Depois da queda da União Soviética, e do consequente fim da Guerra Fria, as nações ocidentais envolvidas no confronto tiveram acesso à informações mais claras sobre o real poderio das forças armadas dos países do Pacto de Varsóvia, em diversas épocas e situações.
Nos EUA, foi aos poucos sendo revelado que, em alguns momentos, certos órgãos da inteligencia nacional superestimaram o potencial da ameaça soviética propositadamente, com a finalidade de justificar sua própria existência e garantir a aprovação de verbas aplicadas em seus programas de espionagem e contra-espionagem.
Ao que parece, depois de 11 de setembro de 2001, o risco de novos ataques terroristas veio motivar uma nova escalada no culto pela inteligência nas esferas do governo dos EUA.
Recentemente, o jornal americano Washington Post publicou uma reportagem intitulada “Top Secret America”, onde revela os absurdos que surgiram em termos de atividades de inteligência, após os atentados contra os prédios do World Trade Center e do Pentágono.
Resumindo, a reportagem cita que “o mundo secreto criado pelo governo em resposta aos atentados de 11 de setembro se tornou tão grande, descontrolado e secreto que ninguém sabe dizer o quanto custa, quantas pessoas emprega, quantos programas existem ou quantas agências estão empenhadas em atividades redundantes”.
Segundo o jornal, 1.271 organizações governamentais e 1.931 empresas privadas estão envolvidas em programas relacionados a contraterrorismo, segurança nacional e inteligência, em aproximadamente 10.000 locações espalhadas pelo território americano.
Estima-se que 854.000 pessoas estejam envolvidas diretamente e autorizadas a acessar informações sobre estas atividades.
A maioria destas atividades são sigilosas, e por este motivo, é ainda mais difícil avaliar a sua eficácia e localizar os problemas da “América Secreta”, e isto inclui apurar se as verbas estão sendo bem empregadas.
O orçamento para a inteligência publicado para 2009 foi de 75 bilhões de dólares, 2,5 vezes maior que o de 2001. É evidente que os atentados tiveram influência direta neste aumento.
Diversas agências executam tarefas redundantes, resultando em desperdício de trabalho e dinheiro. Existem, por exemplo, 51 organizações federais, algumas militares, operando em 15 cidades americanas, somente rastreando o fluxo de dinheiro que entra e sai de organizações terroristas.
Os analistas que interpretam as informações obtidas emitem anualmente cerca de 50.000 relatórios, quantidade tão grande que os mesmos são “rotineiramente ignorados”.
Enquanto isto, é irônico que o atentado a bomba no avião em Detroit, do dia de Natal de 2009, não foi frustrado por nenhum dos milhares de analistas empenhados em localizar terroristas isolados, mas sim por um passageiro da mesma aeronave, que viu a fumaça saindo do seu vizinho de assento.
Ainda no governo de W. Bush, foi criado um gabinete, chamado Office of the Director of National Intelligence (ODNI), para comandar toda esta parafernália. Porém, as leis aprovadas pelo congresso para o seu funcionamento acabaram limitando seus poderes para interferir ou mesmo tomar conhecimento das atividades secretas de outras agências e muito menos tocar em suas verbas.
Assim, todas essas organizações parecem agir como tentáculos independentes de um gigantesco polvo, com um objetivo principal: sua autopreservação e subsistência. Ah! E, ocasionalmente, também combater o terrorismo antiamericano.
Ao final do dia, todos vão para suas casas conscientes de que cumpriram suas obrigações como bons cidadãos americanos. Quem poderá dizer que não? Alguém deseja um novo 11 de setembro?
Desta forma, a comunidade da inteligência mostrou que unida, jamais será vencida (vide o caso da atual Rússia de Putin, onde, de forma apartidária, seus membros continuam no poder(*)).
Para motivar o burro, substituiram com folga a cenoura virtual da Guerra Fria pelo repolho real do 11 de setembro, cujo gosto já foi provado, e a carroça continua a todo o vapor!
Ainda bem que no Brasil, existe transparência, e coisas assim nunca acontecerão!
(*) Leitura recomendada: A ERA DOS ASSASSINOS – Yuri Felshtinsky Vladimir Pribilovski – 2008 - Ed. Record
Publicado nos EUA como: The Corporation: Russia and the KGB in the Age of President Putin
Sensacional! Um texto enxuto e cheio de informações cruciais para entender o que a paranóia americana pós 11 de setembro, faz para se alimentar. Acho que esse monstro federal de 1271 cabeças vai crescer tanto que um dia fará autofagia, ou seja, vai engolir a si mesmo. Abraços e parabéns pela qualidade do texto. JAIR.
ResponderExcluir- O Macarthismo do pós-guerra, mesmo desacreditado, deixou sementes que encontraram solo fértil nas ruínas do WTC. E os EUA ainda se preocupam com inocentes mexicanos e refugiados cubanos. Abraços.
ResponderExcluirMeus caros amigos este jogo já foi ganho, quem levou foram os iluminatis.
ResponderExcluir