FRASE:

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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

sexta-feira, 30 de julho de 2010

BESSIE, A VALENTE



Conhecida como "Queen Bess" ou "Brave Bessie", Elizabeth “Bessie” Coleman enfrentou o duplo preconceito, racial e de genero, por ser negra e mulher, nos Estados Unidos do início do século XX, mas venceu tudo isto, ao se tornar a primeira aviadora negra dos EUA. 
Elizabeth Coleman nasceu em 26 de janeiro de 1892 em Atlanta, no Texas, filha de Susan e George Coleman. Foi uma das 13 crianças de uma mãe negra com um pai mestiço de índio cherokee com negro.
Quando ainda era muito pequena, sua família mudou-se para Waxahachie, também no Texas. Bessie cresceu lá, alternando entre o trabalho na colheita de algodão e na lavagem de roupas, juntamente com sua mãe.
Sua família, como a maioria dos negros que viviam no sul dos EUA no início do século passado, enfrentava grandes dificuldades para sobreviver, devido à pobreza, segregação, preconceito e à violência racial.
Devido a tais problemas, seu pai decidiu levar sua família para o Oklahoma, para morar em uma reserva indígena, onde ele acreditava que teriam mais chances de levar uma vida melhor. Porém, a mãe de Bessie não aceitou acompanha-lo e permaneceu em  Waxahachie, com Bessie e algumas de suas irmãs.
Bessie era muito dedicada e incansável. Apesar de trabalhar duro, era autodidata e estudava usando livros emprestados por uma biblioteca ambulante. Assim, apesar de faltar muito à escola devido ao trabalho, ela conseguiu aprovação nos exames de graduação do ensino médio.
Candidatou-se e foi aceita na Colored Agricultural and Normal University (atual Langston University), em Langston, no Oklahoma. Mas só cursou um semestre, pois a falta de dinheiro para sustentar-se fez com que tivesse que abandonar os estudos. Em face dos problemas que enfrentava no sul, mudou-se para Chicago, onde já vivia seu irmão Walter. Lá, cursou uma escola de beleza e passou a trabalhar como manicure no salão de uma barbearia.
Bessie começou a se interessar pela aviação ao ler notícias e artigos sobre o assunto. Mas parece que o que definiu mesmo sua vocação foi uma conversa com seu irmão, John.
John esteve na Europa, durante a I Guerra Mundial e enaltecia sempre as qualidades das mulheres francesas, em relação às mocinhas negras do lado sul de Chicago. Contou à Bessie que as francesas “pilotavam até aviões, coisa que Bessie nunca seria capaz de fazer”.
Isto funcionou em Bessie como uma sacudida que a despertou e motivou, e ela partiu na procura por escolas de pilotagem por todo o país, mas naquela época, sendo mulher, isto já seria difícil. Sendo mulher e negra, tornava-se impossível. E ela não achou nenhuma que a aceitasse.
Após esse fracasso, Bessie foi destaque no semanário Chicago Defender, voltado para a população negra, eleita como a melhor manicure da comunidade. Isto a levou a conhecer Robert Abbott, redator do jornal. Ele a aconselhou a economizar dinheiro e mudar-se para a França, que ele acreditava ser a nação mais progressista do ponto de vista racial, e onde ela poderia conseguir sua licença de piloto.
Ela seguiu os conselhos de Abbott, saiu do emprego e começou a trabalhar como gerente de uma lanchonete, ganhando bem mais, enquanto estudava francês à noite. Em novembro de 1920, ela reuniu suas economias e mais alguns dólares cedidos por um amigo e pelo próprio Abbott e pegou um navio para a França.
Lá, matriculou-se na conceituada Escola de Aviação dos Irmãos Caudron, em Le Crotoy, onde aprendeu a pilotar, voando em aviões Nieuport, de fabricação francesa. E em 15 de junho de 1921, com apenas sete meses de curso, recebeu sua licença da mundialmente renomada Fédération Aéronautique Internationale , sendo a primeira mulher americana a faze-lo.
A licença da FAI, com a data de nascimento errada: Bessie costumava diminuir a própria idade.

Após mais dois meses de treinamento, ela retornou aos EUA, em setembro de 1921.
Seu ideia era fundar uma escola de pilotagem para negros. Contudo, mais uma vez sua cor e seu sexo dificultaram seu objetivo. Fazer shows aéreos parecia ser a única saída para ganhar dinheiro, mas para isso, ela precisaria de mais treinamento. Procurou outra vez por escolas de pilotagem nos EUA, mas como nada havia mudado, ela enfrentou novamente uma unânime rejeição.
Determinada, Bessie voltou à Europa em fevereiro de 1922. Depois de aprender novas técnicas e truques de pilotagem, voltou aos EUA.
Em 3 de setembro, ela conseguiu fazer seu primeiro show aéreo, num evento promovido pelo jornal Chicago Defender, do seu benfeitor Abbott, com o objetivo de apresenta-la ao público. O show foi um sucesso, e Bessie se tornou uma celebridade. Ela passou a excursionar pelo país, em exibições, aulas de pilotagem e palestras. Nestes eventos, ela procurava motivar principalmente as pessoas negras de ambos os sexos a aprenderem a pilotar.
Sua fama era tamanha que ela foi convidada a atuar num filme de uma produtora da propriedade de negros da califórnia. Mas, sua carreira terminou antes de começar, quando soube que seu papel seria o de uma caipira que ia para uma cidade grande tentar a vida. Segundo ela, a personagem representava degradação para as mulheres, e ela rescindiu o contrato.
Bessie com traje de voo e capa, no seu avião.

No ano seguinte, ela dava aulas de pilotagem para um publicitário, que lhe ofereceu adquirir para ela um avião, para que ela lançasse panfletos de propaganda. A aeronave era um avião de treinamento JN-4 Jenny, excedente  do exército americano. Em fevereiro de 1923, no seu primeiro voo, o motor do avião parou e ela sofreu um acidente. Retirada inconsciente da aeronave, ela quebrou algumas costelas, uma perna e sofreu alguns cortes no rosto. Levou mais de um ano para se recuperar totalmente e só voltou a voar novamente em 1925.
No dia 19 de junho deste ano, ela deixou milhares de pessoas extasiadas enquanto executava manobras radicais sobre um aeródromo em Houston. Era sua primeira apresentação no seu estado natal do Texas, e brancos e negros compareceram em massa, porém as arquibancadas também eram segregadas.
Embora percebendo que teria que trabalhar dentro deste esquema de segregação, Bessie resolveu tentar usar sua fama para desafiar as barreiras raciais.
Logo depois da exibição em Houston, ela retornou à sua cidade natal, Waxahachie, para um novo show. Como em Houston, brancos e negros assistiriam à demonstração em setores separados. Os promotores haviam inclusive preparado portões de entrada separados, com as inscrições “brancos” e “negros”, mas Bessie se recusou a fazer sua apresentação, a não ser que todos entrassem pelo mesmo portão. Após algumas negociações, ela conseguiu seu objetivo e brancos e negros entraram pelo mesmo portão, apesar de se acomodarem em setores diferentes.
Mas, em 30 de abril de 1926, ela voava no seu Jenny , em preparação para um novo  show em Jacksonville, na Flórida. Saltos de paraquedas  haviam sido incluídos no seu show, e ela procurava por locais onde poderiam ser feitos pousos de paraquedas. Deixando seu mecânico, o também piloto William Wills nos comandos, ela tirou o cinto de segurança e ficou de pé sobre o assento traseiro para ver melhor sobre a alta borda do cockpit. Subitamente, o avião baixou o nariz, e Bessie ficou sob a ação de uma força G negativa, sendo arremessada para fora do avião, e morrendo ao bater no solo. Wills ainda tentou controlar a aeronave, mas também foi morto quando o avião se espatifou ao lado do aeródromo.
A investigação do acidente revelou que uma ferramenta esquecida a bordo havia travado as engrenagens do manche.
Alguns anos após sua morte, a cadeia de  Aeroclubes Bessie Coleman começou a se espalhar por todo o país, abrindo novos horizontes para os negros americanos de ambos os sexos.
No Dia do Trabalho (dos EUA), em setembro de 1931, esses aeroclubes promoveram um show aéreo onde seus pilotos se apresentaram para uma platéia de cerca de 15.000 pessoas de todas as cores.
Na sua curta carreira, Bessie não bateu recordes, nem realizou proezas de grande repercussão no universo da aviação. Mas, considerando-se suas origens e as barreiras que teve que enfrentar, suas realizações foram imensas. Seu pioneirismo e sua determinação venceram obstáculos que pareciam intransponíveis e abriram novas perspectivas para toda uma população marcada pela baixa autoestima, marginalizada e sem esperança.
Bessie Coleman nos deixou a mensagem de que um sonho não tem raça, sexo nem classe social. E que, às vezes, pode até se tornar realidade.


3 comentários:

  1. Muito bom! Confesso que nada sabia dessa heroina dos ares. Abraços, JAIR.

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  2. - Beleza. Também eu desconhecia essa pioneira e lutadora... mais um presente do Leonel para enriquecer nossa bagagem.
    - PS: desculpe ter quebrado a manivela de sua lanterna, Leonel. Eu não estava conseguindo fazer fogo com ela...

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  3. É, viver é aprender cada dia mais....
    Parabéns!

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