Os inusitados acontecimentos esportivos de ontem tiveram pelo menos o efeito de me tirar das minhas férias prolongadas para comentar também.
No dia 6 de agosto de
1945, uma bomba de potência inusitada foi lançada sobre a cidade
japonesa de Hiroshima, destruindo praticamente a cidade e matando
mais de cem mil pessoas. Foi seguida por outra, três dias depois,
desta vez em Nagasaki, elevando o total de vítimas para mais de
duzentas mil.
Embora tenha sido um ato
discutível, pois alguns historiadores alegam que a rendição do
Japão seria só questão de mais uns dias, com ou sem bombas
atômicas, este evento é considerado o marco que determinou o fim da
II Guerra Mundial.
A história mostrou que,
mais do que isto, a bomba estabeleceu um divisor de águas na imagem
do Japão e nas atitudes da própria nação em relação ao resto do
mundo. Apesar da figura simbólica existente até hoje do imperador,
o Japão da primeira metade do século passado era na verdade
dirigido por um regime militarista e belicoso, que acabou por
lança-lo em campanhas de conquista sobre seus vizinhos continentais
e até mais além, envolvendo os EUA.
Após a bomba, veio a
rendição e uma reformulação que atingiu o regime de governo e a
política interna e externa, tornando o Japão no que é hoje, a
terceira maior economia mundial e o décimo país em Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Seus maiores investimentos revertem em
benefício do bem-estar do seu povo, e sua política externa é
voltada para as soluções pacíficas.
Mas, porque esta aulinha
de história?
O Brasil de joelhos diante da Alemanha...
(foto: sportv.globo.com)
Bem...No Brasil, parece
que há momentos em que a coisa mais séria é o futebol.
Entenda-se: num país
onde as coisas públicas básicas, como a educação, a saúde, o
abastecimento, o transporte e a segurança costumam estar sempre
abaixo da crítica, e para aumentar a desesperança, sabe-se que há
recursos em quantidade sendo desperdiçados, mal empregados e até
roubados, uma das poucas coisas que dá satisfação a um brasileiro
de qualquer camada social é o futebol.
É ali, na arquibancada
de um estádio ou na frente da TV que o cidadão se realiza,
principalmente quando vê sua seleção recordista de títulos
reafirmar seu domínio sobre as equipes de nações bem mais
desenvolvidas, com vitórias emblemáticas.
Pois bem! O dia 08 de
julho de 2014 bem que poderia ser a Hiroshima do futebol e talvez até
mais além!
Neste dia, foi arrancada,
pisoteada e esmagada a única paixão e consolo do brasileiro comum.
Quando uma nação que se
intitula "o país do futebol" patrocina a mais dispendiosa
competição mundial da história e sofre em sua própria casa uma
derrota tão humilhante quanto indiscutível, não há dúvida de que
alguma coisa está muito errada!
Má notícia para o Brasil: o desenvolvimento
econômico e social influencia cada vez mais todas as atividades,
inclusive as esportivas.
Isto é claramente
visível quando vemos que quase a totalidade dos atletas da seleção
vem de clubes do exterior, até mesmo de países sem tanta expressão
futebolística.
Não vou enumerar as
coisas erradas que existem na estrutura do futebol brasileiro. Creio que são apenas extensão das coisas incoerentes e absurdas que
acontecem em áreas mais relevantes da nossa Pindorama.
Oremos para que pelo
menos esta humilhação futebolística sirva para ajudar um pouco o
processo de despertar a consciência do cidadão brasileiro para o
fato de que tudo tem interações, e que, para nosso desconforto,
será cada vez mais difícil se manter na vanguarda de qualquer
atividade sem ter uma conduta acertada em outras coisas básicas.
A Alemanha em campo foi
uma projeção da Alemanha como nação: coletiva, organizada,
disciplinada, séria e dedicada.
O Brasil também:
passional, cheio de garra, individualismo e pouca inteligência.
Mas, claro que agora,
ao invés de ir fundo na ferida, será mais fácil culpar Felipão, Fred ou David Luiz...