FRASE:

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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

domingo, 29 de agosto de 2010

OS HONCHOS - UMA GUERRA SECRETA

O CONFLITO COREANO
A Guerra da Coréia foi travada entre 25 de Junho de 1950 e 27 de Julho de 1953.
Uma coisa que marcou esta guerra foi o fato de, pela primeira vez, haver um confronto aéreo entre aviões a jato. Nos céus da Coréia, os dois melhores caças do mundo e alguns dos melhores pilotos da época se enfrentaram em uma dura batalha pela superioridade aérea.
Como outros entusiastas da aviação, nos anos que se seguiram à Guerra da Coréia, acompanhei a evolução dos dados sobre os históricos combates aéreos entre os aviões da ONU, na maioria americanos e ingleses, contra aeronaves da Coréia do Norte, apoiada pela União Soviética e pela China Comunista (na época da guerra, ainda havia a China Nacionalista, hoje chamada Taiwan).
A Coréia do Norte, de regime comunista, invadiu a Coréia do Sul em 25 de junho de 1950, reforçada por um grande número de tanques T-34 (cortesia da Rússia) e um pequeno mas agressivo contingente de aviões, na maioria sobras da II Guerra Mundial.
A ONU, em resposta enviou as tropas, na maioria americanas, apoiadas por uma força aérea composta de aviões americanos e ingleses.
A tréplica dos vermelhos foi o envio de uma nova e insuspeitada arma que ameaçava mudar os rumos da guerra e que chamou a atenção do mundo.

AS AERONAVES PRINCIPAIS
Foi uma grande surpresa para todo o mundo o aparecimento dos MiG-15 nos céus da Coréia. Isto porque, durante a II Guerra, a Rússia nunca apresentou uma aeronave de caça com características superiores às aeronaves ocidentais, alemãs ou aliadas, de primeira linha.
Entretanto, o pequeno caça soviético, criado com forte influência do projeto alemão para o caça a jato Focke-Wulf Ta-183, tinham desempenho superior a tudo o que havia no ar naquela época! Suas incursões começaram a varrer dos céus os B-29, F-51, F-82 e F-80 americanos, assim como os Gloster Meteor ingleses.

O pequeno e mortífero MiG-15 surpreendeu o mundo ao surgir nos céus da Coréia.(Foto: arquivos da Força Aérea Russa)

Como uma amostra do que viria a ser uma tendência no arsenal soviético no decorrer do século, o MiG-15 era uma arma defensiva, um interceptor clássico, projetado para se opor a uma ameaça específica: os grandes bombardeiros americanos! Os russos tinham assistido de camarote à destruição que as grandes formações de B-17 e B-24 tinham semeado na Alemanha, e posteriormente os arrasadores bombardeios das novas Superfortalezas B-29 sobre o Japão, culminando com o lançamento das bombas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki. Já se sabia de novos projetos de aviões ainda mais potentes e capazes, como os  B-36 e B-47.
Assim, o MiG-15 tinha todas as características de um interceptor de bombardeiros:  grande velocidade (Mach 0.92) e razão de subida, teto máximo operacional de +50.800 pés (+ 16.700 m) e o pesado armamento constituído por um canhão de 37 mm e mais dois de 23 mm. Como a maioria dos interceptores, tinha também um curto raio de ação (aprox. 700 km). Era impulsionado por um motor copiado do turbojato inglês Rolls-Royce Nene, cedido aos russos após a II Guerra.
Sua aparição no conflito tinha um alvo determinado: os B-29 americanos que martelavam as forças norte-coreanas. E, depois de algumas intervenções, duas delas arrasadoras, os B-29 sumiram dos céus diurnos da Coréia, devido às pesadas perdas! Objetivo alcançado!
Os americanos reagiram lançando no conflito os caças Republic F-84 Thunderjet, que também não eram páreo para os MiGs, e finalmente, o que tinham de melhor: os caças F-86.

O F-86 chegou à Coréia como resposta ao MiG-15. Aqui vemos um exemplar que sobreviveu à guerra, fotografado em Albrook AFB, Canal Zone (atual Panamá), em 1967. (Foto: arquivo do autor)

O North American F-86A Sabre tinha desempenho semelhante ao MiG-15, perdia para o russo em teto máximo (45.600 pés = 15.000 m) e em razão de subida, e também no poder de fogo, mas era capaz de mergulhar em velocidade maior (Mach 0.97) do que seu oponente, sem perda de controle, era mais estável nas manobras e tinha aviônicos mais avançados, inclusive o visor de tiro, dotado de um radar de curto alcance. Posteriormente, começaram a chegar os F-86E, que tinham melhoramentos como os estabilizadores traseiros inteiramente móveis, funcionando em conjunto com os profundores.
O F-86 vinha do mesmo fabricante do famoso P-51 Mustang, e a USAF adotou nesta aeronave o mesmo armamento do caça da II Guerra: seis metralhadoras .50 (12,7 mm). No teatro de guerra europeu, os americanos estiveram sempre na ofensiva, geralmente só enfrentavam caças alemães e este poder de fogo parecia bem adequado.
Mas, segundo relatou um piloto americano veterano da Coréia, na série DOGFIGHT, do History Channel, em diversas ocasiões ele e seus colegas viram seus tiros atingirem em cheio os MiGs, que, mesmo avariados, conseguiam se evadir do combate. Isto deve incluir alguns aviões dados como “abatidos”. Quando, porém, eles próprios eram atingidos pelos MiGs, o resultado era quase sempre fatal, pois os danos causados pelos canhões de 23 mm e principalmente pelo de 37 mm eram pesados demais para uma aeronave de caça.

OS PILOTOS
Mas, que espécie de homens estavam na carlinga dos temíveis MiGs?
Bem, segundo as informações divulgadas depois do fim da “cortina de ferro”, havia três tipos distintos de pilotos:
Os norte-coreanos, os chineses e...os russos!
Agora, ambos os lados finalmente já não negam que houve combate direto entre pilotos americanos e russos durante o conflito coreano.
Os norte-coreanos e chineses eram jovens pilotos militares, que foram enviados para treinamento na Rússia, com a finalidade específica de pilotarem os MiGs. Inexperientes, sua participação na guerra foi discreta, sendo contra eles que os americanos obtiveram o maior número de vitórias.
Alguns MiGs caíram em combate sem sequer terem sido atingidos, apenas pela perda do controle, entrando em parafusos que terminavam no solo, numa bola de fogo. Hoje sabemos que havia mais uma deficiência que afetava os pilotos dos MiGs: eles não usavam os trajes anti-G, que evitam o blackout em manobras de alto esforço, pressionando a parte inferior do corpo para evitar que o sangue fuja do cérebro. As vezes, algum piloto que forçava demais uma manobra podia literalmente "apagar" e acordar enterrado no solo!  
Para pilotar os seus valiosos F-86, os americanos enviaram uma mescla de ases e veteranos da II Guerra, secundados por pilotos já formados na era do jato.
Porém, uma surpresa aguardava os americanos, quando perceberam que havia pilotos de MiGs com inusitada habilidade, verdadeiros ases, ossos duros de roer!

OS HONCHOS
Os russos chegaram a princípio em novembro de 1950, com o 64º Corpo de Aviação de Caça, mais tarde reforçado pelas 151ª e 28ª Divisões Aéreas, cada uma com dois regimentos, cada regimento composto de três esquadrões. Essas unidades eram formadas na maioria por veteranos e ases da II Guerra, comandados por ninguém menos do que o consagrado ás máximo Ivan Kozhedub, agraciado três vezes com a medalha de “Herói da União Soviética”, com 62 vitórias na II Guerra. Porém, o grande ás russo apenas comandava, impedido por ordens superiores de voar em missões de combate.
Os americanos sabiam distinguir perfeitamente quando estavam enfrentando esses pilotos diferenciados, e os chamavam de “honchos”, palavra em japonês para “chefão” ou “figurão”. Logo, os serviços de informações confirmaram suas suspeitas, e eles ficaram sabendo que enfrentavam russos. Contudo, oficialmente ambos os lados negavam o envolvimento russo. A cumplicidade do governo americano era por temer que extremistas exigissem uma retaliação mais enérgica contra a União Soviética, provocando uma guerra total.
Os honchos são um capítulo à parte no conflito coreano. Segundo o relato de Alexandr Pavlovich Smortzkow, que comandou o 18º  regimento, eles eram voluntários, e tinham direito a uma remuneração especial por esta missão, além de prêmios extra por aeronave abatida. A princípio,  tiveram que aprender termos técnicos-operacionais em coreano, e receberam ordens de só usarem esta língua para se comunicarem em voo. Mas, consta que, com a chegada das Divisões aéreas 151ª e 28ª, os comandantes destas unidades, de forma inusitada, protestaram contra esta ordem, se recusando mesmo a cumpri-la. E foram apoiados pelo seu prestigiado comandante geral Kozhedub, o que fez com que seus superiores recuassem, e os pilotos passaram a falar abertamente  em russo. Deviam evitar a todo o custo serem abatidos sobre o mar ou sobre território inimigo, onde poderiam ser   capturados. Veteranos americanos falam de pelo menos um piloto russo metralhado por seus próprios aviões, após cair no mar.

Confirmado! Neste quadro extraído de um filme da camera de um F-86, pode-se ver a ejeção do piloto de um MiG abatido. Alguns desse filmes sumiram dos arquivos, talvez por mostrarem engajamentos feitos sobre a Coréia do Norte ou Manchúria, além dos limites impostos pela ONU. (Foto: National Archives & Records Administration - EUA)

Eles também tinham ordens de, caso estivessem em desvantagem nas ações, se refugiarem do outro lado do Rio Yalu, cruzando a fronteira, fechada aos aviões americanos pelas regras de engajamento da ONU. Mas, havia um setor próximo a esta fronteira onde eles costumavam patrulhar, cruzando o rio Yalu e invadindo o território sul-coreano. Os americanos chamavam este local de MiG Alley, algo como “beco dos MiGs”, pois sempre topavam com eles por ali. Veteranos contam que eram frequentes as incursões de caças americanos para além do paralelo 38, limite imposto pelos tratados da ONU.
Por volta de abril de 1953, os honchos sumiram como por encanto, e os americanos começaram a varrer como nunca os MiGs dos céus coreanos. Em julho do mesmo ano, a guerra terminou com a assinatura de um armistício.

ASES EM CONFRONTO
Desde a I Guerra Mundial, é considerado “ás” o piloto que abate em voo 5 aeronaves inimigas.
As fileiras soviéticas na Coréia contaram com 51 ases, porém, as vitórias soviéticas incluem aviões abatidos por mais de um piloto, agindo em cooperação. Desta forma, se dois abatiam o mesmo avião, contava mais um para ambos.
O maior ás russo seria Nikolai Vasilievich Sutyagin, com 21 vitórias (9 F-86), mais duas divididas com seu ala. Isto o torna o maior ás da guerra, pois o "top ace" americano Joseph McConnel Jr., somou "apenas" 16 vitórias!

Ases "honchos": Sutyagin (E) foi o maior ás da guerra com 21 vitórias. Seu camarada Pepelyaev (D) vem logo atrás, com 19. Existem relatos de que Pepelyaev teria ainda repassado 4 vitórias ao seu ala.(Fotos: arquivos da Força Aérea Russa)

Os arquivos da USAF mostram 40 ases na Coréia.
O cruzamento dos dados soviéticos com os arquivos da USAF permitem que se identifique até os pilotos envolvidos em determinados confrontos.
Pode-se saber, por exemplo, que em 2 de outubro de 1951, o ás soviético Lev Kirilovich Shchukin (17 vitórias), ao socorrer seu camarada Morozov, atingiu ninguém menos que o também ás americano Francis Gabreski (28 vitórias, maior escore da USAF na Europa, na II Guerra, + 6,5 na Coréia). Isto não foi contado como vitória, pois ninguém viu o avião cair, mas o F-86 de Gabreski abandonou o combate soltando fumaça e, após um pouso de emergência em sua base, foi jogado na sucata, sériamente danificado pelos pesados canhões do MiG.
Não só os F-86 abateram MiGs dos honchos na Coréia. Em 18 de novembro de 1952, três jatos Grumman F9F-2 Panther da VF-781, baseados no porta-aviões USS Oriskany, foram atacados por 7 ou 8 MiG-15 a 26.000 pés sobre Hoeriyong. Os russos vinham de Vladivostok, a 90 milhas de distância. No combate que se seguiu, os americanos alegaram que 5 MiGs foram abatidos ou danificados pelos Panther. A camera de bordo do Ten. Elmer R. Williams confirmou o abate de pelo menos um dos caças soviéticos, atingido pelos canhões de 20 mm do seu caça naval. Um dos pilotos russos se ejetou e pereceu nas águas geladas.

Joseph Mc Connel Jr.(E) foi o "Top Ace" americano, com 16 vitórias. Na sua cola ficou James Jabara(D), filho de libaneses, com 15. Todas essas vitórias foram sobre caças MiG-15. E, assim como no caso dos ases russos, algumas são contestadas.(Fotos: USAF e LIFE Magazine)

Apesar de existirem diversas listagens de ases, com números e critérios diferentes, parece não haver dúvidas quanto ao fato do maior ás da Guerra da Coréia ter sido o russo Nikolai Vasilievich Sutyagin com 21 vitórias, secundado por seu compatriota Yevgeny Pepelyaev, com 19.
Pelos americanos, Joseph McConnel Jr. com 16 e James Jabara, com 15, foram os “top aces”.

O DISCUTÍVEL SALDO AMERICANO
Os números do saldo dos confrontos diretos entre os melhores caças de ambos os lados , que foram divulgados nos anos 50 pela USAF, chamavam a atenção: a vantagem americana seria na fantástica razão de mais de 14 por 1!
Isto significava que para cada North American F-86 Sabre perdido em confronto direto, haviam sido abatidos 14 Mikoyan-Gurevich MiG-15!
Os comunistas nunca aceitaram esses dados, e com o passar do tempo, aquela razão inicial foi caindo significativamente.

OS DISCUTÍVEIS NÚMEROS RUSSOS
Os números alegados pelos russos também são discutíveis: eles declararam haver destruído 1.300 aviões das Nações Unidas, sendo 650 F-86, com a perda de  110 dos seus. Os registros da ONU não acusam tais perdas, no período em que os honchos atuaram na Coréia.
Segundo matéria publicada em agosto de 1999 na revista VFW Magazine, a participação dos russos foi maior do que se imaginou a princípio: os russos teriam cumprido 75% das missões aéreas de apoio aos norte-coreanos. E, de acordo com o Dr. Mark O'Neil, no documentário KOREA: STALIN'S SECRET AIR WAR, produzido pelo History Channel, “Desde 1º de  novembro de 1950 até o outono de 1951, foi uma guerra soviética – não haviam outros pilotos envolvidos”. 

O CONFUSO BALANÇO QUE NUNCA BATE
Por várias vezes, eu tentei apurar os números verdadeiros do conflito, mas desisti sem obter sucesso. Eu gostaria de saber realmente como foi o confronto entre os MiG-15 pilotados pelos honchos e os F-86 americanos.
Sem dúvida alguma, ambos os lados reportaram número maior de vitórias do que as perdas confirmadas pelos adversários. Muitas dessas alegações foram de boa-fé, quando pilotos julgaram ter abatido um avião que parecia já liquidado, mas que conseguiu regressar à sua base. Algumas vitórias alegadas pelos russos foram contestadas pelos americanos, que atribuiram a perda das aeronaves ao fogo antiaéreo. Também no caso de aeronaves danificadas em combate que cairam ao pousar na sua base, os americanos atribuiram as perdas à "acidentes".
Os americanos alegaram inicialmente haver abatido incríveis 792 MiGs e perdido apenas 58 F-86 em combate. Nesta conta entrariam aviões pilotados por russos, chineses e norte-coreanos.
Mas, as perdas norte-coreanas e chinesas não podem ser pesquisadas.
Pesquisas mais recentes apontam 379 MiGs abatidos pela USAF, com a perda de 224 F-86.
(Lembramos que esta análise trata apenas do confronto direto entre MiG-15 e F-86. Os MiGs abateram também diversos outros tipos de aviões, como F-80, F-84 e B-29.)
Para o historiador americano Jon Halliday, que pesquisou o assunto, todas as baixas de pilotos de F-86 em combate foram causadas pelos Honchos.
Os números atualizados (mas, nunca definitivos) indicam que os americanos teriam ao todo uma vantagem de 1,7:1 no confronto com os MiGs em geral e 1,3:1 especificamente contra os honchos.
Porém, sejam quais forem os números verdadeiros, o resultado da guerra indica uma vantagem para os americanos. Não se pode mudar a história nem ocultar a realidade dos fatos: os honchos eram ótimos pilotos, sabiam utilizar muito bem as vantagens do seu avião e atingiram seu objetivo inicial de conter os B-29, mas, acabaram saindo do front, os americanos estabeleceram a superioridade aérea e venceram a guerra, forçando os vermelhos ao armistício.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ENTRE O CÉU E A TERRA

Disse um pensador, acho que foi o gênio da literatura inglesa e mundial William Shakespeare, que “entre o céu e a terra há mais coisas do que pode alcançar a nossa vã filosofia”.
Sem querer remendar o que o mestre disse, digo eu:
E tem mais: nos casos em que algumas dessas “coisas” foram descobertas, elas não surgiram do nada no momento de sua revelação, mas pode-se afirmar que já estavam lá há muito tempo!

Foi anunciada oficialmente em 21 de julho de 2010, a constatação de que a estrela R136a1, do conglomerado r136, possui uma massa provável 265 vezes maior do que o Sol. É o objeto celeste de maior tamanho e massa já observado. Isto tudo apesar de já haver encolhido no decorrer de sua existência. Pelas  fórmulas, equações e deduções da nossa ciência até há um mês atrás, a massa máxima possível para um corpo celeste seria 150 vezes maior que a do Sol. Um errinho considerável, né? As equações estariam erradas, ou este limite foi "chutado", com base apenas no que já era conhecido?
(Fotos: European Southern Observatory - The Huffington Post)

Eu acho interessante a forma como, século após século, surgem sempre novas descobertas, cada vez mais surpreendentes e inusitadas, às vezes pondo por terra teorias consagradas como verdades. E consta que, se não me engano, no século XIX, alguns cidadãos que se diziam cientistas chegaram à conclusão de que nada mais havia para descobrir em determinados campos da ciência.
No conto de Arthur C. Clarke OS NOVE TRILHÕES DE NOMES DE DEUS, monges de um mosteiro tibetano compram um computador para descobrir e escrever todos os nomes de Deus, que, segundo eles, seriam nove trilhões. Sendo este (também segundo eles) o único propósito da existência do ser humano, após a sua consumação não haveria mais motivos para a existência da humanidade, que poderia então ser extinta, pois já cumprira seu desígnio divino.
Parece ser um paralelo para alguns homens da ciência, que por vezes se lançam em verdadeiras cruzadas, tentando afirmar teses sobre coisas que parecem estar bem além da sua capacidade atual de pesquisa.
Qualquer cientista com uma boa base matemática e que seja politicamente aceito pela chamada comunidade científica pode formular uma teoria sobre coisas que não podem ser confirmadas por experimentos sem ser contestado adequadamente, pois há inúmeras coisas que não podem ser negadas nem comprovadas fisicamente.
Erik Von Daniken propôs a hipótese de que a vida humana na Terra poderia ter sido originada por interferência de seres vindos de outro planeta.  Seu erro foi que ele partiu desta ideia inicial e depois começou a procurar indícios que se encaixassem nela. Por este motivo, foi combatido e ridicularizado. Mas, por que isso não seria possível? Porque não existem ETs para confirmar a história?
Poderiamos perguntar se alguém trouxe o tal "elo perdido" para confirmar que realmente os seres humanos atuais (homo sapiens) descendem deste ou daquele hominídeo pré-histórico. Mas, esta tese é aceita passivamente pela maioria das pessoas...
Quando se alcançou à dimensão do átomo, alguns julgaram haver chegado à unidade da matéria, mas depois, vieram os prótons, elétrons e neutrons, os quarks e suas variantes.
Em todos os campos da ciência, tanto no contexto do micro como no do macro, podemos constatar que continuam a surgir novas descobertas, que levam a novas teorias, que pressupoem a existência de mais coisas a serem equacionadas e descobertas.
Neste ponto, eu gostaria de lembrar o detalhe que eu citei no início: todas estas coisas que surgem como novidades nas revistas científicas na realidade já estavam todas aí, bem antes da existência da humanidade ou mesmo do nosso planeta!
Se essas coisas são novidades para nós, é porque só agora conseguimos percebe-las!
Os buracos negros, os quasares, as estrelas de neutrons, as partículas subatômicas, as cadeias de carbono, a ordenação na hélice do DNA, que nosso amigo Barcellos tão objetivamente nos descreveu tempos atrás, são todas coisas bem anteriores à época em que tomamos consciência de nós mesmos!

O Instituto Ludwig, fundação da Suíça, mantém com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) uma parceria no Projeto Genoma Humano do Câncer, o que pode levar a resultados importantes na luta contra este mal. (Foto: Fabiano Accorsi -VEJA) 

A exploração espacial, apesar de à primeira vista parecer supérflua, nos trouxe inúmeros benefícios, na forma de inovações tecnológicas desenvolvidas para atender aos requisitos dos programas espaciais. O transistor, e posteriormente os circuitos integrados, os computadores  portáteis e softwares especializados, as comunicações via satélite, os GPS,  materiais especiais como o kevlar e a fibra de carbono, as ligas de titânio, são todos avanços científicos derivados da tecnologia espacial.
Para não falar que, talvez num futuro não muito remoto, nossa aptidão para lançar mísseis pode ser a única esperança de evitarmos a precipitação de algum corpo celeste sobre o nosso planeta.
Infelizmente, a exploração espacial nos deixou também uma herança indesejável: o lixo espacial. Segundo dados publicados em 2008 pela NASA, foram contabilizados no espaço aproximadamente 17.000 destroços acima de 10 centímetros, 200.000 objetos com tamanho entre 1 e 10 centímetros e dezenas de milhões de partículas menores que 1 centímetro.
Assim, tem coisas na ciência que nos trazem muitos benefícios e alguns inconvenientes. Outras trazem alguns benefícios e quase nenhum inconveniente. Infelizmente, tem também aquelas que consomem muitos recursos, não dão nenhuma resposta às nossas dúvidas e mesmo que dessem, não nos trariam nenhum benefício, a não ser o de satisfazer  a nossa curiosidade. 


Sobre a elaboração de um plano de defesa contra impactos de asteróides, William Ailor, da empresa The Aerospace Corp., declarou em uma conferência promovida em conjunto com o American Institute of Aeronautics and Astronautics, em Garden Grove, na Califórnia, em março de 2004: "É uma coisa (a colisão com um asteróide) que sabemos que acontecerá no futuro, e temos a responsabilidade de fazer algo a respeito" (Foto: Chris Carlson/AP)

Eu fico imaginando se colocarmos em um gráfico de barras todo o conhecimento acumulado pela humanidade até agora, ao lado do que potencialmente podemos descobrir, em, digamos, mais uns cinquenta mil anos (será que nossa civilização vai durar tanto?).
Acho que a  barra que representa o nosso conhecimento atual seria quase imperceptível, diante do arranha-céu representando as coisas que ainda poderemos descobrir no período considerado!
E, se temos tantas coisas a descobrir, eu acho que deveriamos priorizar a busca por aquelas que podem influenciar de forma benéfica a nossa vida e a de nossos descendentes, ou preservar a própria existência da nossa civilização.
Tudo o mais pode ser uma desnecessária dissipação de recursos e esforços.
Aquelas outras coisas cuja explicação, mesmo que nos fosse presenteada por um ET, em nada mudariam nossas vidas atuais, deveriam ser deixadas para sua devida hora. Ou seja, para quando tivermos realmente a capacidade de percebe-las e entender o seu significado.
Essa é apenas uma opinião pessoal!
Eu acredito que há um propósito para a ciência, e a vejo como um bom caminho para acharmos formas melhores de viver e de sobreviver como civilização.

Instalações do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, EUA, onde desde julho de 2009, cientistas procuram obter uma reação auto-sustentável de fusão nuclear, utilizando uma concentração de 192 feixes de laser. Uma reação de fusão nuclear controlada poderia gerar quantidades astronômicas de energia, como estabelece a equação E=mc². (Foto: Lawrence Livermore National Laboratory - Public Affairs)

Assim, já me dou por satisfeito se nossos cientistas descobrirem uma cura verdadeira e sem efeitos colaterais para o câncer, uma forma viável de geração de energia por  meio da fusão nuclear, um meio efetivo de controlar o aumento da densidade demográfica e a consequente degradação ecológica do planeta, ou uma forma segura de nos defendermos dos asteróides desgarrados!
Talvez eu esteja sendo pretensioso demais, mas, na minha modesta opinião,  coisinhas assim parecem mais importantes,  prementes e próximas do alcance da nossa ciência do que a natureza dos fenômenos envolvidos num suposto "Big Bang" que teria criado o universo!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

QUEM ABATEU O ÁS NOWOTNY?

Alguns fatos sobre a II Guerra Mundial estão mais esclarecidos agora do que na década de 60, ou nos anos mais próximos do fim da guerra.
Principalmente após o fim da União Soviética, muita coisa foi esclarecida, graças à abertura de arquivos referentes à guerra, que até então eram mantidos em sigilo pelos regimes subordinados à Moscou.
Grande parte dos arquivos militares alemães estavam situados na Alemanha Oriental e só vieram à tona após a reunificação da Alemanha.
De parte dos aliados, também muita coisa só apareceu depois do fim da Guerra Fria.
Um dos melhores livros sobre a atividade de combate aéreo na fase final da II Guerra foi a obra do ás-mor da aviação de caça francesa Pierre Clostermann. Nascido em Curitiba, mas de nacionalidade francesa, Clostermann voluntariou-se para pilotar aviões pela Royal Air Force (RAF), a Real Força Aérea Inglesa, após a queda da França. 
Pierre Clostermann (*28/02/1921 - +22/03/2006), em foto de 1945, publicada no seu livro O Grande Circo, da Ed. Flamboyant.
Com base em registros e apontamentos do próprio Clostermann, Le Grand Cirque (editado no Brasil pela editora Flamboyant com o título O GRANDE CIRCO) conta em um ritmo vibrante as experiências do autor em combate.
Um dos capítulos do seu livro é dedicado inteiramente à Walter Nowotny, jovem piloto austríaco da Luftwaffe (força aérea alemã), um condecorado ás com 258 vitórias, 255 delas na frente russa, segundo os arquivos alemães. Em 1944, Nowotny comandava o chamado Kommando Nowotny, primeira unidade da Luftwaffe a operar experimentalmente com os novos caças a jato Messerschmitt Me-262. Neste capítulo, o autor expressa grande admiração pelo piloto inimigo, e lamenta sua morte, apurada, segundo ele, por “verificações, interrogatórios de prisioneiros e documentos apreendidos”.
Segundo Clostermann, o jovem ás austríaco, citado como tenente-coronel (na realidade era major, segundo os próprios arquivos alemães) teria sido abatido por um piloto de seu esquadrão, ao tentar pousar com um caça a jato Messerschmitt Me-262 em sua base. 
O Messerschmitt Me-262: só era vulnerável na hora do pouso. Este exemplar está no National Museum da USAF, em Dayton, Ohio. (Foto: USAF)
Clostermann explica que uma das táticas empregadas pelos pilotos aliados contra os poderosos jatos alemães era, durante as grandes incursões aéreas aliadas de bombardeio, rondar as  suas bases com caças e ataca-los na volta dos combates, durante a aproximação final de pouso, aproveitando a sua vulnerabilidade nesta fase, pois estariam com seus motores Jumo 004 em regime reduzido e não conseguiam acelerar rapidamente.
Walter Nowotny (*07/12/1920 - +08/11/1944) – Com apenas 23 anos, comandava uma unidade destinada a desenvolver táticas de combate para emprego do revolucionário Me-262.
Numa dessas sortidas, em 15 de março de 1945, segundo Clostermann, o piloto Bob Clark, em um dos caças Tempest V de sua esquadrilha, atacou e abateu a tiros de canhão um jato Me-262 que tentava pousar no aeródromo de Rheine-Hopsten. Quinze dias mais tarde, teriam a informação de que o jato em questão era pilotado por Walter Nowotny.
Entretanto, a revista AVIATION HISTORY, na sua edição de Sep. 2002, publicou uma entrevista com Edward R. Haydon, ex-piloto da USAF durante a II Guerra, onde ele mesmo conta como, em 8 de novembro de 1944, com seu caça P-51D do 364º Esquadrão, integrante da 357ª Ala de Caças da USAF, perseguiu um caça Me-262A nas proximidades do aeródromo de Achmer, na Alemanha. Segundo ele, o jato aparentava estar com um dos motores em pane. Outros dois caças P-51 apareceram e um deles atirou, porém não atingiu o caça alemão, por estar este fora do alcance de tiro. O piloto alemão, que seria Nowotny, viu o avião de Haydon muito próximo e prestes a disparar contra ele e tratou de manobrar para escapar. Ao tentar fazer uma curva muito apertada, teria apagado o motor restante. O jato, que já estaria a menos de 100 pés de altitude (!), entrou em estol e  precipitou-se no solo, tendo se incendiado em seguida. Nowotny teria sido resgatado dos destroços ainda com vida, morrendo no dia seguinte, em consequência das queimaduras sofridas. 
Os registros oficiais da Luftwaffe colocam a derrubada do avião de Nowotny nesta mesma data e local. Nowotny teria comunicado que voltava à base com um dos motores em pane, após uma missão onde interceptara uma formação de bombardeiros B-24 americanos, tendo abatido um deles. O centro de controle da base ainda ouviu sua última e truncada mensagem, onde ele dizia estar em chamas.
Como Clostermann chegou à conclusão de que a aeronave abatida por seu colega de esquadrão fora a do ás austríaco, já morto havia quatro meses ?
Talvez graças à desinformação reinante na guerra, junto com a morosidade com que eram liberadas as notícias.
Como vemos, não param de sair “novidades” sobre a história da II Guerra Mundial, que terminou há 65 anos!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

PEQUENA AMOSTRA DE "UM BAITA CARA"

A melhor coisa que temos é a nossa própria essência, aquela mistura dos nossos sonhos com nossas experiências, temperadas pelo nosso modo de ser, de agir e de encarar as coisas.
Quando alguém nos dá um livro escrito de próprio punho, com partes de suas lembranças, seus sonhos, suas divagações e propostas, está nos dando uma pequena amostra do que há de melhor em si mesmo.
Pois eu, emocionado, acabo de me ver agraciado com esta honra de receber de um amigo e irmão de armas uma pequena e preciosa amostra dele mesmo, na forma de um exemplar de A FONTE E AS GALINHAS, da autoria do beletrista diletante Jair Cordeiro Lopes. A “orelha” do livro é escrita por Ruy Lopes e o prefácio é do nosso velho guru Barcellos.
Nesta obra, com a qual já comecei a me deleitar, ele aborda assuntos variados, como os animais, aviação, recordações, natureza, os seres humanos e a história, sem nunca abandonar a sua antiga fixação pelo TEMPO.
Com sua intimidade com as letras, o que ás vezes me falta, ele esgrime com as frases com a mesma desenvoltura que um espadachim com sua espada!
Como o livro não é sequencial, podemos ficar à vontade, pulando daqui para ali, “beliscando” assuntos dos mais variados.
Muchas gracias, amigo!
Recordando o linguajar gaúcho, Jair é mesmo “um baita cara”!
Lerei e quardarei com carinho mais este companheiro, que me acompanhará como os outros, enquanto durar esta jornada pelo universo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ABOBRINHAS SOBRE A MAIS BELA

Tenham paciência, mas não pude deixar passar esta nota social.

Segundo a revista VEJA, Elizabeth Taylor está de casamento marcado! Aos 78 anos, essa  vovó, que foi a musa idolatrada de Hollywood no século passado vai celebrar núpcias com seu empresário, o "garotinho" Jason Wintwers, de apenas 49 anos. Consta em outra nota da imprensa que o casamento será no final deste ano, em um local secreto.
Aos 78, in love again!
Se não me perco nas contas, este será o seu nono casamento. Dois deles foram com o mesmo cara, Richard Burton, um dos seus grandes amores.
Filha de americanos, apesar de nascida em Londres, Liz foi, nos seus anos floridos, a mulher mais linda do cinema. Marlyn Monroe era sexy e graciosa, mas a presença de Liz era sempre de “dar branco” na festa, com seus olhos de cor azul-violeta contrastando com os cabelos negros!
Começou no cinema com apenas 9 anos, em 1942, numa comédia em preto-e-branco de 60 minutos de duração, que poucos viram : There's One Born Every Minute.
Mas no ano seguinte, ela se tornou bem mais conhecida no filme colorido Lassie Come Home, no papel da menina Priscila, companheira da famosa cadela Lassie (que aliás, na verdade era um cachorro), essa a verdadeira estrela da fita.
Seguiram-se diversos filmes, onde ela desempenhou papéis secundários, até começar a estrelar. Mas, seu sucesso começou realmente com Um Lugar ao Sol (A Place in The Sun,1948). Durante as filmagens, se apaixonou por Montgomery Clift, que por não ser muito chegado às mulheres, tornou-se apenas seu amigo. Mais tarde, Liz se tornaria amiga de outros artistas gays...
Depois, vieram muitos outros filmes, mas sua especialidade eram papéis de alta carga dramática, representando mulheres contestadoras e de personalidade forte, como ela própria.  Para mim, os mais marcantes foram:

Assim Caminha a Humanidade (Giant – 1956),
Gata em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof - 1958),
Disque Butterfield 8 (Butterfield 8 -1960 - Oscar nº1: Melhor Atriz),
Cleópatra (Cleopatra – 1963),
Gente Muito Importante (The V.I.P.s – 1963),
Adeus às Ilusões (The Sandpiper -1965),
Quem Tem Medo de Virgínia Woolf (Who's Afraid From Virgínia Woolf? - 1966 - Oscar nº2: Melhor Atriz),
O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye -1967).
Nestes filmes, ela pode ser vista no auge de sua beleza e talento.

Linda como nunca, em GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE.

Enquanto encantava seus fãs, ela também aprontava  outras lambanças, como roubar o marido da amiga Debbie Reynolds. Debbie era casada com o cantor Eddie Fisher e o casamento deles era tido como modelo em Hollywood. Tinham um lindo casal de filhos (a garota era Carrie Fisher, que mais tarde seria a Princesa Leia de Star Wars), e eram amigos de Liz e de seu marido Mike Todd. Aí, Todd faleceu, Eddie resolveu consolar Liz, separou-se de Debbie e casou-se com ela, numa união que durou cinco anos, mas causou a revolta de muitos cinéfilos, que rotularam Liz de “destruidora de lares”, fama que a acompanhou desde então.
 A amiga da onça: Liz, com Eddie Fisher e sua "amiga" Debbie Reynolds. Debbie e Eddie eram o casal-modelo de Hollywood.

Mas, finalmente, ela conheceu seu grande amor, o britânico Richard Burton. Em 1964, deu um chute em Eddie e casou-se com Burton. Tiveram uma relação apaixonada e tumultuada pelo alcoolismo, que afetava a ambos. Divorciaram-se duas vezes, até a separação definitiva em 1976. Depois, disto, ela teve outros dois casamentos. Seu último divórcio foi em 1996.
Em 1991, alguns anos após a morte de seu amigo Rock Hudson, vítima de AIDS, ela fundou uma instituição, a Elizabeth Taylor HIV/AIDS Foundation (ETHAF), dedicada à prevenção e pesquisas sobre o vírus HIV.
A ETHAF fica em: http://www.ethaf.org/
Liz era também muito amiga de Michael Jackson, que a idolatrava e dedicou a ela a música Lyberian Girl.
Feliz casório, Vovó! Você tem o que contar!

domingo, 8 de agosto de 2010

UMA PAZ NADA PACÍFICA

O período entre o fim da II Guerra Mundial e a queda do regime comunista da União Soviética foi marcado por um clima de tensão e confronto entre as duas maiores potências bélicas do planeta.
Os que viveram esta época sabem muito bem porque este período era chamado Guerra Fria.
Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) viviam à beira de uma guerra que, se deflagrada, afetaria o mundo inteiro, e empregaria as mais terríveis armas jamais inventadas.
O Comando Aero Estratégico da Força Aérea dos Estados Unidos mantinha permanentemente no ar grandes bombardeiros B-47 e B-52 , carregando bombas nucleares e com alvos já designados na URSS, para desencadear uma terrível retaliação, no caso dos EUA serem atacados pelos soviéticos. Hoje se sabe que esta possibilidade não estava nos planos dos soviéticos, que também temiam o aparato ofensivo que os EUA mantinham em prontidão.
A um passo da III Guerra! Nesta foto da década de 60, um B-52 se aproxima para receber combustível de um KC-135. O reabastecimento em voo permitia que os bombardeiros permanecessem mais tempo na sua ronda na estratosfera, à beira das fronteiras da URSS.

Entretanto, para a maioria das pessoas, essa guerra de nervos se resumia à espionagem, troca de ameaças e intrigas. O único incidente aéreo real que ganhou repercussão mundial foi a derrubada do avião-espião americano U-2 sobre a Rússia, em 1960.
Pouco se fala do impressionante número de incidentes aéreos envolvendo aviões militares das duas grandes potências, durante a Guerra Fria.
Entre 1950 e 1969, nada menos de 14 aeronaves militares americanas foram abatidas por caças soviéticos, com a perda de 165 tripulantes! E isto não inclui ocorrências em zonas de guerra, como Coréia e Vietnã. Nem outros incidentes em que as aeronaves regressaram à suas bases apesar dos danos ou trocaram tiros com caças soviéticos.
Entre os tripulantes dados como "perdidos" acredita-se que alguns tenham sido capturados vivos e mantidos prisioneiros pelos russos, embora os russos tenham negado.
A maioria dos aparelhos abatidos eram aeronaves de grande porte, em versões de reconhecimento ou monitoramento/interferência eletrônica, e as acusações soviéticas eram de espionagem e/ou violação do seu espaço aéreo, enquanto que as alegações americanas eram de que estariam em espaço aéreo internacional.
A lista inclui aeronaves dos modelos P2V Neptune, RB-29, RB-50, RB-47, EC-121, RB-57 e C-130.


 O RB-50: apenas uma evolução do B-29, muito empregado como incursor.

Quase todos os abates foram realizados sobre o mar, e sem sobreviventes. Em alguns casos, os soviéticos recolheram e devolveram corpos ou restos mortais de tripulantes.
Uma das exceções foi o caso do capitão John E. Roche, co-piloto de um RB-50 abatido por caças MiG-17 sobre o Mar do Japão em 29 de julho de 1953, que sobreviveu por  22 horas no mar até ser resgatado por um destróier americano. Segundo ele declarou mais tarde, estariam em espaço aéreo internacional quando ocorreu a intercepção. Os componentes das equipes de resgate relataram ter visto lanchas e aviões de salvamento russos fazendo buscas na área.
Houve um incidente em que um MiG-15 soviético foi abatido por um dos caças F-86 Sabre  que escoltavam um RB-45 americano, atacado sobre o Mar Amarelo em 1954.
Mas, fora isto, não há notícias de outros aviões russos abatidos pelos americanos. E não que os russos não gostassem de rondar os exercícios aeronavais da OTAN (Organização do Tratado do Atlãntico Norte). Nessas incursões, os aparelhos mais empregados eram as  versões de reconhecimento e patrulha do gigantesco bombardeiro Tupolev TU-95, cujo codinome para a OTAN era “Bear”. Mas também eram usadas aeronaves Tupolev TU-16 “Badger”, Iliushyn IL-38 “May”, Myasishchev M-4 “Bison” e até o temível Tupolev Tu-22M “Backfire”.
Os objetivos de americanos e russos nestas incursões sempre foram os mesmos: vigiar e escutar as frequências de comunicações dos adversários, gravar as transmissões para tentar decifrar seus códigos de comunicações, identificar as frequências de operação dos radares, e medir o tempo de reação à sua presença em áreas restritas.
Mas, porque tantos aviões americanos abatidos? Seriam os americanos mais atrevidos e provocativos em suas missões de espionagem, ou os pilotos dos caças soviéticos seriam do tipo “ligeiro no gatilho”?
Talvez a resposta seja uma mistura de ambos os fatores. Apesar de apenas no caso do U-2 abatido ter havido uma comprovada e irrefutável invasão do espaço aéreo soviético, aquele tipo de voo já era feito rotineiramente há pelo menos dois anos, para desespero dos russos, que não conseguiam atingir os invasores. Os aviões Lockheed U-2, cuja existência fora mantida em sigilo até 1960, eram capazes de voar na fantástica altitude de mais de  70.000 pés (+ de 21.000 metros), bem além do teto operacional dos melhores caças russos daquela época e fora do alcance até mesmo dos mísseis soviéticos terra-ar. A impunidade com que realizavam esses voos, que eram acompanhados o tempo todo pelos radares russos, provocava a fúria no comando da força aérea soviética. Contudo, até lograrem abater um desses U-2, os russos nunca protestaram, provavelmente para não terem que admitir sua impotência para alcançar os intrusos.

O U-2: Era um verdadeiro planador estratosférico. Com uma envergadura de mais de 34 m., podia planar a mais de 70.000 pés (+21.000 m.)

Isto mostra a ousadia da doutrina que regia as missões de reconhecimento e espionagem dos americanos. Estas provocações, mesmo na era “pré-U-2”, provavelmente criaram o clima para a extrema agressividade dos interceptores soviéticos.
Já as forças da OTAN, da qual faziam parte os EUA, eram regidas por normas e tratados internacionais, e seus membros não tinham liberdade para serem tão agressivos com os aviões de reconhecimento russos.
 Foto dos anos 60: um Phantom F-4 da Marinha dos EUA intercepta um Tupolev TU-16 Badger

Normalmente, quando os inevitáveis Tupolev surgiam durante os exercícios aeronavais, as intercepções eram concluídas com o afastamento dos aviões soviéticos das áreas de segurança, sob a escolta de caças da OTAN.

Foto mais recente: um F-15 Eagle e um TU-95 Bear sobre a costa do Alaska

As vezes, as hostilidades se limitavam a gestos obscenos de pilotos e tripulantes de ambos os lados. Mesmo após a Guerra Fria, americanos e russos não perderam o hábito de espionarem um ao outro. Os Tupolev ainda continuam aparecendo para xeretar, mas revistas especializadas em aviação já exibiram fotos tiradas em voo, onde tripulantes dos aviões russos acenam e mostram cartazes com seus endereços de e-mail, para posterior contato com os aviadores ocidentais! Não foi esclarecido se os americanos fizeram o mesmo. Mas, será que resistiram à oportunidade de "trocar figurinhas" com seus oponentes? Há rumores de que, nos contatos por e-mail, seriam trocadas fotos tiradas por ambos os lados, com suas cameras particulares, durante os encontros, e também fotos das suas famílias.
Talvez a internet também possa promover a paz!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O HERÓI CONTRA A IGNORÂNCIA

OSWALDO CRUZ
(05 de agosto de 1872 - 11 de fevereiro de 1917)
AS ORIGENS
Oswaldo Cruz  nasceu há exatamente 138 anos, em S. Luís do Paraitinga – SP, filho de Amália Taborda Bulhões e do médico Bento Gonçalves Cruz. Oswaldo foi o primogênito das seis crianças do casal. As outras cinco eram todas meninas.
Quando tinha 5 anos, sua família mudou-se para o Rio. Já era alfabetizado pela mãe, quando entrou para a escola. No colégio, não teve muito destaque, ficando na média.
A FORMAÇÃO
Em 1887, com apenas 14 anos(!), foi admitido na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Era no tempo do império e embora não houvesse ainda vestibulares, a condição exigida para a matrícula era uma prova de qualificação, que ele prestou no Colégio Pedro II, apesar de não haver cursado naquele estabelecimento.
No decorrer de seu curso, não pareceu se interessar pelo exercício da clínica médica, como seu pai. Ao invés disso, todas as suas atenções se voltavam para um novo universo, aberto por Pasteur e Koch para as ciências biológicas, afetando diretamente a medicina: a microbiologia.
Paralelamente com seu curso já passava as horas vagas trabalhando como ajudante no laboratório da faculdade.
Em 1892, aos 20 anos, se formou em medicina. Sua tese de doutorado foi um trabalho sobre a existência de micróbios nas águas não-tratadas.
Nesta mesma ocasião, perdeu seu pai, que contava 47 anos, vítima de nefrite, uma doença renal.
A VOCAÇÃO
No ano seguinte, após assumir o consultório e os negócios do pai, Oswaldo Cruz casou-se com Emília da Fonseca, filha de um abastado comerciante português, o Comendador Manuel José da Fonseca.
O presente de casamento de seu sogro foi um excelente laboratório de pesquisas e análises, montado no andar térreo da casa onde o casal foi residir, no bairro do Jardim Botânico.
Em 1894, Oswaldo foi trabalhar na Policlínica Geral do Rio de Janeiro, instituição fundada por médicos com finalidade assistencial. Durante este tempo, se dedicou a aprender a língua alemã, pois era neste idioma que se encontrava a maioria dos textos sobre medicina.
Mas, foi para a França que Oswaldo Cruz viajou, em 1897, beneficiado com uma bolsa de estudos no Instituto Pasteur, em Paris. Na França, além de ampliar seus estudos de microbiologia, fez contato com diversos cientistas renomados e aprendeu inclusive a fabricar instrumentos para utilizar nas suas pesquisas.
PRIMEIRAS MISSÕES
Em 1899, regressou ao Brasil. No mesmo ano, recebeu e aceitou um convite para integrar a uma comissão da Diretoria Geral de Saúde Pública que investigava relação de ratos com a peste bubônica em Santos, SP. Nesta comissão, conheceu Adolfo Lutz e Vital Brazil, outros cientistas também envolvidos nesta atividade.
Em 1900, assumiu a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal, em Manguinhos, onde começou o desenvolvimento e produção de vacinas e soro contra a peste bubônica.
Em 1903, foi nomeado pelo presidente Rodrigues Alves para a Diretoria Geral de Saúde Pública, com a missão de combater as doenças que assolavam o Distrito Federal: febre amarela, cólera, peste bubônica e varíola.
Naquela época, o Rio de Janeiro tinha a triste fama de ser o “túmulo dos estrangeiros”, devido à sua insalubridade, a ponto de nos portos europeus, os navios procedentes do Rio terem que ficar em quarentena antes de aportar, por medo das doenças tropicais. Isto invalidava qualquer tentativa de atrair turistas, apesar das belezas naturais da cidade.
As pesquisas realizadas sob a direção de Oswaldo Cruz, concluíram que no caso da peste bubônica e da febre amarela o contágio se fazia através de vetores, no caso ratos e mosquitos, respectivamente, enquanto que a varíola e o cólera eram disseminados por contato direto e indireto. E, de um modo geral, o que contribuía para a disseminação dessas moléstias eram as péssimas condições sanitárias da cidade. A mortandade era grande e o povo costumava se reunir em vigílias para entoar preces, pedindo a proteção e a clemência divinas.
O prefeito Pereira Passos e o ministro da Viação e Obras Públicas Lauro Müller já começavam então a promover mudanças radicais na paisagem do Rio, com base em um plano diretor. Nos arredores do centro da cidade, houve o então chamado “bota abaixo”, quando foram derrubados prédios antigos e cortiços para a construção de praças e avenidas, inclusive a atual Av. Rio Branco. Foram implantadas as redes de água e esgotos e iluminação a gás nas ruas.
A FEBRE AMARELA
Oswaldo constatou que a disseminação da febre amarela era feita através das picadas do mosquito Stegomya Fasciata, hoje bem conhecido pelo nome de Aedes Aegypti, a exemplo do que já fora constatado em Havana, Cuba, alguns anos antes.
Assim, criou as famosas brigadas de mata-mosquitos, que percorriam as residências e terrenos da cidade, eliminando os focos de reprodução do temível mosquito. Ali começou o seu confronto com a ignorância da população e com a má vontade da imprensa. A campanha, o próprio Oswaldo Cruz e outras autoridades locais passaram a ser alvos de charges, comentários jocosos e até músicas que os ridicularizavam. Mas, suas medidas foram aprovadas pelos cientistas franceses da Missão Pasteur, instalada desde 1901 no Brasil. Finalmente, em 1907, Oswaldo comunicou oficialmente ao então presidente Afonso Pena que estava finda a epidemia de febre amarela.
Charge dos jornais da época: Oswaldo Cruz e seu exército de mata-mosquitos. A inscrição diz: HIGIENE À MUQUE (ou seja, à força). A intenção era ridicularizar a campanha.

A PESTE BUBÔNICA
Contra este mal, já havia também um consenso de que sua transmissão se fazia através das picadas de pulgas oriundas de ratos contaminados. Além de demolir casarões antigos e galpões abandonados que serviam de abrigo aos roedores, o combate se estendeu aos depósitos de lixo, esgotos e acabou por envolver a população, que neste caso colaborou, apesar de alguns fatos bem característicos terem ocorrido.
O governo federal passou a oferecer recompensas por ratos mortos que fossem levados por qualquer pessoa. O valor pago por animal era uma quantia ínfima, mas assim mesmo, incentivou o surgimento de uma nova atividade, a de “ratoeiro”, envolvendo pessoas engajadas na tarefa de caçar ratos por conta própria. Mas, aqui já era o Brasil, e isso também acabou virando um negócio, onde grandes ratoeiros recolhiam o produto de uma enorme massa de caçadores, pagavam-lhe preços ainda menores do que o governo, poupando-lhes o trabalho de irem até aos postos de coleta, e depois entregavam grandes lotes de ratos mortos, pegando a recompensa.
E, como não podiam faltar, haviam também os “espertos” que criavam ratos para negociar, e os que os traziam já mortos de outras cidades.
Mesmo com tudo isso, a doença, que no quinquênio 1900-1904 havia matado 1344 pessoas na cidade, só fez 399 vítimas no período seguinte.
A VARÍOLA
Logo ao assumir a Diretoria Geral de Saúde, Oswaldo Cruz constatou que havia atividades de saúde conflitantes entre órgãos da prefeitura do Rio de Janeiro (então Distrito Federal) e do próprio Governo Federal. Para sanar tais divergências, era preciso leis que determinassem as atribuições de cada órgão. E em 1904, após muita discussão e emendas, foi finalmente aprovada e publicada uma lei que dispunha sobre a saúde pública.
Chamada por seus opositores de “código de torturas”,  seu ponto mais polêmico era a reafirmação da obrigatoriedade da aplicação da vacina contra a varíola. Reafirmação, porque desde 1846 já havia uma lei que tornava a vacinação obrigatória para todos, mas como algumas vacinas, esta lei “não pegou”. E, a cada inverno havia nova epidemia da moléstia.
Mas, agora, o governo não pretendia deixar isto acontecer novamente. Oswaldo Cruz iria enfrentar sua maior batalha contra a ignorância e a maledicência.
A política alimentava a mobilização contra qualquer medida do governo. Com o apoio da imprensa, monarquistas, adversários políticos de Rodrigues Alves e pessoas que achavam indevida a interferência do estado nas decisões individuais, se uniram na mesma trincheira contra a vacina obrigatória.
Foi criada até uma entidade chamada Liga Contra a Vacina Obrigatória! Os jornais publicavam editoriais criticando “o ato de força” do governo, o que no entender de alguns, justificaria a adoção da força para combate-lo! Você já viu este filme? Pois é, naquele tempo, a conversa já era essa...
E por incrível que pareça, até o então senador Ruy Barbosa proferiu discursos contra a medida. Foi mal, hein, Ruy? Mas, anos depois da morte de Oswaldo, o “Águia de Haia” reconheceu o seu valor e o acerto das medidas sanitárias.
Mas, o trunvirato formado por Pereira Passos, Lauro Müller e Oswaldo Cruz recebeu uma “blindagem” adicional, ficando imunes a qualquer ação judicial que pudesse tolher suas medidas sanitárias.
Nesta sequência, nem tudo foi perfeito. A radicalização das medidas e a febre de urbanização acabou por desalojar uma grande parte da população pobre que morava em  cortiços e casarões na área central do Rio. Acossados, eles tentaram se alojar em outros cortiços mais afastados do centro, mas foram alcançados e novamente postos na rua.  Cerca de 1.600 prédios foram demolidos durante o "bota-abaixo". Aos desalojados não foi dada nenhuma assistência ou alternativa, e esta massa, composta em grande parte por ex-escravos e seus descendentes, passou a ocupar encostas nos morros dos arredores da cidade, construíndo barracos cobertos com chapas de folhas-de-flandres e latões de querosene abertos e desdobrados. Era o início da favelização do Rio, fato que escapou aos administradores da época, mais preocupados com a aparência da zona sul e da área urbana central, cartões de visitas do Distrito Federal para quem chegava pelo mar.
A REVOLTA POPULAR
Mas, a remoção da população marginalizada ajudou a aumentar ainda mais a revolta contra a vacinação, a ela associada. Em novembro de 1904, locais como o Largo de S. Francisco e a Lapa viraram palco de uma verdadeira guerrilha urbana, com depredações da iluminação pública, quebra-quebras, destruição de bondes e confrontos com a polícia onde houve até tiroteios.
O desfile comemorativo da proclamação da República previsto para 15 de novembro foi cancelado e o governo interveio com tropas do exército, vindas de S. Paulo e Minas, pois já havia tropas amotinadas na Escola Militar.
A situação já estava sendo explorada por golpistas que pretendiam destituir Rodrigues Alves, e houve finalmente o confronto armado entre um batalhão de cadetes e as tropas recém-chegadas, terminando com a morte do general Silvestrre Travassos, um dos líderes da revolta, e a posterior prisão do senador Lauro Sodré, que também apoiava o golpe de estado.
No meio dessa confusão, Oswaldo Cruz pediu demissão do cargo, pedido que foi indeferido pelo presidente da república.
Em 16 de novembro, foi decretado o estado de sítio, e tropas do exército e da polícia finalmente silenciaram o último foco da resistência, o Morro da Favela, hoje conhecido como Morro da Providência.
Mas, a saúde não saiu ilesa deste conflito. Rodrigues Alves, tentando aliviar as tensões, acabou por revogar a obrigatoriedade da vacina.
Como consequência, em 1908, se abateu sobre o Rio um novo surto de varíola, que fez 9 mil vítimas fatais!
A VITÓRIA E O RECONHECIMENTO
Porém, a essa altura, já eram visíveis as melhorias nas condições gerais de saúde no Distrito Federal, e muitos dos detratores das medidas sanitárias tiveram que reconhecer o seu acerto.
O Rio, livre da febre amarela, da peste bubônica e do cólera, com suas belezas naturais e sua área central renovada e saneada, já começava a receber turistas que sobreviviam à visita e descreviam o que tinham visto, atraindo ainda mais turistas.
Em setembro de 1907, seu trabalho de erradicação da febre amarela no Rio de Janeiro foi agraciado com o primeiro prêmio do 14° Congresso Internacional de Higiene e Demografia, realizado na Alemanha. Ao voltar em fevereiro de 1908, foi finalmente aclamado como herói nacional.
O presidente Afonso Pena sancionou uma lei que efetivava o Instituto Soroterápico Federal como órgão público, passando a chamar-se Instituto Oswaldo Cruz.
A MADEIRA-MAMORÉ E BELÉM DO PARÁ
Entre 1905-1906, Oswaldo Cruz percorreu cerca de trinta portos em diversos estados brasileiros, coordenando mudanças nos aspectos sanitários, de forma a prevenir a propagação de doenças.
Em 1910, ele visitou as obras da ferrovia Madeira-Mamoré, no atual estado de Rondônia, onde a malária atacava aproximadamente 85% dos trabalhadores. Ele recomendou a ingestão de quinino e a permanência dos operários em galpões com janelas cobertas por telas após o entardecer, hora de maior atividade dos mosquitos transmissores da doença.
Em Belém do Pará, no mesmo ano, ele orientou as autoridades locais na aplicação de medidas preventivas contra a febre amarela, como exterminar focos de mosquitos e isolar os doentes com mosquiteiros. Ao cabo de seis meses de uma intensa campanha, Belém erradicou o surto de febre amarela.
Homenagem: O Oswaldo Cruz, navio de assistência hospitalar da Marinha do Brasil, atracado no Rio Madeira, em Porto Velho-RO. O navio é equipado com um centro cirúrgico, uma farmácia, um laboratório, dois consultórios médicos e dois odontológicos. Possui ainda um helicóptero para resgate de pacientes. Navega continuamente, dando assistência à população amazônica.

O LEGADO
A luta de Oswaldo Cruz contra a ignorância e a desinformação transformou o quadro da saúde pública não só no Rio de Janeiro como em toda a nação.
Sua doutrina de medidas sanitárias e preventivas se tornou uma referência adotada pelos responsáveis por ações desta natureza em todo o país.
Hoje, a Fundação Oswaldo Cruz  também é uma referência em pesquisas e na fabricação de medicamentos, vacinas e reagentes para o Ministério da Saúde, sendo sua área de produção considerada estratégica para a Política Nacional de Saúde.
O site da Fundação pode ser acessado em:

http://www.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?tpl=home

O CASTELO
Em 1905, Oswaldo Cruz esboçou um prédio para sediar sua instituição, e encarregou o arquiteto português Luís Moraes Júnior da sua construção.
O castelinho, no estilo neomourisco, com quatro andares, foi erguido com materiais nobres e importados. A escadaria principal tem degraus em mármore de carrara. Azulejos portugueses revestem as varandas e o piso é de mosaicos franceses.
Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1981, o castelo rosado de Manguinhos é para mim, a construção mais bela da cidade do Rio de Janeiro.
O lindo castelo da Fiocruz, em Manguinhos, Rio de Janeiro - RJ.
A DESPEDIDA
Por volta de 1916, o estado de saúde de Oswaldo Cruz  já não era satisfatório. Procurava-se uma forma de afasta-lo das suas atividades em Manguinhos sem melindra-lo. A solução encontrada pelo governador Nilo Peçanha foi nomea-lo para recém-criada prefeitura de Petrópolis. 
Porém, Oswaldo levava suas funções a sério e logo elaborou planos para a cidade, como a implantação da rede de esgotos, dos bondes elétricos, parques  para a prática de educação física, e a conversão do antigo palácio imperial num museu.
Infelizmente, a insuficiência renal herdada do pai o levou à morte em 11 de fevereiro de 1917, com apenas 44 anos. Faleceu em sua casa, em Petrópolis, cercado pela família e pelos amigos Carlos Chagas e Belisário Pena.