PLUTÃO E "PLUTARIAS"

Como já sabem há muito tempo os bem informados (neste país, nem tantos), desde 24 de agosto de 2006, nosso sistema solar tem oficialmente apenas oito planetas (Mercúrio, Venus, Terra, Marte , Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). 

Tudo porque nesta data, a União Astronômica Internacional excluiu Plutão da classificação de “planeta”, incluindo-o na categoria recém-criada de “planeta-anão”, onde desde então convive com Ceres (ex-asteróide) e Éris (recém chegado).

Aliás, a descoberta de Éris (homenagem à deusa grega da discórdia), em 2005, está na raiz da polêmica que resultou na desclassificação de Plutão.

Este planeta-anão tem uma massa 27% maior que a de Plutão e, como ele, orbita no chamado Cinturão de Kuiper, na região do sistema solar situada além da órbita do distante Netuno, onde já foram observados mais de mil objetos celestes.

Éris teria que ser classificado como mais um planeta, se persistissem os critérios anteriores.

A curta vida de Plutão como planeta durou desde sua descoberta pelo americano Clyde Tombaugh, em 1930, até a sua reclassificação.

Sua descoberta foi fruto de uma busca iniciada em 1910 por Percival Lowell, visando encontrar o chamado “planeta X” (“xis”, e não “dez”!), cuja existência seria deduzível pelas suas influências gravitacionais no movimento dos planetas externos. Depois, verificou-se que havia erros conceituais nesses cálculos.
Há especulações de que seu nome seja iniciado com as iniciais PL, de Percival Lowell. Mas, na mitologia grega, Plutão corresponde à Hades, o senhor das profundezas do inferno. Por analogia, o suposto planeta encontrava-se nas profundezas mais distantes do sistema solar.

Em 1978, descobriu-se que Plutão forma um pseudo sistema binário com Caronte, seu satélite maior (existem 3). Ambos giram em torno de um centro comum, cada um sempre com a mesma face voltada para o outro. Como um casal dançando!

 Visão polar das órbitas de Plutão (vermelho) e Netuno (azul). As letras indicam o periélio ("q",posição da órbita onde o planeta está mais próximo do Sol)  e afélio ("Q", posição da órbita onde o planeta está mais afastado do Sol). O traçado das órbitas está em cores mais claras acima da eclíptica e mais escuras abaixo. Posições aproximadas em abril de 2006. A escala na parte inferior está em Unidades Astronômicas (UA). 1 UA equivale à distância média entre a Terra e o Sol, aprox. 150 milhões de km. (Imagem: Wikimedia Commons)

O diâmetro de Plutão é de 2.320 km, menor do que o da Lua (3.474 km). O de Caronte é de apenas 1.270 km. Cada rotação do par (dia) é feita em pouco mais de 153 horas (6,39 dias terrestres), e completam uma volta em torno do Sol (ano) a cada 247,67 anos terrestres.

E sua órbita é defasada da eclíptica, o plano formado pela órbita da Terra (e da maioria dos planetas), além de ser bastante excêntrica. Há ocasiões em que a dupla fica mais próxima do Sol que o próprio Netuno.

 Órbitas de Plutão (vermelho) e Netuno (azul), vistas do plano da eclíptica.(Imagem: Wikimedia Commons)

Interessante notar que todos esses critérios, classificações, reclassificações e discussões dizem respeito apenas a conceitos emitidos pelos seres que hoje habitam o terceiro planeta deste sistema. Isto implicou apenas em uma revisão nos livros didáticos que abordam este assunto.

Lá, no espaço em torno, nada mudou! Os corpos celestes continuam tendo os mesmos tamanhos e se movimentando da mesma forma desde muito antes do aparecimento de nossa civilização e do estabelecimento dos fundamentos da astronomia!

Agora: ficou um probleminha para os adeptos da astrologia, pois se as influências astrais de Plutão permanecem as mesmas, independente de sua denominação classificatória, onde ficam as influências de Éris, maior que Plutão, e a de outros astros pouco menores que ele?

Mas, no Brasil, para variar, tudo virou sacanagem: poucos dias depois do “rebaixamento de Plutão”, o jornalista Carlos Chagas, em Brasília, veiculou por brincadeira ou sei lá para quê, a notícia de que havia sido criada uma suposta ONG (Organização Não-Governamental) chamada “Sociedade Amigos de Plutão” (SAP), destinada a restabelecer a condição de Plutão como planeta! 
A sociedade, com sede na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, teria sido fundada por um ex-sindicalista, amigo de Lula, e teria recebido inicialmente uma doação governamental de 7,5 milhões de reais, “para estimular sua ações”!

Como na época, absurdos reais estavam a acontecer quase toda semana, teve muita gente acreditando que se tratava de mais uma baita “plutaria”! Os protestos irritados foram muitos, mas, alguns dias mais tarde, o jornalista acabou revelando que era tudo “fake”!

Pelo menos neste caso!