FRASE:

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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

domingo, 11 de julho de 2010

Atividades Marginais - Tem Solução?

Nesta cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, é difícil se fazer uma viagem em um onibus urbano sem que, em dado momento, se ouça uma voz se elevando lá na frente do corredor:” Senhoras e senhores, desculpem estar atrapalhando seu sono e sua viagem, mas estou aqui na luta; eu podia estar assaltando ou vendendo drogas...” e por aí afora, o vendedor acaba oferecendo balas, jujubas, biscoitos ou qualquer coisa assim. Depois de “esgotar o mercado”, salta do onibus e espera outro, até ao ponto onde atravessa a rua e pega um onibus em sentido contrário. Pesquisas mostram que seu faturamento é bem maior do que se imagina...
Quando descemos do onibus, se for no centro da cidade, estaremos sempre a poucos passos de alguma concentração de camelôs, ocupando calçadas e espremendo passagens para vender suas quinquilharias, algumas delas ilegais, como produtos contrabandeados, brinquedos sem aprovação do INMETRO, venenos para ratos cuja venda é proibida, Cds e DVDs com filmes e jogos piratas, e até há pouco, serviços de desbloqueio de celulares!
Alguns destes vendedores são cadastrados e autorizados, ocupando áreas específicas, chamadas popularmente de “camelódromos”. Porém, estas áreas nunca parecem bastar, pois sempre existem os excluídos dos cadastros, que apesar disto, não abrem mão de suas atividades, e acabam por ocupar irregularmente calçadas e ruas de pedestres nas áreas eleitas por eles. Não pagam impostos, não tem alvarás nem dão notas fiscais.
Em um bairro mais afastado, existe até uma feira livre que não vende verduras nem frutas, mas é chamada...”Roubauto”! O nome já diz tudo!
Volta e meia, se houve falar que a Guarda Municipal, apoiada pela PM, “estourou” a Roubauto e encheu um caminhão com CD-players, GPS, rodas de liga leve, ferramentas, autopeças e acessórios automotivos, encontrados sem nota fiscal, prováveis produtos de roubos e furtos. O que é raro se ouvir é que alguém foi preso ou que vai ser julgado por receptação e revenda de objetos roubados!
E os prefeitos que se aventuram a tentar algo como o atual “choque de ordem”, vão encontrar oposição não só nas ruas, mas também na assembléia e câmara legislativas. Tudo se baseia no fato de que se está “impedindo alguém de trabalhar para o seu sustento”. É um problema parecido com o das favelas (perdão, comunidades): ninguém impede que se estabeleçam, e depois de estabelecidas, não se pode remove-las, pois isto deixaria famílias sem lar nem abrigo.
Os envolvidos em atividades marginais provavelmente não são considerados “desempregados” nas estatísticas. Mas é o que seriam, se fossem coibidas suas atividades irregulares.
Antes que digam que o problema é tipicamente brasileiro, eu acabo de ler no JB a transcrição de um artigo de Elisabeth Malkin, no New York Times.
A matéria fala sobre plantações que vicejam nas vizinhanças da cidade de Mixquiahuala, situada no vale de Mezquiatal, a uns 90 km da cidade do México. Pois bem, estas plantações são irrigadas com água abundante e gratuita, vinda...dos esgotos da Cidade do México! Nestas águas existem inclusive residuos de origem industrial e hospitalar! Os agricultores apresentam doenças decorrentes da exposição à poluição e costumam recolher garrafas PET e outros objetos do meio das plantações!
Com a notícia de que a prefeitura da gigantesca metrópole mexicana já tem planos para a construção de uma estação de tratamento de esgotos, os agricultores desta área manifestaram sua preocupação: além de temerem que haja um fluxo menor de água para irrigação, temem também que a água tratada não traga a mesma quantidade de “fertilizantes” naturais (falando claro, adubos orgânicos, ou seja cocô) que faz tanto bem às suas plantações!
Assim, por incrível que pareça, existem partes que se dirão prejudicadas com o tratamento dos esgotos!
As atividades marginais parecem acompanhar nossa civilização desde suas origens. Que eu me lembre, a menção mais antiga que li foi na Bíblia, quando um homem que pautava sua vida por pregar a paz acabou perdendo a paciência e usando de energia para dispersar um verdadeiro “camelódromo” que se estabelecera no saguão do templo de Jerusalém!
Bem, pelo que eu sei, o homem foi crucificado e os camelôs provavelmente voltaram às suas atividades, no mesmo local...

3 comentários:

  1. Pois é Leonel, como você bem observou: desde os escritos bíblicos, sempre que houver aglomerados humanos e leis, estas serão desprezadas por parte daqueles que vivem nas "urbe". Tem solução? Não sabemos e nunca se soube, contudo, o problema maior não é as transgressões existirem, é a incapacidade ou falta de vontade da sociedade (Estado + governantes + população) de encarar o problema, e tentar resolvê-lo.
    Lembro aqui apenas como referência: Quando o prefeito de Nova Iorque, Rudy Giuliani, implantou o programa "tolerância zero" na cidade, foi criticado pelos conservadores e pela esquerda americana, de modo que se viu encurralado. Sem ligar para as críticas, foi adiante com o programa de forma que hoje Nova Iorque é considerada a metrópole mais segura do Planeta. Será que é por aí a resposta a tua pergunta? Tem solução? Não sabemos, mas por que não tentar?

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  2. - Leonel, acho que a maioria dos problemas urbanos tem origem no esvaziamento do campo e das cidades interioranas, numa migração silenciosa e contínua de famílias humildes em busca de um sonho que lhes é impingido pela mídia - principalmente a da TV. Chegando à metrópole, encontram uma realidade brutal que as empurra para a marginalidade, em busca da sobrevivência. Posso estar errado; que tal perguntar a eles?
    - Abraços.

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  3. Acho que os comentários de Jair e Barcellos abordam aspectos um pouco diferentes, mas que são fatores reais envolvendo esta questão. Na minha matéria, eu nem me atrevi a formular respostas à minha própria pergunta, pois tem coisas com as quais convivemos há tanto tempo que parecem ser inerentes à nossa própria civilização, ou pelo menos ao caminho que ela tomou.
    Temos aí dois dados: poucos administradores tem a determinação de Rudolph Giuliani em levar em frente suas propostas, sofrendo desgaste político. Mas, ele obteve resultados, pelo menos com respeito à segurança.
    No que se refere à fábrica de sonhos que invade todos os lares com sua telinha, no contexto democrático, parece que não há como enfrentar.
    Quanto a perguntar aos próprios migrantes, eu diria que eles talvez nem percebam como chegaram a este impasse.

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