FRASE:

FRASE:

"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

terça-feira, 1 de março de 2011

O MONSTRO


O monstro está à espreita...
Tento impedir que o medo me domine, empunhando a arma com firmeza...
Ela deveria me dar segurança,
Mas não me sinto seguro...
Lá fora, não escuto nenhum ruído que me indique de onde ele virá...
Meu olhar prescruta as sombras, examinando as áreas de penumbra...
Mesmo apertando os olhos, não consigo distinguir o menor traço da sua presença...
Mas, um pressentimento me faz estremecer...
Mesmo sem vê-lo ou ouvi-lo, eu sinto a iminência de seu ataque!
Tardiamente, começo a perceber então algo que eu tinha medo até de pensar...
Não adianta empunhar armas nem se postar em guarda diante da entrada...
Porque o monstro não virá por aí...
Ele já está dentro!
Nada pode me salvar!
A escuridão onde ele se esconde não está lá fora, mas aqui dentro...
Não apenas dentro de meu abrigo, mas nos recantos sombrios da minha própria mente!
Mas, como ele entrou aí, se estive sempre em guarda para impedir sua entrada?
Na realidade, ele nunca entrou, mas sempre esteve aí...
Ele já nasceu comigo, e conviveu comigo em todos os meus momentos mais íntimos...
Sentiu comigo os prazeres e as dores da existência...
Aprendeu junto comigo sobre as sensações do mundo...
Sabe tudo sobre mim, conhece bem a minha natureza e as minhas fraquezas...
Pode prever minhas ações, reações e pensamentos...
Sua natureza é selvagem e irracional...
Ele não tem ódios, amores nem sentimentos como piedade ou medo!
Toda a sua energia está canalizada para atingir seu objetivo a qualquer preço,
Até mesmo à custa da aniquilação de outros ou de si mesmo...
Se tivesse olhos, seriam frios e inexpressivos como os de um tubarão...
Se me encarasse, eu não veria na sua face qualquer emoção...
Ele faz apenas o que seus instintos desenfreados lhe dizem...
Sua natureza é inconsequente...
Para ele, matar pode ser apenas mais uma etapa na sua busca...
Como pude conviver tanto tempo com ele sem me aperceber da sua presença?
Como pode ele ter convivido tanto tempo comigo sem criar nenhum laço de afinidade?
Quando me dominar, serei exatamente como ele...
Não sentirei qualquer piedade diante da dor e do desespero...
Tampouco me importarei com a agonia das vítimas...
Só o meu próprio fim poderá me libertar dele...
Agora, eu já posso senti-lo chegando...
Terei forças para usar a arma...?

Esta divagação foi inspirada no filme O Planeta Proibido, onde uma expedição científica interplanetária chega a um planeta deserto. Lá, encontram instalações que foram construídas por uma civilização extinta. Entre os artefatos encontrados, existe uma máquina que tem a capacidade de captar, amplificar e projetar a energia do cérebro, ocasionando efeitos físicos em qualquer lugar do planeta. Porém, ao usa-la, o cientista não percebe que a máquina processa também os componentes da psiquê humana, inclusive o ID, componente instintivo, amoral e selvagem que existe no subconsciente de todos nós, e que uma vez libertado, se torna um monstro que fará tudo para satisfazer seus instintos básicos, destruindo quem se colocar no seu caminho.
Eu assisti ao filme quando tinha 12 anos, e a a história me impressionou bastante, se tornando uma referência para mim, no gênero.

Eu já fiz referência a este filme em duas postagens:
e

14 comentários:

  1. Dica inteligente de uma pessoas inteligente Leonel! Eu tenho guardadas algumas cópias de artigos e projetos impotantes meus mesmo. uma vez um tecnico foi partir meu HD e como ~eu não entendia e ele não salvou meus arquivos, perdi tudo e chorei.
    Volto à noite para ler seu post pq agora vou trabalhar e estou quase atrasada.
    Bom dia!!!
    Carla Fernanda

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  2. Olá Leonel!
    Ah, lembro desse filme, e enquanto estava lendo o post, algumas imagens passaram na minha mente. É verdade, aos 12 anos (no passado) o filme impressionaria muito mesmo, mas agora, não tenho tanta certeza, pois os garotos querem outras coisas. Adorei o texto, muito bom de ler. Voltarei mais vezes por aqui. BJssssss

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  3. Leonel,
    Enquanto lia tuas reflexões, me veio à mente exatamento o conceito de ID como abordado no filme "O Planeta proibido". Como também assisti e me impressionei tanto quanto você, senti a mesma sensação, talvez. Gostei da divagação cheia de suspense e alto valor literário, parabéns.

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  4. Pego aqui emprestado uma frase do Jair: Divagação cheia de suspense e alto valor literário... Muito bem escrito, Leonel... Viajei na ideia do filme sem nem tê-lo visto.

    Olha, acho que você é o maior desvendador de mim aqui na blogosfera. Rsrs. Usou o termo perfeito no que diz respeito ao meu "estilo" de escrever: sem compromisso. Obrigada!

    Beijocas... Escritor!

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  5. Leonel,

    Sei que a inspiração foi baseada em um filme.
    Agora, quem de nós não tem um "monstrinho" escondido dentro de si?

    Beijinhosssssss

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  6. Leonel é de impressionar mesmo viu?
    Segundo a antroposofia (estudei 4 anos), todos nós temos uma parte inconsciente que só depois da nossa morte vemos, ou melhor, nos defrontamos com essa figura assustadora, que somos nós mesmos. Tudo que ainda não aprendemos e evoluimos ou que faz mal de alguma forma para a evolução humana....nossa alma. Esta bagagem, esta densidade toda precisa ser resgatada por nós, no momento da reencarnação, onde só assim, teremos a oportunidade de corrigí-la, melhorá-la e assim por diante: até porque o mundo espiritual não consegue absolver, é incompatível com tal energia tão carregada.
    Beijos,
    Ah, e o sapinho feio sumiu como que por encanto. Vai entender?
    Carla Fernanda

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  7. - Arrepiante, amigo. Você usou com maestria os melhores recursos literários na criação de um clima denso de suspense crescente, que se materializou em medo ao interiorizar o monstro e acabou em desespero pelo reconhecimento da sua verdadeira natureza. Puro Hitchcock!
    - Parabéns e um abraço.
    PS: Quero saber a opinião da Regina...

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  8. Leonel amado!
    Belíssima divagação essa sua sobre o "eu". Ter assistido a esse filme aos 12 anos de idade nos mostra as marcas deixadas em seu "isso"/inconsciente. Graças a um mecanismo de defesa desse "isso" (sublimação)pode nos brindar com o que nomeia de "divagação". Modéstia. Freud na formulação de seu modelo psicanaliítico postula que o sujeito é dividido criando assim complicações.Mas como dizer que o "eu" é dividido? Bem, quando uma parte de nós se opõe aos nossos desejos e impulsos, ou seja recalca tal impulso. À principio parecem dois eus co-existindo em um mesmo lugar e estranhos um ao o outro. É`exatamente isso que a psicanálise quer dizer: o recalque expõe a situação de que há uma parte nossa que não reconhecemos como nossa, pelo simples motivo de que essa parte em questão se opõe a uma outra mais aceitável.
    Esse "eu" então começa a ser pensado por Freud como divisível... isso se torna observável na análise das patologias, onde parece que há uma divisão do eu nos processos de defesas onde o eu busca se defender de uma parte dele mesmo que não é aceitável, acabando por perder essa parte.
    Freud cosnciente da divisão do "eu" em dois, batiza de supereu(superego)aquela parte que nos recrimina quando damos vasão a desejos que queremos, mas que não deveríamos querer.Esse conflito nada mais é do que a personalidade para a psicanálise: um conflito de instâncias onde se medem forças,interesses e modos de funcionamento.
    E poderia ficar aqui, ocupando seu espaço e falando e falando desse "artefato" maravilhoso onde cabem monstros, duendes, fadas, feiticeiros... Vou tentar encontrar esse filme nas locadoras. E por falar em... fiquei feliz com a premiação de Natalie Portman: sua interpretação foi fantástica... num papel onde alucinações eram sua realidade diária. O filme, meu amigo, já assisti duas vezes e em ambas saio acompanhada... de um MONSTRO... dos muitos que me habitam.
    Beijuuss n.c.

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  9. Afff meu amigo...depois que enviei é que percebi o tamanho do comentário. Entusiasmei rsrs Me desculpe!

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  10. Não sei se perceberam, mas essa foi uma forma de ganhar uma sessão de análise gratuita de uma profissional de alta competência e atualização!
    E, ainda de quebra, ouvir as interessantes opiniões dos não-profissionais, que também contam muito para mim!
    Abraços a todos vocês!

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  11. Leonel que texto lindo, bem escrito, bem construído, com uma inspiração super bem exposta por uma criatividade maiúscula. Aplausos,muitos, muitos.
    Sabe, eu li pensando o tempo inteiro que seria algum sentimento tipo separação, solidão, quereres (desses que a gente não se permite) e já pensava que qualquer dia ao chegar por aqui, encontraria um belíssimo Poema, mas você explicou...

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  12. Cara!!! Us miolo do Macaco só fais alembrá que por diversas vezes restou retalhos de pavor hoje presentes em mim de antigos filmes de terror....

    Aí que meda que dá... pô!!
    O cérebro é o maior dos fantasmas!!

    Deusssssskiajude
    Abraços do Tatto
    P.S.- Porra que filme véio mêu!! 12 anos tu tinha... hehehehe to di brink´s

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  13. Bom dia Leonel!
    Enquanto pudermos vamos transformando o mundo em um lugar melhor.
    Vc em sua divagação consegui muita realidade ao explicar com muita competência aspectos dos componentes da psiquê humana, segundo Freud. Esta é uma forma de compreender esta verdadeira guerra que temos que travar para equilibrar nosso pensar, nosso sentir e nosso querer.
    Leonel, o que vc posta dá margem para muitos comentários mesmo. Por isto temos vontade de escrever muito ...kkkk
    Parabéns amigo!
    Carla Fernanda

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  14. Maria Emília, eu não tenho o dom da poesia, bato palmas para os poetas desta blogsfera, que são muito talentosos.

    Tatto, os macacos não tem ego nem superego, pois eles são feras mesmo! Bem melhor assim, né? Não precisam ir para o psicanalista! Mesmo assim, você tá sempre no divã da Rê!

    Carla, o que me leva a escrever é o retorno que vocês me dão com seus comentários! Pode escrever a vontade!

    Agradecimentos a todos!

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