FRASE:

FRASE:

"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

UM PROBLEMA MAIS DIFÍCIL...

Se o que eu li está certo, de acordo com a legislação vigente, ser usuário de drogas não é crime.
Ou seja: se alguém for um consumidor habitual de drogas, e for apanhado com uma quantidade estabelecida como "para uso pessoal", não estará cometendo nenhum crime! Não vou contestar esta situação, pois é um fato consumado e há argumentos a seu favor. O dependente de drogas é na verdade um paciente a ser tratado. Mas, um tratamento para a dependência de drogas precisa da cooperação do paciente, o que geralmente é o mais difícil de se obter.
A verdade é que são os consumidores que sustentam todo o imenso esquema do tráfico de drogas! Quando alguém compra drogas, está se tornando uma das minúsculas mas numerosas engrenagens que mantém esta gigantesca máquina em funcionamento.
Agora, vejamos os últimos números, publicados hoje pelo jornal carioca O DIA ONLINE sobre as apreensões de armas e drogas no complexo de favelas do Alemão, um dos principais centros do tráfico de drogas do Rio:
"A Secretaria de Segurança Pública divulgou, nesta terça-feira, o balanço das apreensões em dois dias de ocupação no Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, Zona Norte. Foram encontradas 33 toneladas de maconha, 235 kg de cocaína, 27 kg de crack, 1406 frascos de lança perfume, além de 135 armas."
Notem que as buscas por drogas, armas e materiais em poder dos traficantes apenas começaram. As drogas apreendidas já estão sendo levadas para os fornos da CSN para serem incineradas imediatamente (Isto é importante, antes que tomem outro caminho e sumam!).
Mas, para que se tenha uma idéia melhor das dimensões envolvidas, vejam este trecho de uma nota sobre o Complexo do Alemão, publicada pela Agência Estado em 27/06/2007:
"O Complexo do Alemão está localizado na zona norte da cidade do Rio, com população estimada em 300 mil habitantes. Um terço desses moradores tem renda menor que um salário mínimo. É formado por 13 favelas distintas: Morro Alemão, Grota, Nova Brasília, Alvorada, Alto Florestal, Itararé, Morro Baiana, Morro Mineiro, Morro da Esperança, Joaquim de Queiroz, Cruzeiro, Morro das Palmeiras e Morro do Adeus. Se encontram na Serra da Misericórdia, parte central da região da Leopoldina, abrangendo uma área compreendida por cinco bairros, Inhaúma, Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha."



Combater os traficantes pode ser mais fácil do que resgatar os usuários de drogas.


Agora, vejam o tamanho do problema: até a este momento, apenas uma pequena parte desta grande comunidade foi vasculhada e a quantidade de drogas já se mede em toneladas!
Quando as buscas forem mais abrangentes, é de se esperar que estes números aumentem e aí eu pergunto: se realmente a espinha dorsal do tráfico de drogas for quebrada, como ficarão os que consomem esta imensa quantidade de drogas?
Alguém, de alguma forma, irá ocupar o espaço e atender às necessidades urgentes dos consumidores, órfãos dos traficantes  desabastecidos! E então? 
A expectativa é de que as drogas alcançarão preços bem mais altos, o que significa que os usuários não-abonados terão que roubar bem mais do que apenas um cd-player para pagar pela sua dose! Os outros terão que gastar um pouco mais da mesada.
Para mim, o pior mal das drogas é este: as pessoas aparentemente inofensivas que, sem andarem portando fuzis AR-15 ou AK-47, nem pistolas de 9 mm ou .40" fazem "a sua parte" no esquema do tráfico, como consumidores/financiadores.
Alguém já imaginou se um dia ninguém ligasse para o disque-drogas ou ninguém aparecesse na boca de fumo para comprar aquela imundície?  De que serviriam essas toneladas de drogas se não houvesse consumidores?
Por enquanto, podemos apenas esperar que, até que os estoques perdidos sejam repostos, os fornecedores de drogas ainda intocados em outras comunidades vão corrigir seus preços!

Algo tem que ser feito para resgatar os usuários de drogas, mas este é um problema  ainda não resolvido que tem alcance em escala global: as drogas atingem indiscriminadamente países ricos e pobres, e abrangem todas as faixas sociais, contaminando desde pessoas bem-sucedidas como astros da música, atletas famosos e atores de Hollywood até aos indigentes que dormem nas calçadas e becos.
Enquanto existir alguém disposto a pagar para ter alguma coisa, aparecerá sempre outro que fará o que for necessário para atende-lo. Infelizmente, tanques e fuzis podem botar qualquer bandido para correr, mas não parecem capazes de mudar isto!

7 comentários:

  1. É isso aí Leonel,
    Todos devemos botar a boca no trombone. Se não podemos fazer efetivamente mais que isso, pelo menos mostramos nossa indignação. Indignação que deveria ser de todos. Estou 100% contigo. Abraços, JAIR.

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  2. - Operaçõea policiais do porte desta devem ser complementadas por uma ação social igualmente bem planejada e executada. Esperemos que isso seja feito em seguida. Valeu, amigo!

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  3. Quero crer no que o Rodolfo comentou, porque seria o ideal... Mas tenho cá muitas dúvidas de até onde se vai chegar pra resolver tal problema.

    Resta-nos a indignação (bem lembrada pelo Jair) e a torcida pra que esse quadro pintado há tanto tempo, um dia se apague.

    Mandou bem demais no post, pra variar.
    Beijos.

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  4. Li e reli esse texto e fiquei a refletir... O que se pode fazer?
    Eu sou a favor da legalização, embora,saiba, que há um grande caminho a ser percorrido até lá, com cultura e educação. Mas, acredito que só assim, se poderá tratar usuário, como dependente e doente e bandido como bandido.
    No mais " eu vou torcer pela paz!"
    Belo post e como sempre, muito coerente!
    Abraços do outro lado da ponte!

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  5. Agradeço os comentários inteligentes e maduros de todos.
    Minha teoria é de que problema é realmente muito difícil, senão nações mais desenvolvidas já o teriam resolvido. Sei que há países que já legalizaram o consumo de drogas, numa tentativa de pelo menos impedir o tráfico. Outros aplicam pena de morte para qualquer posse de drogas, independente de ser traficante ou consumidor. Mas parece que nenhum conseguiu realmente modificar a condição dos dependentes, exceto nos mesmos percentuais de recuperação que sabemos não serem ainda satisfatórios.

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  6. Oi, Leonel! Óia eu aqui de novo... esse texto mexeu muito comigo, acho que poucos aqui sabem, mas eu vejo isso bem de perto, a dependência, pois sou de um projeto que visita guetos, morros, como esse do Complexo, do "INPS" na Ilha, do Dendê, e outros, para auxiliar, oferecendo tratamento aos usuários QUE DESEJAM, se curar. Os percentuais não animadores,não, é verdade. Não inventaram ainda, remédios para curar a dependência, mas, que auxiliam, a cura depende 80% da vontade do usuário.Mas, devemos lembrar que eles são doentes, que por causa das drogas perdem totalmente a identidade e se transformam em abjetos.

    É maravilhoso ler esse texto, pois no dia à dia, fazemos de conta que tais coisas nem existem,né?
    Adorei muito!

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  7. Na primeira vez que ouvi falar em legalização, eu fui contra de cara! Mas, com um conhecimento melhor do problema e lembrando exemplos históricos como o da Lei Seca dos EUA(e os efeitos da sua criação e do seu fim), a atitude mundial em relação à publicidade dos cigarros (sem torna-los ilegais) e as consequências às vezes trágicas do alcoolismo, começo a pensar se campanhas esclarecedoras para o público, inclusive nas escolas, e ações sociais (não demagógicas) junto aos bolsões de pobreza talvez permtissem a liberação das drogas, para golpear de morte o tráfico. Afinal, não há tráfico de cigarros nem de bebidas, e estas duas drogas são responsáveis por muitas mortes e danos sociais. Se fossem proibidas, sem dúvida teriamos traficantes de bebidas e cigarros.
    O consumo de cigarros caiu no Brasil apenas com as campanhas de esclarecimento. E é uma das drogas mais viciantes de que se tem notícia. Meu pai "parou de fumar" por diversas vezes, até a vez definitiva, quando deixou este mundo...

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