A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte...
(Trecho da música COMIDA, de Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto, sucesso com os Titãs.)
(Trecho da música COMIDA, de Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto, sucesso com os Titãs.)
A cultura faz parte da vida humana. Para nos sentirmos bem, não nos basta a barriga cheia e a segurança de um abrigo. Uma das qualidades humanas é gostar de expor as próprias ideias, assim como conhecer e discutir as ideias alheias. Precisamos ouvir música tocada ou cantada, ler livros ou textos, assistir encenações, competições esportivas, enfim, apreciar a arte e o entretenimento em todas as suas expressões.
Não sou, nem pretendo ser crítico nem entendido em nenhuma modalidade de arte. Me considero apenas mais um leigo apreciador de algumas delas.
Cada um tem seus pontos mais sensíveis em relação à suas interações com o mundo da arte e do entretenimento: alguns preferem ouvir, outros preferem ver, outros preferem ler sobre as coisas. Entre todos os artistas, pintores, escultores, músicos ou escritores os que mais me chamam a atenção são os atores.
Se o pintor usa as cores das tintas para criar paisagens ou cenas, o escultor recorta na pedra ou na madeira formas que reproduzem a realidade, e o músico expressa nos sons seus sentimentos e sensações, como faz o poeta com seus versos, os atores fazem de si próprios os objetos da arte.
José Wilker, o malandro Lorde Cigano, com Betty Faria em Bye Bye Brasil.
Quando representam, e são bons no que fazem, nos levam a crer que estamos vendo não eles, mas suas personagens. Suas expressões e linguagem corporal nos fazem crer que estão mesmo apaixonados, desesperados, raivosos ou assustados. Mexem com nossos sentimentos, fazendo com que os odiemos, amemos, tenhamos medo ou pena deles.
Cada vez que vejo um filme, seja ele muito bom, apenas razoável, ou mesmo ruim, o que costuma me chamar a atenção é em que grau o ator ou atriz me convenceu de que naquele momento, ele é realmente aquele personagem que está representando no filme.
Alguns que me convenceram:
Burt Lancaster como o enigmático executivo bonachão de Enigma de Uma Vida;
Sharon Stone como a mulher vulgar e viciada do bookmaker Robert de Niro em Cassino;
José Wilker como o empresário de teatro mambembe da “Caravana Rolidei” em Bye-Bye Brasil;
Tom Hanks como o professor alistado como oficial do exército em O Resgate do Soldado Ryan;
Will Smith como aquele sofrido e persistente vendedor de copiadoras em À Procura da Felicidade;
Wagner Moura como o duro e obstinado capitão do BOPE da PM carioca em Tropa de Elite;
Elizabeth Taylor como a artista liberada e meio hippie que seduziu o padre em Adeus às Ilusões;
Samuel L. Jackson como o assustador e violento policial meio psicopata em O Vizinho;
Robert De Niro como o arrependido mercador de escravos em A Missão.
Seria inadequado se eu chamasse os atores de heróis, pois isto seria injusto para com os bombeiros, médicos, policiais, missionários e tantos outros que arriscam suas vidas ou as dedicam ao salvamento de outros.
Robert De Niro, como Rodrigo Mendonza em A Missão.
Mas, são eles parte de minha vida, pois contribuiram para diversos momentos de satisfação, assim como outros profissionais do entretenimento, e de todas essas atividades que são exclusivas da cultura humana e que diferenciam o homem dos animais, já que atos elementares como comer beber, e fazer sexo fazem parte do cotidiano de racionais e irracionais. A arte, pelo menos neste planeta, ainda é uma exclusividade humana.
(Desnecessário me lembrar de coisas negativas que também são exclusivas da humanidade.)
Infelizmente, por diversos motivos, eu nunca frequentei teatro com a frequência que gostaria, mas assisti muitas sessões de cinema, e hoje, graças ao milagre da tecnologia, o cinema veio para minha sala.
Wagner Moura (centro), o Capitão Nascimento de Tropa de Elite.
Mesmo assim, dedico especial reconhecimento aos atores do teatro. O ator de cinema tem a chance de repetir várias vezes as mesmas cenas, e, no final, a equipe de edição montará o filme apenas com as melhores, conforme seleção do diretor ou de quem for o big boss, o chefão.
(Quando essa seleção é feita visando mais a parte comercial, nem sempre as escolhas do diretor prevalecem. Por isto, há casos em que alguns anos depois de um lançamento, surge “a versão do diretor”, com as cenas que ele realmente escolheu, não raro mudando até o sentido do filme.)
O ator de teatro tem um desafio bem maior: ele tem que encenar diante da platéia e, mesmo que tenha uma atuação magnífica, terá que repeti-la nas próximas apresentações, vez após vez, exposto a críticas às vezes impiedosas. Se num dia estiver desconcentrado devido a algum problema e errar uma fala ou um gesto, ainda corre o risco de ser vaiado ao vivo e em cores, se a platéia não for muito compreensiva, o que não é incomum.
Não é por acaso que atores de teatro arrebentam quando fazem cinema e são sempre muito elogiados pelos diretores.
Elizabeth Taylor, como a contestadora Laura Reynolds, balança os valores do sacerdote Dr. Hewitt (Richard Burton), em Adeus às Ilusões.
Interessante notar que, no cinema, geralmente os filmes são associados aos atores, enquanto no teatro, as peças se identificam mais com os autores do que com os atores, pois a mesma peça acaba sendo encenada por elencos diferentes, de acordo com a montagem que é feita em diferentes países, locais ou companhias, havendo até mesmo a substituição eventual de componentes do elenco.
Mas, minha modesta homenagem nesta postagem é para todos os atores, do teatro, circo, cinema e TV, que criam arte com suas próprias figuras, me divertem, me emocionam e me dão momentos de satisfação.
That's entertainment!
Leonel,
ResponderExcluirÓtimo texto. Eu, como cinéfilo, também compartilho tuas opiniões sobre atores, eles são tão bons quanto conseguem nos convencer sobre os personagens que vestem. Quero aporveitar para homenagear os atores que mais gosto: Sean Penn - no filme "Além da linha vermelha" ele simplesmente arrebenta como o Sargento Edward Welsh naquela cena em que dá uma bronca no soldado Soldado Witt (James Caviezel). Não fosse o filme tão bom, só aquela cena valeria o ingresso. Outro ícone: Jack Nicholson, qualqer filme desde "China Town" até "A promessa", o cara é demais. Abraços, JAIR.
- "Panis et Circus"... sentença lapidar da antiga Roma dos Césares, que resume as necessidades básicas do "populus".
ResponderExcluir- Não gosto de teatro (defeito de fabricação, acho), mas isto não me impede de admirar atores, atrizes, autores e outros profissionais da ribalta. Como vc disse, há que ter garra!
- Quanto ao cinema, meu gosto é eclético e talvez duvidoso... mas quero lembrar um aspecto que muitas vezes passa despercebido: o trabalho dos dubladores, que têm a difícil tarefa de sintonizar a entonação da voz com a expressão do personagem, sem perda perceptível do conteúdo do diálogo.
- Grande matéria, amigão. Abraços.
Não sei se me enquadro na definição 'cinéfila', mas gosto muito de filme, quase todos os estilos, destacando negativamente as comédias besteirol que jamais me fazem rir.
ResponderExcluirComo Jair, Jack Nicholson me cativa com seu eterno ar de cafajeste.
E pro Rodolfo, queria dizer que não acho que exista gosto duvidoso, existe apenas gostos diferentes. Ninguém é obrigado a gostar apenas dos clássicos, ou o que os críticos de cinema avaliam como cinema de qualidade. Acho que o bacana é a trama envolver.
Beijos, moço dos textos belíssimos.
Quando coloquei alguns exemplos de interpretações que eu achei magistrais, eu já sabia que tinha deixado de fora muitos outros igualmente magníficos. Já que Jack Nicholson também tem muitas interpretações convincentes (quase sempre como cafajestão), como o Jair e a Milene falaram, eu destaco seu trabalho como o diabão em As Bruxas de Eastwick, e também em Questão de Honra, onde enfrenta Tom Cruise e Demi Moore (e perde, já que é o vilão).
ResponderExcluirSean Penn também foi bem lembrado. Mas há muitos outros!
Abraços a todos!