À todas aquelas que assumiram a mais nobre das missões.
Na minha época de menino, na Porto Alegre da década de 1950, só se entrava para a escola com 7 anos completos.
Mas, eu, acho que desde os 4 anos, vivia chateando minhas queridas irmãs, pedindo que lessem para mim as histórias em quadrinhos do Pato Donald e do camundongo Mickey, meus primeiros ídolos. Na hora do almoço, era infalível: tinha que ter uma revistinha como acompanhamento da refeição!
Minha irmã mais velha, com 15 anos a mais do que eu, era uma espécie de tutora e teve uma influência fundamental na minha vida. Quando completei 6 anos, ela, em função da minha ansiedade em aprender a ler e como uma preparação para a escola que viria no ano seguinte, me apresentou formalmente às letras e números. Eu achei ótimo, pois assim pude começar a ler sem ajuda de ninguém as revistinhas de que eu tanto gostava. Mais tarde, as "vítimas" seriam as revistas Seleções do Reader's Digest, que ela comprava todo o mês.
Minha irmã mais velha, com 15 anos a mais do que eu, era uma espécie de tutora e teve uma influência fundamental na minha vida. Quando completei 6 anos, ela, em função da minha ansiedade em aprender a ler e como uma preparação para a escola que viria no ano seguinte, me apresentou formalmente às letras e números. Eu achei ótimo, pois assim pude começar a ler sem ajuda de ninguém as revistinhas de que eu tanto gostava. Mais tarde, as "vítimas" seriam as revistas Seleções do Reader's Digest, que ela comprava todo o mês.
Finalmente, com 7 anos, lá fui eu, rumo à Escola Paroquial Nossa Senhora Auxiliadora, que ficava no início da rua Silva Jardim, no bairro Auxiliadora, e dava os fundos para a Igreja N.S. Auxiliadora. O diretor de tudo era o vigário Leopoldo, um padre alto e de cabelos já totalmente brancos, que parecia sempre bem-humorado e tinha uma paciência infinita com as presepadas que os moleques maiores aprontavam. Ele celebrou meu batizado, ministrou a minha primeira comunhão e casou minha irmã mais velha, antes de morrer atropelado por um caminhão sem freios, enquanto contemplava as obras da sua nova igreja.
Nosso uniforme era uma calça azul-marinho e uma camisa branca com listras azuis muito finas, e sapatos pretos, com meias brancas. No distintivo sobre o bolso da camisa ficavam as letras: E.P. (em cima) N.S.Auxiliadora (embaixo). Mais abaixo, depois do ponto final do bonde, ficava a uma escola publica. Naquela época, as escolas públicas primárias eram chamadas de Grupos Escolares. E aquela era o Grupo Escolar Visconde de Pelotas. As crianças usavam um guarda-pó branco e tinham a inscrição no braço: G.E. V.P. Os garotos de lá, quando cruzavam com o pessoal da minha escola, começavam logo a gozação, por causa do “E.P.”, gritando: “Esqueleto perfumado!”. Até minha irmã, que tinha estudado naquela escola, me dar a dica de que eles também tinham um apelido: "vaca podre", por causa do “V.P.”! E assim, começamos a revidar os xingamentos!
Mas, na minha escola, nossa primeira professora para todas as matérias era a Dona Ferminda, uma senhora magra e séria, com cabelos pretos já meio grisalhos e uns óculos de lentes retangulares, sem aros. Confesso que dava um certo receio de encarar o seu olhar penetrante. Depois, fiquei sabendo que ela fora também professora das minhas irmãs.
Quando terminava de tocar a sineta para o início das aulas, cada aluno ficava de pé, perfilado ao lado de sua carteira, como uma tropa militar, até a entrada da professora, que então nos cumprimentava e mandava sentar. Quem chegasse atrasado, levava falta e ficava do lado de fora, aguardando o próximo intervalo! Sem bochincho! No final da aula, o mesmo ritual: de pé, perfilados, até a saída da professora! Bons tempos, aqueles!
Quando terminava de tocar a sineta para o início das aulas, cada aluno ficava de pé, perfilado ao lado de sua carteira, como uma tropa militar, até a entrada da professora, que então nos cumprimentava e mandava sentar. Quem chegasse atrasado, levava falta e ficava do lado de fora, aguardando o próximo intervalo! Sem bochincho! No final da aula, o mesmo ritual: de pé, perfilados, até a saída da professora! Bons tempos, aqueles!
Desde o início, vimos que ela não era de brincadeiras. Como uma Rudy Giuliani portoalegrense, sua política era de tolerância zero! Não admitia nenhuma espécie de conversa durante as aulas, nem alunos distraídos, olhando para os lados enquanto ela falava!
Tinha olhos de águia, e ouvidos de morcego: se pegasse algum incauto conversando, sua paciência se esgotava rapidinho! Ela apontava o infeliz e bradava: “ Fulano, sai do banco!” o aluno levantava, saia para o corredor entre as carteiras enquanto ela completava: “Venha cá!”.
Às vezes, ela ia buscar o moleque pelo meio do caminho e, segurando-o pelos braços colados ao corpo, dava-lhe a sua famosa sacudida, como se estivesse exorcizando algum demônio! Segundo ela dizia, "uma boa sacudida faz um beeem para alunos distraídos..." Depois, colocava-o de cara para o quadro negro, onde ficaria até ela achar que a mensagem tinha sido captada!
Nunca ouvi falar que alguém discutisse os seus métodos disciplinares! Acho que ainda não tinha aparecido aquele tal de Piaget!
Tinha olhos de águia, e ouvidos de morcego: se pegasse algum incauto conversando, sua paciência se esgotava rapidinho! Ela apontava o infeliz e bradava: “ Fulano, sai do banco!” o aluno levantava, saia para o corredor entre as carteiras enquanto ela completava: “Venha cá!”.
Às vezes, ela ia buscar o moleque pelo meio do caminho e, segurando-o pelos braços colados ao corpo, dava-lhe a sua famosa sacudida, como se estivesse exorcizando algum demônio! Segundo ela dizia, "uma boa sacudida faz um beeem para alunos distraídos..." Depois, colocava-o de cara para o quadro negro, onde ficaria até ela achar que a mensagem tinha sido captada!
Nunca ouvi falar que alguém discutisse os seus métodos disciplinares! Acho que ainda não tinha aparecido aquele tal de Piaget!
Enquanto isso, ficávamos recitando repetidamente as tabuadas, ou as combinações de consoantes e vogais. A entonação era musical, parecendo uma cantiga sacra: 7 X 7... 49!, 7 X 8...56!, 7 X 9...63! Ou: B com A... BÁ!, B com E...BÊ!, B com I...BI!
Tudo sob a regência da nossa carrancuda e atenta maestra.
Sua dedicação ao ensino parecia ser integral, mas seu humor parecia sempre meio azedo.
Isto eu pensava, até ao dia da última entrega dos boletins, ao final do ano. Quando chamaram meu nome, eu fui à frente, recebi meu boletim e já ia saindo de fininho, mas ela me chamou e disse: “ Espera, Leonel! Quero apertar a tua mão!” Então, pela primeira vez, vi aquele rosto cansado se iluminar em um lindo sorriso, enquanto ela apertava com força minha mão entre as suas, me dando parabéns pelo 1° lugar!
Hoje, recordo com saudade minha irmã, que amaciou o meu caminho para as letras, e aquela dedicada e honesta senhora que dedicou grande parte da sua vida à nobre tarefa de ensinar crianças a se tornarem pessoas de bem, como ela própria era...
Seja onde estiverem, minhas queridas, estejam em paz...
Leonel,
ResponderExcluirQue bom que você também resolveu abrir o baú de ossos como tenho feito ultimamente. Essa Dona Ferminda é cópia carbono de minha professoara Maria Jamur, rigorosa e justa. Só que quem me alfabetizou foi Doa Lair Schoereder. Bem vindo a galeria das doces recordações!
kkkk .... boa!
ResponderExcluirTambém entrei na escola que era Nossa Senhora, mais da Saúde, com 7 anos também, graças a Deus, tive uma não, várias professoras carrancudas e meu uniforme era não calça, mais saia azul-marinho, que hoje acho muito bonito ...kkkk
O que significa Leonael?
Bom final de semana!
Carla Fernanda
Carla, eu não sei, mas, "Leonael" parece o meu nome escrito errado!
ResponderExcluirSó que eu não achei isto em lugar nenhum do texto!
Abraços!
"Ao mestre com carinho"...é bom recordar desses tempos e dos que deixaram marcas indeléveis em nosso coração. Lembrei das minhas...algumas carruncadas, outras feiticeiras amorosas. Sabe, amigo, nunca consegui compreender (e ainda hoje) essa mágica da alfabetização. Sempre fico encantada vendo as crianças fazendo essas ligações...e não mais que de repente sai da cartola cerebral as frases completas.
ResponderExcluirBeijuuss n.c.
Leonel...
ResponderExcluirCara, tu me teletransportinhou pru passado... êita que lembrei-me de Dona Clélia... rss Fessôra.
Como sou caçula de cinco... sempre que eu entrava em uma escola ou mudava de professor tinha de ouvir uma pusta aladaínha à respeito de Meus outros irmãos " blá, blá, blá " diziam os professores pro caçula... hehehe Era divertido.
Meu "Lifórme" era Camisa Branca, calça cinza, sapato vulcabraz e meias brancas... No bolso da camisa a sigla ( G.E.L.C. )em vermelho "cá entre nóis.. Horrorívis... rsss
Obrigado pela viagem ... amigo
Deusssssssskiajude
abraços do Tatto
- Irmã Zoé, colégio Pio XI, em Barbacena... parece que da primeira professora ninguém esquece...
ResponderExcluir- Acho que vou desenterrar uns ossos, também.
- Valeu, Leonel. Abração, amigo!
Minha primeira professora foi minha tia, que me passou pra uma turma mais forte na metade do ano letivo... rrs. Das outras, pouco lembro, a não ser de uma cuja história nem é tão bacana. Acho que ela podou um tanto de minha personalidade. Qualquer dia conto essa história.
ResponderExcluirSaudosismo bacaninha esse.
Beijos, Leonel...
Foi mal o nome com um a mais. Vacilei. Acontece né? Então pode significar que temos algo em comum e vc agora pode ser meu sócio no ócio.
ResponderExcluirCarla Fernanda
Aliás Leonel o que temos mesmo em comum e que é importante é ter entrado na escola com 7 anos. O que acredito ser o mais correto. A antroposofia defende que só depois que a cabeça amadurece (depois da troca dos dentes) é que estamos prontos para sermos alfabetizados. Antes disso a toda a energia está voltada para o desenvolvimento dos nossos órgãos.
ResponderExcluirQuanto aos erros ortográficos, ocasionalmente cometidos por mim, perdoe-me pq geralmente tenho pressa devido à falta de tempo de ser uma professora que trabalha de 7 da manhã até 5 da tarde.
Carla Fernanda
Hola Leonel,
ResponderExcluirque lindo homenaje haces a tus maestras... yo también soy muy agradecido a una en especial... mi señorita Vilma... también le hice un homenaje en mi blog.
Te dejo saludos argentinos,
Sergio.
Como mostraram os comentários, professora é como Valisére, a primeira ninguém esquece!
ResponderExcluirObrigado a todos!
Ola Leonel,
ResponderExcluirEstou passando aqui para te dizer que eu adorei o seu comentario do capitulo 13, e nesta semana venho com toda a calma para ver estes dois posts seus, que ainda nao li e também responder sobre os filmes.
Nao da para ser agora, te juro que nao estou conseguindo raciocinar de tanto que a minha mente esta cansada por ter passado meu domingo a preparar e terminar de escrever este capitulo que postei.
La no meu blog eu digo que parece que a gente faz ginastica ao escrever e é a pura verdade, estou muito cansada mentalmente neste momento e o corpo também sente, rsrsrs
Mas eu volto com toda a paz do mundo, rsrsrs
Sou sua fa!
Um grande abraço e um beijo no seu coraçao!
Amigo,
ResponderExcluirNossa.....fiquei a lembrar, com saudades, da minha querida professora Silla, do Grupo Escolar Rio Branco! A Silla foi a profe mais marcante da minha vida, mas já foi no 2ºano, autoritária, gritona, durona...foi também profe dos meus três irmãos.
Muitos anos depois estava eu trabalhando, cabeça baixa, quando vi que um colega conversava com uma cliente, sem levantar minha cabeça falei em voz alta: Mas esta é a minha professora Silla Mozillo Sedrez!!!!! Nós duas nos olhamos e começamos a chorar, lá se iam 35 anos e ela ainda lembrava de mim e de minha família!Dizia ela que éramos os alunos dos "guarda-pós" mais limpos que já haviam passados por ela! E os mais educados!
Boas lembranças amigos!!!
Em tempo: Ela já não era mais uma "velha chata" como eu a chamava no passado, era uma "tiazinha" simpática, de olhar doce,também não era aquela tia "imensa de grande" mas sim uma senhora baixinha, voz rouca e felicíssima por ter me reencontrado!
Passei por aqui e li seu belíssimo texto várias vezes e em todas me emocionei muito. Engraçado é que apesar de ter bem claro na memória a "Tia Desoléa" que eu amava de paixão - ela dizia sempre para minha mãe "essa menininha vai ser escritora" - e quase todos os meus outros Professores - meus pais eram Professores e quase todos eles frequentavam a minha casa e eu a deles - eu me via aluna, mas, também, Professora e me lembrei muito do meu primeiro dia de Professora - lógico que a rigidez descrita por você, já não existia e nós as recém formadas eramos até "paqueradas" pelos meninos do Ginásio. Que lembranças gostosas você me proporcionou meu querido novo amigo, obrigada e parabéns pelo texto maiúsculo que me levou de volta para as salas do Colégio Metropolitano no Méier, Rio/RJ, onde com minha sainha marrom e blusa branca estudei até quarta série ginasial. AH... escrevi muito de novo, perdão.
ResponderExcluirLeonel tenho que lembrar-me de agradecer ao Xipan minha indicação ter trazido vc p meu blog.
ResponderExcluirAliás, lembrando de outra coisa referente ao post ainda. Sou de uma família de professora, pode-se dizer. Mina vovó materna era professora de latim, Natália. Minha mãe Berenice foi professora até 70 anos, portanto há 5 aposentada e muio bem, graças a Deus. Continua contando história, o que faz com maestria e ainda ontem, disse-me por telefone que declamou uma belíssima poesia no aniversário de uma amiga.
Beijos,
Carla Fernanda
Estudei no Grupo Escolar Visconde de Pelotas. Usávamos um guarda-pó branco com as letras VP bordadas. Minha primeira professora, excelente e inesquecível mestra, Dona Betty. Devo a ela muito da minha formação.
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