Quando comecei a escrever, ia falar mais uma vez da Trapizonga. O que é Trapizonga? Bem, o nome correto é Large Hadron Collider (Grande Colisor de Hádrons), ou simplesmente LHC, um acelerador de partículas com circumferência de 27 km, construído ao custo de US$ 8.000.000.000,00 na fronteira franco-suíça, onde cientistas de diversas nações pretendem simular condições similares às supostamente existentes no momento da criação do universo. Esta engenhoca bilionária começou a funcionar em março de 2010. Nosso amigo Jair convencionou chama-la simplesmente de Trapizonga.
Mas, acabei saindo pela tangente quando me ocorreu que este projeto poderia ser comparado a outro, iniciado há milhares de anos. E aí escrevi este trecho:
“Imagino como serão vistas pelos seres humanos de 10.000 d.c. as tentativas da ciência atrasadíssima de 2011 em determinar a origem do universo, com base nos seus limitados conhecimentos! Pareceremos tão ridículos como nos parecem os construtores da torre de Babel!”
Bem, neste ponto, me desviei da trapizonga e passei a matutar sobre outra coisa relacionada com a torre de Babel.
A chamada torre de Babel, iniciativa dos descendentes de Noé, após o dilúvio, seria uma torre destinada a alcançar o céu, e portanto desvendar seus mistérios, permitindo que homens alcançassem os domínios de Deus e trocassem apertos de mão com os anjos.
Talvez até pensassem em convida-los para uma partida de futebol, seguida de um churrasco!
Mas, segundo consta na bíblia, o Senhor providenciou para que os homens envolvidos na construção da torre se desentendessem, falando línguas e dialetos diferentes. A palavra “babel” significa confusão. Só então a torre passou a ter este nome.
Difícil se determinar quanto à exatidão de fatos tão antigos, mas não é difícil imaginar que, quando a necessidade de mão-de-obra aumentou, começaram a ser recrutados operários de diferentes regiões, cada grupo com seus dialetos locais, já que não havia rádio nem TV para pasteurizar e padronizar expressões idiomáticas, e as dificuldades de comunicação acabaram tornando o projeto inviável.
A torre de Babel, em concepção artística: um projeto absurdo, pelos padrões de hoje. Mas, foi a dificuldade de comunicação entre seus construtores que interrompeu sua construção.
E isto me fez lembrar de um tempo nem tão distante quando ainda tinhamos expressões dialéticas regionais:
Eu, vindo de Porto Alegre, cheguei em S. Paulo em meados dos anos 60 e, em uma lanchonete, pedi uma “batida de banana”. O atendente fez uma cara meio feia e disse que “batida, só tinha de limão ou maracujá”. E achou que eu estivesse de sacanagem, pedindo batida de banana. Eu então expliquei como se preparava uma batida, com banana, leite e açúcar no liquidificador. Então fez-se a luz: “Ah! Você quer é uma vitamina!”
“Batida”, em S.Paulo e no "resto" do Brasil, era a mistura de cachaça com suco de frutas.
E assim, comecei a descobrir que ninguém lá sabia o que era uma “meia-taça”, mas pediam uma “média” de café com leite. (Lá também descobri que gosto tinha o verdadeiro café, pois lá no sul se bebia outra coisa com o mesmo nome!)
Se quisesse comer uma boa "chuleta", fora da minha terra, tinha que pedir bisteca!
Uma colisão de carros em qualquer lugar podia ser uma “trombada” ou uma “batida”, mas nunca uma “pechada”, como lá em Porto Alegre!
E ninguém sabia que uma “fatiota” nada mais era do que o traje formal, calça e paletó do mesmo tecido com camisa social e gravata. E que um “carpim” era apenas uma meia masculina. Se a mãe ameaçasse o filho com uma “sumanta” estava falando de uma surra!
Para comprar o leite e o pão, ou ingressos para o cinema, só entrando na “bicha” (fila)!
Mas em S. Paulo, descobri que, só para eles, um sinal de trânsito era “farol”. Ultimamente, estão precisando mesmo de faróis na capital paulistana, pois os motoristas estão virando pilotos de barcos!
Mas, depois, fui para o nordeste e em Natal – RN, minha namorada caiu na risada quando um dia eu disse que ia para casa, descansar! Para eles, “descansar” era nada menos do que dar a luz a um filho!
Acho que todo o mundo sabe que na Bahia, comida é “quente” quando está apimentada!
Mas, em Recife-PE (ou como se diz por lá, “no Recife”), ninguém pedia carona a um colega, pedia “bigú”. Se o carro estivesse meio empenado, estava “troncho”. Um parafuso frouxo estava “folote”. Se alguém lhe desse uma fechada no trânsito e você quisesse comprar uma briga feia, era só chamar o outro motorista de “cabra safado”! Podia terminar até em morte!
Numa manhã, entrei numa lanchonete e pedi um suco de graviola. A atendente falou que só tinha suco “natural”. Eu disse que queria mesmo o suco natural, e o suco veio...na temperatura natural, ou seja quente! Ela explicou: - "O gelo ainda não chegou, só tem suco natural!"
Camundongo lá era “catita” e as comidas, tudo a mesma coisa com nomes diferentes: aipim era macaxeira, abóbora era gerimum, etc...
Em Curitiba, se eu pedia um cachorro-quente, o rapaz perguntava: com uma ou duas "vinas" (salsichas)?
Em Curitiba, se eu pedia um cachorro-quente, o rapaz perguntava: com uma ou duas "vinas" (salsichas)?
Mas, a fruta que eu vi com mais nomes diferentes foi a tangerina: no Rio Grande do Sul “bergamota” ou “vergamota”, no Paraná era “mimosa”, em Pernanbuco “laranja-cravo” e em outros lugares “mixirica”!
E olhe que eu só falei de algumas regiões. Nem falei do norte nem do centro- oeste, onde também tinham expressões bem típicas. Também não citei expressões típicas do interior gaúcho, que não são usadas na capital.
Hoje, as redes nacionais de TV estão acabando com alguns regionalismos e padronizando a linguagem. As expressões válidas são as faladas por personagens de novelas!
Nem sei se isto é bom ou ruim, mas já vi uma placa de “tangerina” em uma prateleira num supermercado de Porto Alegre!
Pois é, Leonel, a riqueza de nossas expressões idiomáticas, as vezes confundidas com gírias, é que dá "tempero" à ultima flor do Lácio praticada neste Brasil Varonil. Confesso que quando cheguei em Canoas em 1965 não fazia ideia do que era a tal "faxinha" que os soldados se referiam quando davam informação sobre a localizaçãoda Base a nós paranaenses. Tirar áqua da "pena" era outra coisa que me parecia hilária também. E por aí vai...
ResponderExcluirLeonel....
ResponderExcluirEspetacular o teu texto, sem dizer que mais ainda a maneira gostosa com a qual tu explica... rsss
Muito novo ainda um dia fui a casa de uns parentes recém chegados do Rio e me assombrei ao me perguntarem se ao ir à praia gostaria de levar um "cacete"... DeussssZulivre eu disse... Pois descobri só depois que eles estavam se referindo a uma "bengala" ou baguéte ou corneta ou sei lá.... Mas era pão meRmo e não uma "surra" ou sóva que é como se faz o cacete... rsssss ( pão sovado )... rsrs
Parabéns amigo... felomeláu
Abraços
Tatto
Hoje eu passei mais cedo para ver se te encontrava por aqui. A primeira vez eu cheguei não me apresentei e fui logo comentando, como se já fossemos velhos amigos, perdoa a "falta de noção" da minha atitude. Queria te convidar para ir até o "De olhos fechados" nos fazer uma visita.Nosso Blog é só de Poesias e Crônicas do cotidiano. Somos sete Poetas / escritores e eu que no meio desses vates,tento aprender alguma coisa. Gostei muito daqui, os temas que você aborda são muito interessantes; o de hoje me fez recordar algumas palavras que meus pais falavam e minha família fala até hoje e têm o mesmo significado: "fatiota", "troncho",
ResponderExcluir"batida..." "água ou suco ao natural".
Nós somos de Minas Gerais, isto é minha família. Falo demais, né?
Que beleza, menino. Como dizemos aqui numa gíria que o Brasil todo já fala, teu post está massa! Conheço vários desses termos aí do nordestinês, exceto folote... Muita gente fala quando algo tá frouxo, diz que está "afolozado". Palavra feia da gota, né?
ResponderExcluirAdorei.
Beijos.
Hola Leonel,
ResponderExcluirprecioso tu texto.
Sabes, por acá también hay palabras "regionalismos" que nadie entiende se está en otro lugar de Argentina.
Hay situaciones muy divertidas por eso...jajajaja
Gracias por hacerme reír aún de madrugada...
Saludos argentinos,
Sergio.
Pois é Jair, você lembrou mais esta: a "pena", que significava torneira! Nem sei se hoje em dia ainda tem pessoas falando assim.
ResponderExcluirMeu amgo Xipan Zéca escapou de levar umas "cacetadas", hein? E tem também os "cacetinhos", de 100g!
Maria Emília, você é mesmo um pouco tímida, como diz no teu blog! Aqui nem precisa se apresentar, você pode chegar sem cerimônia, ir sentando e se servindo! Seja bem vinda!
Milene, eu conheço o tal "afolozado". O "folote" é coisa mais lá do Recife. Tem também o verbo "enlarguecer" (alargar)!
Sergio,eu vi uma reportagem do canal Nat-Geo sobre algumas regiões do sul da Argentina (muito lindas!)e vi que vocês também tem seus dialetos locais.
Abraços a todos!
Grande Leonel!
ResponderExcluirQue bacana esse post...sou uma encantada com o nosso regionalismo. Diversidades que já provocaram algumas saias justas mescladas a montes de risadas...Lá no Rio Grande do Sul até o povo entender que não queria um negrinho e sim um brigadeiro era uma verdadeira briga rsrs
Imagino quantas estórias não tem para nos contar... e por favor não nos poupe delas.
Bijuuss n.c.
Pois é, Rê!
ResponderExcluirA minha mãe as vezes defendia uns trocados fazendo "negrinhos" para festas!
Depois os negrinhos foram promovidos a brigadeiro!
Bjs!
Leonel,
ResponderExcluirObrigada por passares lá pelo meu blog, gostado e ficado como meu seguidor. O Tatto é um querido e vários amigos novos por lá chegaram e foram ficando pela indicação dele.
Teu blog é muito simpático e já virei tua seguidora também.....
Fico muito feliz quando chegam novos amigos, meu blog é um blog que como o do Tatto é a HORA DO RECREIO dos blogueiros. Existem os que falam de coisas séria e os que são para o pessoal rir e brincar, o meu fica na segunda turma - vez por outra eu falo algo sério, mas meu forte mesmo é o mundo das piadas visto pela ótica feminina!
Agora...quanto a teu comentário meu por do sol é na beira do Guaíba sim, tu que és gaúcho vais saber bem onde fica, pertinho do Estádio do Inter e pertinho do Hipódromo, tenho, ou, não tenho que me exibir?rsrsrsrs
Posso dar um "pitaco" nas citações das expressões?rsrsrs
Bem, tu esqueceu da SINALEIRA e do CACETINHO..rs...eu paguei um mico king kong em dezembro no Rio, fui no super Rio Sul e perguntei para um atendente se faltava muito para colocarem um "Cacetinho quentinho e feito na hora"! O guri me olhou com uma cara que nem te conto....rs
Seja benvindo lá na JANELA DO GARDEN PLACE sempre que por lá quiseres passar...
Um abraço,
- Da fronteira franco-suíça de hoje à Babilônia dos tempos bíblicos e daí aos mais diversos rincões do Patropi... e enquanto as novelas nivelam por baixo nossos deliciosos regionalismos, nem por isso novas expressões deixam de ser criadas por nós, os falantes:
ResponderExcluir- Kafes Penkes: dialeto Simonês (acho que quer dizer cafona às pencas.
- Cacunjento: Expressão Barcelliana: mal-ajambrado, molenga.
- Nota: o Xipan é Hors Concours.
- Belo texto. Abraços.
Sandra, obrigado pela visita e pelas lembranças dessas coisas dos nossos pagos! O meu primeiro post neste blog foi sobre um fato que ocorreu aí na Praia de Belas, perto de onde hoje é o Beira-Rio.
ResponderExcluirBarcellos, tem também o termo trapizonga, que o Jair criou para designar "coisa grande, cara e inútil"!
Abraços a vocês!
Boa noite Leonel! Fico feliz te tê-lo aqui em meu blog.
ResponderExcluirMuito interessante e inteligente seu post. Percebemos que o homem ainda não percebeu que nosso centro é o coração e não só a razão. O coração deve nortear as ações dos seres humanos cristãos. DEUS não cabe dentro de nenhuma teoria humana. Não é necessário também ficar tentando comprovar sua existência.
Bom, eu como boa mineira morando no nordeste, tenho muitas expressões mal compreendidas por aqui, algumas já nem uso, ou fui obrigada a fazer uma tradução "nordestineza" para me fazer compreender, mais juro que tem uma que ainda não consegui deixar de falar. BOBA não liga não, amanhã é outro dia....blá...blá ...kkk
E por último falar que gostei de verdade do seu blog Leonel.
Prazer!!!
CArla Fernanda
E agora num bom nordestinez: Que astrovenga ou trapizonga da porra é esta? Por que este dinheiro não é gasto em coisas justas e do bem?
ResponderExcluirCarla
Carla, prazer e orgulho em merecer sua visita!
ResponderExcluirDurante dez anos, eu fui um gaúcho vivendo no nordeste, imagina as diferenças de linguagem!
A respeito de coisas como a trapizonga, eu escrevi uma postagem em 23 de agosto de 2010 ENTRE O CÉU E A TERRA, onde questiono o emprego de tanto dinheiro e recursos em coisas como essa, ao invés de aplica-lo em coisas que poderiam realmente dar como retorno melhor qualidade de vida ou até a preservação da própria humanidade. Se quiser, pode ver a matéria nos arquivos deste blog.
Abraços, e volte sempre!