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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

quinta-feira, 28 de abril de 2011

MÉXICO 1968: IDEAIS OLÍMPICOS X DIREITOS CIVIS

No ano passado, guardei esta nota para comentar, mas acabei não o fazendo.

A agência AFP publicou em 13/10/2010:

Tommie Smith quer vender medalha dos Jogos do México-1968

PARIS - O americano Tommie Smith, cuja imagem com o punho levantado com uma luva negra após a vitória nos 200 metros nos Jogos Olímpicos do México-1968 se tornou emblemática, decidiu colocar a medalha de ouro à venda, informa o jornal San Jose Mercury News. Smith, 66 anos, colocou em leilão a medalha e os tênis utilizados na prova a um preço inicial de 250.000 dólares, segundo o jornal.
"A medalha é importante para ele, mas a recordação é muito mais importante. Com certeza faz isto pelo dinheiro, mas está desesperado", afirmou a pessoa responsável pelo leilão, que deve acontecer em 4 de novembro.
(Não houve interessados em pagar o alto preço pretendido pelos leiloeiros. Entretanto, a notícia me levou a recordar o impacto causado naquela época pelos eventos que envolveram a conquista da medalha, e o quanto os EUA mudaram desde então.)

O polêmico gesto em 1968: o medalista de prata Peter Norman(e), da Austrália, apesar da atitude respeitosa, declarou seu apoio ao protesto, o que lhe custou a carreira.

Na Olimpíada do México, em 1968, num gesto que chocou o mundo esportivo, os velocistas americanos Tommie Smith e John Carlos, respectivamente ouro e bronze nos 200 m. rasos, ao invés da atitude respeitosa durante a execução do hino nacional americano, vestiram luvas pretas, ocultando simbolicamente as palmas das mãos, e ergueram os punhos cerrados, numa saudação usada na época por grupos de militantes radicais negros dos EUA.
Tais grupos, se contrapondo às ideias de resistência pacífica e integração do Reverendo Martin Luther King, acreditavam numa escalada de violência e separatismo em resposta ao tratamento racista dispensado aos americanos negros em seu próprio país. Em tese, visavam o estabelecimento de instituições e bases para  a criação de uma nação negra com poderes próprios e independente, em contraposição à "América branca".
Esta ideologia separatista e racista era conhecida como black power. Porém, na sua autobiografia, Smith nega ter pertencido a tais grupos, e alega que seu protesto era apenas pelos direitos civis. Outros atletas negros americanos repetiram o gesto durante as competições, mesmo sendo advertidos pelo comitê olímpico.
Os dirigentes olímpicos acharam inadmissível gestos de fundo político durante as competições...entretanto, não podemos esquecer que nos jogos de 1936, em Munique, os atletas alemães faziam ostensivamente a saudação nazista quando venciam, sem que ninguém os reprimisse...
Os dois velocistas foram expulsos da vila olímpica por esta indisciplina. Mais tarde, Smith, Carlos e outros atletas sofreram até ameaças de morte ao voltarem ao seu país. Os movimentos radicais foram sufocados nos anos 70 pela ação do FBI e a situação foi gradativamente mudando para os negros americanos, mas não por ações diretas da luta armada. As novas gerações já eram capazes de enxergar além das trevas do racismo e o antagonismo decaiu de parte a parte. 
Hoje, o presidente dos EUA é um homem originado por um casal “alvinegro”, e foi eleito em um país onde os negros representam menos de 13% da população(*)! Donde se conclui que os eleitores não olharam sua raça, mas suas propostas.
Mas, independente do acerto ou não das ideias que motivaram  o polêmico gesto de 1968, ficou registrada a coragem de expressar publicamente a revolta, naqueles tempos difíceis...E a fantástica marca de 19,83 segs, que perdurou por 44 anos, até ser finalmente quebrada em maio de 2010 por Tyson Gay, que marcou 19,41 segs, em Manchester, EUA , durante os Great City Games !
Porém, o pior estava reservado para Peter Norman, o australiano que foi o segundo colocado em 1968, e se declarou solidário com os americanos. 
Ele também sofreu retaliações em seu país e foi cortado de competições onde seria o favorito. Após um rompimento no tendão de Aquiles em uma das pernas, em 1985, teve complicações e acabou sofrendo uma amputação,  mergulhando depois na depressão e no alcoolismo. Faleceu em 3 de outubro de 2006, em consequência de um ataque cardíaco. Smith e Carlos estiveram no seu enterro e o conduziram até sua última morada. 
Com o passar do tempo, e com a mudança de postura em relação aos fatos daquela época, os dois atletas americanos começaram a ser resgatados e reconhecidos como legítimos em seus protestos, em função das condições que enfrentavam no seu país naqueles tempos.
Hoje, o gesto virou uma estátua na Universidade Estadual de San Jose, onde os protagonistas foram alunos. Em 2008, numa premiação da TV ESPN, ambos receberam o Arthur Ashe Courage Award, como prêmio de reconhecimento à sua coragem.
Os tempos mudaram, e os vilões de ontem viraram heróis... 

(*) O termo "black" (negro) nos EUA não classifica apenas pessoas de cor negra, mas inclui pessoas de aparência branca, porém com ascendencia negra em qualquer grau. Em tese, "com uma gota de sangue negro". E a soma de todos estes graus de mestiçagem é que resulta no citado percentual da população.

Vejamos o que diz a Wikipédia, em um dos parágrafos, abordando a expressão "black people": 
One drop rule
Historically, the United States used a colloquial term, the 0ne-drop-rule, to designate a black person as any person with any known African ancestry. Legally the definition varied from state to state. Thomas Jefferson had slaves who were legally white (less than 25% Black) and legally slaves (mother was a slave). Outside of the US, some other countries have adopted the practice, but the definition of who is black and the extent to which the one drop "rule" applies varies from country to country.
The one drop rule may have originated as a means of increasing the number of black slaves and been maintained as an attempt to keep the white race pure. One of the results of the one drop rule was uniting the African American community and preserving an African identity. Some of the most prominent civil rights activists were multiracial, and advocated equality for all.
Embora não sendo uma lei aplicável a todos os estados americanos, o método ainda pode ser usado livremente para determinar a raça de um indivíduo nos EUA, com fins estatísticos.

23 comentários:

  1. Amigo Leonel....

    Como sempre "verte malemolência" em seu escrivinhamentos.. rss esse teu gingado quêu gosto muitcho de ler.
    - Sabe! sou adepto a protestos ( desde que sejam pacificos ), Simbolos serão sempre idealizados pra fazer frente ou afronto... A diferença que eu sinto é que quando temos entre 16 e 25 anos não somos respeitados como cidadãos compatíveis para tais feitos... e Depois quando estamos entre 45 a 65 duvidam de nossa capacidade pra protestar ( como se fossemos lixo, velhos e acabados ).
    Resta apenas uma faixa com mais ou menos 20 anos aos quais eles usam pra nos botar no xilindró quendo somos pegos em protestos.... kkkk éhhh!! Dura essa realidade Oprimida em que vivíamos e iremos sei lá até quando assistir....

    Abraços e sorry pela declaração longa e revoltada.. rss
    Deusssssssssskiajude
    Tatto

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  2. - "Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de dizê-las". Voltaire.
    - A força das palavras e dos gestos ganha dimensões enormes nos púlpitos, palanques, palcos e podiuns. E o "cale-se" oficial acaba potencializando esse efeiro.
    - Abraços, amigo.

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  3. Leonel,
    Como você sabe, ninguém mais do que eu fica bradando quanto às injustiças que se cometem neste Planeta por causa da cor da pele e que tais. Gostei de ler a respeito desse evento emblemático que repercutiu na sociedade americana e deflagrou novas ações contra o racismo até que, finalmente, as leis racistas foram abolidas só restando aquelas discriminações que sabemos que existem aqui no Patropi também. Quanto as leis Jim Crow que estabeleciam serem "blacks" todos os indivíduos que tivessem 1/16 de sangue negro nas veias ou, como os brancos costumavam dizer "uma gota de sangue negro", estas não existem mais, felizmente. Abraços e parabéns pela "blogada" como diz o professor Chassot.

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  4. Mudaram e eu ainda espero mais mudanças e que todas sejam regidas por sentimentos de humanidade e amor. Amor é o caminho, para o qual fomos criados.
    Belo post Leonel, bem detalhado.
    Uma síntese maravilhosa!
    Boa noite!

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  5. Não sabia desse gesto do punho cerrado e seu significado. Mandela e Luther King, amo os dois, lutaram de maneira correta e lindamente contra a ignorância, o atraso e a estupidez humana.... tanto que viraram ícones! O homem ainda precisa acordar : AMOR ACORDADO urgente!

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  6. Leonel, bravíssimo!
    Foi bom conhecer mais dessa história...

    Sabe, eu não tinha atentado pra esse fato citado por vc, sobre ser a população negra americana bem menor que a porção branca e mesmo assim, num país onde a intolerância racial foi tão terrível, é um feito e tanto.

    Aqui no nosso Brasil varonil, aonde se esconde o racismo embaixo do tapete em momentos de conveniência, será que isso ocorreria? Tenho cá minhas dúvidas. Na escola, nas fichas de matrículas, somos orientados pra perguntar aos pais a cor de seus filhos, mesmo que o sujeitinho branco feito leite ou negro esteja na nossa frente, mas os pais devem dizer a cor "escolhida". Vc não tem noção das barbaridades.

    Um dia espero viver num país em que o povo assuma a sua cor e se orgulhe dela.

    Beijos.

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  7. Amigo Leonel!
    Cá estou me encantando com o seu texto! Bem me lembra destas lutas e, eu e meus amigos, ficavamos torcendo pelos que lutavam como o grande Luther King.

    Um grande abraço e bom fim de semana.

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  8. Jair, você tem razão com relação ao seu comentário sobre a tal lei, que era usada para discriminar, pois ela realmente não existe mais.
    Porém, o método chamado "one drop rule" ainda existe e não há nenhuma lei que impeça que o mesmo seja usado pra fins puramente estatísticos.
    Acrescentei ao texto um comentário da Wikipédia a respeito do assunto.

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  9. Adoro estas aulas de historia, rsrsrs
    Ola Leonel,
    Hoje vindo aqui dar uma olhada nas novidades encontrei este texto maravilhoso que como sempre eu nao sabia de nada, kkkkkkkk
    Mas quando leio aqui me faz aprender.

    Passado é uma coisa muito curiosa, pois é ele que faz o presente ou piorar ou melhorar.
    O que acho curioso nisto é que tem coisas do passado que somente depois de tanto tempo se torna reconhecível, dando mérito a quem naquela época foi desprezado. E isto serve para tantos escritores, pintores, artistas em geral que só depois de morto são relembrados e admirados.
    Por isto que eu procuro admirar coisas do presente, pois sei que existem tantos que actualmente estão lutando por um espaço e são de grande valor e para mim devem ser admirados vivos, devem ser destacados antes que a morte os levem! rsrsrs Neh nao? (Eu por exemplo) kkkkkkkkkkkkkkkkk Eu queria ser sucesso viva! Mas como as coisas andam, acho que nem na morte isto vai acontecer, hehehehe

    Beijos amigo
    Ps: Já estou criando algo para aquela sua ideia la do "ficar" aguarde, rsrsrs

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  10. Leonel,
    Vim aqui só pra dizer que meus olhos encheram d'agua porque eu sou chorona, rsrsrs

    Muito obrigada por tudo que falou em meu blog.
    To fazendo publicidade aqui pra todo mundo ficar curioso e ir la dar uma lida, porque foi lindo demais!

    Engraçado, eu tenho muito da Olivia mas nunca fiz ela chorar, rsrsrs só fiz ela emburrar, que é outro defeito meu! rsrs

    Quanto ao meu comentário você entendeu muito bem o que quis dizer, porque quando comentei eu esqueci de dizer o que você disse, sobre as pessoas que fizeram algo poderem fazer a viagem no tempo e ver o quanto foram importantes por mudanças.
    Sinto tristeza em ver pessoas que deram vitoria aos seus países e depois de muito viver nao ter como se manter e ter de desfazer de coisas para comer.
    São tantos...
    Adoro interagir com você, quero que saiba disto. Quero que saiba que se nao venho aqui pode saber que estou escrevendo aquele livro pois nao vejo a hora de postar o próximo capitulo.
    Mas confesso que estou tendo um pouco de preguiça para concentrar, rsrsrs misturou as ideias, porque alem da ideia do capitulo, estou com a ideia do final e isto ta me cansando, kkkkkk Estou escrevendo um e entra outro e eu corro e anoto pra nao esquecer, rsrsrs
    Coisas de escritor... haushaushaus
    Beijos no coração!

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  11. Obrigada Leonel!
    :)
    Bela foto da praia lá em cima.
    Carla

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  12. O fogo queima Leonel. Sem ele a gente pena. Morre...lentamente...
    Beijos e bom dia!
    Carla

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  13. Bom dia, amigo.
    Pensamento para mais um dia.

    Está no ar uma nova manhã,
    Um novo dia.

    Deus te abençoa com Suas dádivas sem medida, com o bem mais duradouro,
    pois considera sua vida o mais precioso tesouro.

    Para você,
    Desejo todas as cores desta vida.
    Todas as alegrias que puder sorrir.
    Todas as músicas que puder te emocionar.

    Abraços
    Miguel- blog Yehi Or

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  14. Amigo Leonel

    Fiquei muito satisfeito com seu comentário lá no HELP DO TATTO.

    Gostaria muito que você voltasse para ler minha resposta ao seu comentário, que diga-se de passagem foi muito incentivador pra mim.

    Obrigado.
    Um forte abraço
    Tatto T.I.

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  15. Obrigada amigo. Vc sempre tão especial para mim Leonel! Mais as lágrimas, assim como o amor, foram feitas para todos. Parece-me que ninguém escapa disso..kkk
    Bom domingo!!
    ;)

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  16. Belo, sensacional post!Embora, eu não goste de 'bandeiras', creio que, a luta, na época, era extremamente necessária. Lutar pela igualdade, apesar, das diferenças.

    Obrigada, pelo comentário no Balaio.
    Abraço.

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  17. Linda sua foto, mas só consigo ver rapidinho, a tela fica toda preta. Onde fica essa praia? No Rio? Me pareceu ver alguns morros conhecidos.
    Sua postagem aborda um tema bem interessante o racismo americano com seus próprios filhos, qual mãe que entra em depressão pós parto e é capaz das maiores atrocidades com sua cria, inclusive em alguns casos até mata-os. A diferença é que a mãe em depressão, pode tirar a vida e o racismo - como outros comportamentos ignóbeis - mata o amor próprio, instalando o sentimento de menos valia, retira de seus alvos o direito sagrado de ser cidadão e por fim fere a alma. Quem consegue viver com a alma ferida?
    Nós aqui em casa somos brancos de pele, mas nosso sangue tem muito mais que uma gota de sangue negro, tem exatamente cinquenta por cento de sangue negro e índio. Eu olho para meu filho com sua pele branca, seus cabelos negros e totalmente anelados,um verdadeiro mestiço latino americano, inteligente, lindo,feliz e lembro dos seus ascendentes: minha avó filha de negro com índia, o pai dele, um mestiço lindo como ele e me sinto tão orgulhosa de minha cria ter em suas veias esse sangue colorido dessa gente sofrida, mas forte, lutadora e vencedora. Essa homenagem, corajosa para a época deve ter dado a ele uma sensação tão magnificamente boa que valeu os anos de perseguição.
    Linda história Leonel, valeu!

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  18. Maria Emília, esta praia é na Barra da Tijuca, defronte à reserva. Ao fundo se vê a pedra da Gávea, meio encoberta pels nuvens.
    Eu não sei porque no teu computador a imagem desaparece! Ninguém mais me falou isto. Talvez a sua versão do Windows precise de alguma atualização, ou tenha algum arquivo danificado. Infelizmente, não sei como ajudar.
    Grato pelo comentário. Aqui no Brasil, há mais miscigenação que nos EUA, porém o preconceito também existe.
    Abraços!

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  19. kkkk...Gosto das despedidas. Todos os dias me despeço de algo, um preconceito, uma roupa que não uso ....é assim a vida.
    Renovo minha vida assim Leonel.
    Boa semana!
    Carla

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  20. Oi Leonel, tentei tudo que sabia e pouco consegui.Mas agora, vejo alguns milionésimos de segundos do título, antes dela apagar totalmente. Sua paisagem é linda, aliás o que não é lindo feito pelo Pai no Rio de Janeiro?

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  21. É Leonel aquelas pedras já encontraram seu lugar.
    Beijos e boa noite!
    Carla

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  22. Leonel vc é espirituoso. Divirto-me com você. Foi uma mistura que cura....kkk
    Boa noite!
    Carla

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