FRASE:

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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

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sábado, 20 de novembro de 2010

A ESCRAVIDÃO EDUCACIONAL

"Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida." (provérbio chinês).
A data de 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi, líder  do Quilombo dos Palmares, foi transformada em “Dia da Consciência Negra”, o que me faz pensar: e se alguém resolver criar também o “Dia da Consciência Branca”? Será acusado de racismo? E o “Dia da Consciência Amarela”? Será um complô de orientais?
Eu sei que isto é visto por algumas pessoas militantes e bem-intencionadas como uma espécie de resgate de cidadania, ou uma compensação pelos erros cometidos no passado contra os africanos e seus descendentes, entre os quais também me incluo. Posso estar errado, mas  a essa altura do campeonato, acho um contra-senso ficar enfatizando diferenças raciais. Acho mais adequado acentuarmos cada vez mais a integração dos brasileiros como cidadãos de uma nação cosmopolita, mas unidos em torno de ideais comuns.
Qual o motivo de um dia dedicado a apenas uma suposta etnia, que hoje em dia nem sequer está  assim tão bem definida? Vimos recentemente, num vestibular, um irmão ser considerado "branco" e o outro "negro"! Muitos brasileiros tem parentes com aparência racial bem diversa.
Vejamos os antecedentes: com a abolição da escravidão, os escravos saíram das senzalas nas fazendas para as favelas e calçadas, isto é um fato, pois a abolição foi um ato de improviso e os governos daquela época não criaram nenhum programa para integrar os negros libertos à sociedade civilizada. Desta forma, os negros passaram da condição de animais de propriedade de senhores de fazendas à de mendigos livres, miseráveis, sem teto, sem documentos nem instrução, incapazes de obter empregos que não os reservados aos analfabetos. Sem poder trabalhar em empregos regulares, pela falta de documentos, escolaridade e especialização, viraram serviçais baratos das classes mais favorecidas. Escravos que não precisavam ser alimentados. Sem perspectivas, alguns se entregaram aos vícios e ao crime.
As sequelas deixadas foram irreparáveis. Gerações e gerações foram condenadas à pobreza e o ritmo de ascenção social entre a população negra nunca alcançou a média nacional. Isto num país de abismos sociais imensos, onde esta escalada já é tão difícil para todos os pobres.
Mas, o mal já foi feito, e nenhum revanchismo poderá reparar estas desvantagens. Mesmo porque atualmente, grande parte da população não sabe nem ao certo de que etnias veio o sangue que corre nas suas veias, independente de sua aparência.
Hoje, os descendentes dos escravos estão na sua quase totalidade, diluídos na imensa legião de pobres deste país. Não vejo agora nenhum sentido em recolher um “negro” da calçada e deixar o “branco” que está ao seu lado caído. Não é mais um problema racial, mas, social. E o Brasil é um campeão em desigualdade social!
Algo tem que ser feito para diminuir as diferenças sociais e alguma voz misteriosa me diz que a chave se chama EDUCAÇÃO!
E aí nos deparamos com mais aberrações. Eu acho que a criação de cotas raciais nas universidades não resolve nenhum problema, além de criar outros. Foi apenas mais um ato político demagógico e desastroso, feito por quem não quer resolver o verdadeiro problema: a falta de qualidade do ensino público!
Se a qualidade do ensino público fosse boa, os alunos que cursam escolas públicas poderiam competir por vagas em condições de menos desigualdade com os alunos de escolas particulares. E quem cursa as escolas públicas? Todos os pobres, inclusive os negros, dos quais 99,9% estão incluídos nesta categoria! Nem todos os pobres são negros, mas, quase todos os negros são pobres! Mas o problema não é mais só dos negros, mas dos pobres! A questão não é racial, mas sócio-educacional!
Todos os anos, vejo paralisações nas aulas das escolas das redes públicas, provocadas por greves de professores mal pagos, falta de merenda escolar, falta de carteiras, falta de salas de aula e outros problemas. Em resumo, falta de vontade de realmente elevar o nível da educação. No final do ano, os alunos são aprovados como se nada tivesse acontecido, tudo é ajeitado, ninguém é responsabilizado, e vamos criando mais uma geração de “filhos de pobres”, de baixa escolaridade que terão poucas chances de competir com quem estudou numa escola de verdade!
Aqui no Rio, apareceram até uns “gênios” inventando uma tal “aprovação automática”, ou seja, o aluno passaria para a classe seguinte com ou sem aproveitamento! E assim iria, até ficar tão incapacitado de acompanhar o programa que acabaria desistindo! Mais uma boa forma de maquiar um problema, mascarando suas consequências. Felizmente, parece que as reações impediram a continuação desta idéia de mais um “bonzinho” de plantão!
Mas, investir em educação não dá frutos imediatos, e os louros serão colhidos em outros mandatos políticos, não rendendo votos para os autores do investimento! E, além disso, gente com boa escolaridade teria melhores critérios ao escolher seus candidatos e cobraria atitudes mais coerentes dos políticos que elegeu! Desta forma, nossos governantes acharam melhor investir na demagogia! Esta tem retorno imediato! A forma como foi tratado o recente problema com as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) mostra o habitual descaso com a educação, tradição antiga dos governos deste país.
Alguns acreditam que o nível econômico dos brasileiros melhorou, com a elevação de mais brasileiros para as classes econômicas imediatamente superiores. Mas, quando isto é feito abaixando os números que enquadram a renda destas classes, não há nenhum benefício, apenas estatísticas favoráveis.
Nos últimos anos, a única coisa que realmente beneficiou a todos foi a estabilidade econômica, com o fim da hiperinflação que parecia uma peneira a vazar nossos rendimentos. O que vemos agora são os efeitos do fim daquele pesadelo. Já anda por aí uma nova geração que nem sabe o que são rotuladoras de preços, aquelas máquinas que passavam o dia remarcando produtos nos supermercados!
Quando um país realmente melhora, as pessoas passam a entender melhor o seu próprio papel na sociedade, o significado dos eventos políticos nacionais e a exigir mais de quem recebe procuração para gerir esta imensa massa de recursos que são propriedade de todos.
Esperemos que um dia, algum redentor faça a abolição da escravidão educacional, principal fator a impedir a melhoria da qualidade de vida deste país!
Neste data, esqueceremos as "raças" e celebraremos o Dia da Consciência Nacional...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

HISTÓRIA: QUILOMBO DOS PALMARES

Quilombo era o nome genérico dado à comunidades marginais formadas no Brasil colonial por escravos que logravam escapar das fazendas e engenhos onde serviam como mão-de-obra. Os quilombos de que se tem conhecimento eram na maioria situados no Nordeste.
O  maior de todos foi o Quilombo dos Palmares,  situado na serra da Barriga, no atual estado de Alagoas. Este povoamento existiu por mais de um século.
No fim do século XVI, as aldeias que formavam Palmares ocupavam uma área de palmeirais que se estendia do cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, até a atual cidade de Penedo, às margens do Rio S. Francisco, no estado de Alagoas.
Por ocasião das invasões holandesas do Brasil (1624-1625 e 1630-1654), muitos proprietários de terras fugiram de suas propriedades, e os escravos aproveitaram para buscar também refúgio, não dos holandeses, mas de seus próprios senhores.
Em consequência disto, registrou-se um crescimento da população em Palmares, que passou a formar diversos núcleos de povoamento, chamados mocambos. Os principais foram:
Macaco, espécie de capital do quilombo, com cerca de 1.500 casas;
Subupira, que era o centro das atividades militares, com cerca de 800 casas;
Zumbi e  Tabocas eram aldeias menores.
Historiadores estimam que, em 1670, a população local era de cerca de vinte mil pessoas.
Essa população sobrevivia graças à caça, à pesca e à agricultura. Também, havia  o artesanato para consumo local: (cestas, tecidos, cerâmica, metalurgia). Os excedentes eram comercializados com as populações vizinhas, de tal forma que colonos chegavam a arrendar terras para plantio e a trocar alimentos por munição com os quilombolas. Portanto, havia um fluente intercâmbio comercial entre o quilombo e as povoações vizinhas.

 Vista da linda região da Serra da Barriga, nas Alagoas, onde atualmente existe um parque temático sobre o quilombo. (Foto: Google Earth)

Pouco se sabe sobre a organização política no quilombo. Alguns historiadores afirmam que se constituiu ali um verdadeiro estado, nos moldes dos reinos africanos, sendo os diversos mocambos governados por oligarcas sob a chefia suprema de um líder.
Outros historiadores apontam para a possibilidade de uma descentralização do poder entre os diferentes grupos, pertencentes à diversas etnias que formavam os núcleos de quilombos, que delegariam esse poder a lideranças militares, conforme o seu prestígio. As lideranças mais notáveis foram Ganga Zumba e seu sobrinho, Zumbi. Como de costume na África, havia a discriminação entre as tribos e a prática da escravidão.
Com a expulsão dos holandeses do nordeste do Brasil, voltaram os senhores de terras a ocupar suas propriedades originais, e houve a retomada de produção dos engenhos de açúcar da região. Dado o elevado preço de novos escravos africanos, o governo colonial foi pressionado pelos senhores de engenho a atacar Palmares, visando a recaptura de seus integrantes.
Em carta à Coroa Portuguesa, um Governador-geral reportou que os quilombos eram mais difíceis de vencer do que os holandeses.
Foram necessárias, ao todo, cerca de dezoito expedições, organizadas desde o período de dominação holandesa, para erradicar definitivamente o Quilombo dos Palmares.
No último quarto do século XVII, o líder do quilombo era um rei chamado Ganazumba, que no dialeto kimbundu significa "grande senhor". Mas entre os portugueses, acabou virando "Ganga Zumba". Ganga Zumba tinha as prerrogativas de um verdadeiro rei africano, com toda uma infraestrutura de apoio e criadagem inerentes ao seu cargo. Em 1677, Fernão Carrilho, enviado pelo governador de Pernambuco, ofereceu a Ganga Zumba um tratado de paz, que na verdade era bem desvantajoso para os quilombolas. Por seus termos, era oferecida a liberdade aos nascidos no quilombo, assim como terras inférteis na região de Cocaú, desde que passassem a ser devolvidos os escravos fugitivos que procurassem refúgio na comunidade. Este acordo na realidade não fora autorizado pelo governador, e sim proposto por iniciativa de Carrilho. Mas, foi aceito por Ganga Zumba, que chegou a enviar seus três filhos e doze de seus chefes menores ao Recife, onde foi feita a celebração. Porém, na realidade, a maioria dos quilombolas rejeitou os termos desse acordo, inclusive porque tirava a chance de fuga de parentes ainda escravizados. Houve forte dissidência e Ganga Zumba foi envenenado, subindo ao poder o seu irmão, Ganga Zona, moderado e aliado dos portugueses. O acordo foi rompido, e os os dissidentes acabaram dando um golpe e assumindo o poder em Palmares, colocando no trono Zumbi, filho de Ganga Zona.
Zumbi fora capturado ainda menino, durante uma incursão de Brás Rocha Cardoso contra o quilombo, e entregue ao padre católico Antonio Mello, que o batizou com  o nome cristão de Francisco. Ele foi criado, alfabetizado e educado na paróquia de Porto Calvo, aprendendo inclusive latim, e tornou-se coroinha nos serviços religiosos.
Mas, com pouco mais de 15 anos, fugiu e retornou à suas origens, reencontrando seus parentes no quilombo. Lá, logo se destacou pela sua iniciativa e por seus conhecimentos, acabando por liderar os dissidentes que derrubaram seu pai.
No primeiro momento, Zumbi substituiu a estratégia de defesa passiva pela guerrilha, com a prática de ataques de surpresa a engenhos, libertando escravos e apoderando-se de armas, munições e suprimentos.
Após várias investidas infrutíferas contra Palmares, o governador e Capitão-general da capitania de Pernambuco, Caetano de Melo e Castro, contratou o bandeirante Domingos Jorge Velho e o Capitão-mor Bernardo Vieira de Melo para erradicar de vez a ameaça dos escravos fugitivos na região.
O quilombo passou a ser atacado pelos bandeirantes que, mesmo experientes na guerra de extermínio contra os índios, tiveram grande dificuldade em vencer as táticas dos quilombolas, melhor organizados que os indígenas. Além disso, não foram bem recebidos pelos colonos da região, vítimas de saques dos bandeirantes em diversas ocasiões.
Em janeiro de 1694, após um ataque frustrado, as forças dos bandeirantes iniciaram uma campanha vitoriosa, com um efetivo de seis mil homens bem armados, apoiados inclusive com artilharia.
Um quilombola, Antônio Soares, foi capturado e torturado, até que, mediante a promessa de Domingos Jorge Velho de que seria libertado, revelou o esconderijo do líder.
Zumbi foi finalmente encurralado e morto em uma emboscada, em 20 de novembro de 1695.
A cabeça de Zumbi foi cortada e conduzida para Recife, onde foi exposta em praça pública, no alto de um mastro, para intimidar os escravos que pretendessem fugir.
Sem a liderança militar de Zumbi, o quilombo se desfez, no ano de 1710.
Entretanto, sobreviventes se reuniram em comunidades menores e mais discretas, e algumas delas existem até hoje, habitadas por descendentes dos quilombolas originais. Cajá dos Negros, no município de Batalha, no estado de Alagoas, é uma delas.
A constituição brasileira de 1988 estabeleceu, no seu artigo 68, Título X, que tais descendentes tem o direito de posse das terras que ocupam, nos seguintes termos:

TÍTULO X
ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

É interessante notar que:
Mesmo nos quilombos, havia a prática da escravidão de membros de etnias diferentes, costume trazido da África, onde até hoje ainda há hostilidade entre tribos.
Ao contrário do que diziam lendas antigas, Zumbi nunca foi escravo, nem se suicidou, mas nasceu livre e foi morto pelos bandeirantes.
Não houve o extermínio nem captura total dos habitantes, pois muitos escaparam e se refugiaram, internando-se em regiões mais remotas, em comunidades menores. O governo julgou não valer  a pena gastar com novas expedições para erradicar esses núcleos residuais, o que permitiu a sua sobrevivência.
Cabe ainda registrar que, no município alagoano de União dos Palmares, situado na mesma Serra da Barriga, a 70 km de Maceió, foi criado em 2007 o Parque Memorial  Quilombo dos Palmares, um parque temático sobre a história do quilombo.