Este texto foi escrito antes que eu possuísse um blog, mas a questão ainda permanece, por isto, achei válido publica-lo, adaptando algumas coisas à situação atual. Meu amigo Barcellos provavelmente vai reconhecer alguns trechos, que eu enviei a ele por e-mail, acho que no início de 2010.
Agora, que me foi concedida a graça de viver no futuro, tendo à disposição recursos que na minha juventude pertenciam aos domínios da ficção científica, além do antes escasso tempo, resolvi sair à cata de lembranças do meu passado, coisas que povoavam a minha mente quando eu não tinha tempo nem recursos.
Assim, sai atrás de saber como realmente aconteceram coisas das quais ouvi falar, ver filmes que eu não pude assistir por serem “proibidos até 18 anos”, e gravações que eu não podia mais ouvir por estarem em desgastados discos de vinil, ou que simplesmente nunca mais foram reeditadas no nosso país.
Já tenho um bom acervo de anúncios nacionais e americanos publicados em revistas (tem um muito interessante, dos cigarros Camel, onde se diz que é o cigarro preferido por 9 entre 10 médicos, que já foi assunto no meu blog -
veja aqui).
Muito se discute a respeito da legalidade de se baixar arquivos de filmes ou de músicas através dos sites p2p e ferramentas como bit torrent.
Ano passado, os jovens suecos mentores de um site (ainda no ar) sugestivamente chamado “PIRATE'S BAY”, foram condenados por uma corte sueca, instaurada por iniciativa de gravadoras supostamente prejudicadas. Claro, tem direito à apelações e a coisa ainda vai rolar.
Mas, por enquanto, ninguém pode ser acusado de baixar um arquivo cedido por outra pessoa.
Desde que passei a receber salários, um ritual que eu costumava cumprir na primeira folga após o pagamento era, após pagar minhas contas, passar em algumas casas de venda de discos e adquirir de 2 a 3 LPs (hoje chamados bolachões). Quando morava no Nordeste e viajava para o Rio, eu fazia a festa, pois aqui sempre tinham mais gravações, e eu nunca voltava de mãos vazias, sempre trazia mais alguns LPs.
Pois bem! Nesta batida, depois de algum tempo, eu tinha uma pilha de LPs da minha altura! Tinha tudo, pois meu gosto era bem abrangente: Beatles, Creedence, Santana, Ray Conniff, Lawrence Welk, Billy Vaughn, Dionne Warwick, Roberto Carlos, Renato e seus Blue Caps, Frank Sinatra, Simonal, Jorge Ben, Eydie Gorme, etc...etc...
Bem, aí, comprei um carro, e comecei a passar as músicas para fita cassete, para poder ouvir no toca-fitas (lembram?). Mas, os discos já estavam arranhados e a gravação não ficava tão legal. Assim, eu passei a comprar menos vinil e mais cassetes. Finalmente, surgiram os tais Cds a laser.
Só para encurtar o papo: eu ainda tenho um LP, o Cassete e o CD da Eydie Gorme e Trio Los Panchos com exatamente as mesmas músicas! Será que eu já não paguei 3 vezes pelo mesmo direito de ouvir estas músicas da forma e na mídia que eu quiser? E os LPs, que ficaram arranhados e obsoletos (dei caixas e caixas deles para um tio da minha mulher), seria considerado pirataria baixar as mesmas músicas em mp3 para meu uso pessoal? Sinto muito, mas eu já fiz isto, e baixei praticamente toda a minha discoteca original!
É muito amor (ou breguice)! O LP, o Cassete e o CD de Eydie Gorme e Trio Los Panchos: Todos tem as mesmas 12 faixas e são rigorosamente iguais. Mudou apenas a mídia! Será que a CBS já não lucrou bastante à minha custa?
(foto do arquivo pessoal do autor)
Muitos destes álbuns nunca mais foram relançados no Brasil. Se dá prejuízo para estas gravadoras o intercâmbio destas gravações pela internet, por que então não acharam válido relança-los? Quando eu tinha os Lps em vinil e gravava em fita cassete para meus amigos que gostavam de algumas músicas, estava fazendo pirataria? Nunca ganhei um tostão com isto!
Aliás, eu acho que já era pirata desde criança, pois na minha infância, o “Napster dos Gibis” era uma esquina, onde nós garotos sentávamos sob uma árvore para trocar os gibis que já haviamos lido pelos gibis dos outros. Imagine só, ao invés de comprar todos os gibis, nós, fraudalentamente, trocavamos entre nós gibis que deviam ser lidos apenas por quem os comprou! Éramos delinquentes infantis!
O mesmo vale para os filmes. As vezes, vejo à venda filmes antigos que eu queria ter. Mas, quando leio as características, esta lá em “formato”: fullscreen! Ou seja, a tela foi recortada, como numa TV 3X4! Porque comprar o filme mutilado, com as laterais da tela cortadas, se o mesmo existe na internet em widescreen?
E, quando alguns filmes antigos são relançandos, minha alegria dura só até ver que não estão em nenhum formato de cinema, mas em 3X4 !
Eu tenho um DVD do filme “Os Brutos Também Amam” (título brasileiro para SHANE). Eu duvido que aquelas paisagens bonitas na amplidão de Montana tenham sido filmadas em 3X4! Mas é o que está lá, na caixa! Desapontador ver o justo e destemido pistoleiro do bem Shane (Alan Ladd) matar o malvado e traiçoeiro pistoleiro do mal Wilson (Jack Palance), ambos apertados em uma tela de 3X4 !
Para mim, pirataria é o que se vê nas ruas das grandes cidades, onde existem em oferta pilhas e pilhas de gravações de filmes que ainda estão entrando em cartaz, e álbuns de músicas que ainda nem foram lançados oficialmente!
Essas gravações geralmente, são pirateadas nas matrizes, por pessoas que trabalham nos próprios estúdios, as vezes antes mesmo da edição final! Isto sim é pirataria!
Tem filmes como Blade Runner, só há uns três anos chegou às revendedoras nacionais. Alguns tem problemas de direitos autoriais que impedem sua distribuição em outros países.
Graças a um parente que mora nos EUA, ganhei uma exemplar especial de O Planeta Proibido (Forbidden Planet, 1954, um ícone da ficção científica), que continua inédito em DVD no Brasil -
postagem aqui.
Acabo de adquirir os filmes em DVD: 1984 (1984, baseado no livro de George Orwell) e Adeus às Ilusões (The Sandpiper, com a divina Elizabeth Taylor e seu inseparável Richard Burton), que finalmente chegaram ao Brasil, por obra e graça de uma nova distribuidora. Mas ainda continua fora dos catálogos o DVD: Enigma de Uma Vida (The Swimmer, drama com Burt Lancaster em atuação magistral -
postagem aqui) além de outros.
E fica a pergunta: se dá prejuízo para as gravadoras e estúdios baixar músicas e filmes antigos, por que eles levaram tanto tempo para coloca-los à venda no nosso país?