemente reivindicando contra o aumento do
preço de passagens de ônibus em diversas capitais brasileiras. Mas,
desde o início, parecia haver uma articulação, a se julgar pela
simultaneidade dos movimentos.
Multidão nas ruas de Niterói: cenas semelhantes ocorreram em maios de 80 cidades pelo Brasil afora. Estima-se que um total de mais de um milhão de pessoas foram às ruas. (Foto: O Globo)
E, aos poucos, as
faixas ostentadas pelos manifestantes começaram a mostrar que os
aumentos de passagens foram apenas a gota d'água que transbordou o
cálice. Havia muito mais coisas por trás do movimento, uma
verdadeira revolução branca, causada por diversos fatores que
causaram insatisfação:
os gastos astronômicos
de eventos como copa do mundo e olimpíadas, enquanto faltam recursos
e itens básicos nas áreas de saúde e educação;
a insistência dos
políticos em legislar a favor da manutenção da impunidade,
quando o povo pede justamente o contrário;
a inflação crescente,
ameaçando a estabilidade conseguida com o Plano Real, sem uma ação
mais efetiva do governo;
a tentativa do
legislativo de se sobrepor aos julgamentos do judiciário;
a proposta de retirar
do Ministério Público o poder de realizar investigações
criminais, limitando esta atividade exclusivamente às polícias (PEC
37);
e a incoerência de
indivíduos condenados em última instância assumirem cargos
políticos e até integrarem comissões dentro do legislativo;
o excesso de ministérios (39) que servem apenas para negociar cargos entre partidos aliados, em troca de apoio;
os frequentes casos de corrupção e desvios do dinheiro publico.
E, rapidamente, o
movimento foi se alastrando por todas as capitais e cidades maiores
do país, levando às ruas um número inédito de pessoas
protestando. E aí, alguns fatos transpareceram, como a falta de
definição dos protestantes quanto às prioridades das suas
reivindicações, e a omissão quase geral dos governantes
municipais, estaduais e federais.
Em Salvador, um ônibus incendiado por vândalos: como ocorreu em todas as capitais, ao final das passeatas, desordeiros entraram em ação, manchando a natureza pacífica dos protestos. (Foto: O Globo)
Uma das coisas mais
positivas deste movimento foi o fato de repudiar a adesão de
partidos políticos aproveitadores, que tentaram se infiltrar nas
passeatas com suas ridículas bandeiras, prontamente rasgadas pelos
verdadeiros manifestantes.
Nas maiores cidades, as tarifas foram reduzidas, atendendo o que parecia ser a reivindicação do movimento, entretanto as manifestações continuaram inflamadas, com outras motivações...
Agência bancária atacada: uma constante ao final de todas as passeatas (Foto: O Globo)
Com o país cheio de
jornalistas internacionais que vieram cobrir a Copa das Confederações
de futebol, uma semana de passeatas e conflitos sem nenhuma
declaração da chefe de estado deve soar estranho para as nações
do primeiro mundo. Em qual país aconteceria algo semelhante?
Lições a serem
aprendidas:
- Pode-se enganar a alguns o tempo todo, ou a todos por algum tempo, mas é difícil enganar a todos por todo o tempo! Até os deslumbrados e inertes brasileiros perdem a paciência com tanto abuso e humilhação, quando a vontade expressa do povo é desconsiderada e desrespeitada pela insensibilidade dos políticos e governantes.
- A maioria das manifestações populares começa de forma ordeira e pacífica, liderada por pessoas apartidárias, conscientes e comportadas, fazendo justas reivindicações, e termina com confrontos, quebra-quebras e saques, promovidos por bandos de vândalos, desordeiros e até ladrões e saqueadores.
- Os mentores do movimento não tem nenhum poder nem meios de reprimir os vândalos, desordeiros e ladrões infiltrados na multidão. Como identificar alguém num grupo de 40.000 pessoas?
- Se nossos eleitores tivessem mais consciência e exigência ao escolher seus candidatos, talvez não tivesse legitimado alguns mandatos inadequados, e essas passeatas seriam desnecessárias...
A esperança é de que se aprenda a protestar no lugar certo...
(Foto: Rufano Bombo)
Por enquanto, o único
ato concreto da nossa presidente foi adiar a sua viagem ao Japão...
Aguardemos o que vem
por aí...