FRASE:

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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

sábado, 11 de setembro de 2010

FUTEBOL: DESABAFO ALVINEGRO

A glória é fugaz, e, no futebol, ela dura às vezes menos de uma semana, mas  a consciência disto não torna os breves momentos gloriosos menos fascinantes...

Quando garoto, eu gostava de ler a revista Manchete Esportiva, que meu irmão, já no seu primeiro emprego, comprava toda a semana, com outros magazines também esportivos. Mas esta revista era a que mais me agradava, pois trazia de forma muito organizada e cheia de fotografias a rodada do campeonato carioca. E ainda tinha comentários de dois expoentes do jornalismo: o rubronegro Mario Filho e o tricolor Nelson Rodrigues.  A coluna de Nelson era “ Meu Personagem da Semana”, onde ele exaltava o jogador que, segundo ele, teria tido maior destaque na rodada.
Nesta quinta-feira, senti saudades dele. Explico abaixo porque.
Jogadores capazes de levantar estádios com suas jogadas e manter animada uma torcida a cada vez que tocam na bola, como eram Pelé, Garrincha e Maradona, que ganhavam jogos, campeonatos e até copas do mundo, não são craques, são ETs, seres de outra dimensão, que surgem como asteróides perdidos e às vezes caem na Terra!
Craques são jogadores diferenciados, acima da média, divididos em diversos estilos, mas partem de uma divisão principal entre duas categorias maiores: a primeira é a dos que impressionam pela regularidade e correção na execução dos fundamentos e no posicionamento tático e, quando surgem as dificuldades, tornam-se ainda mais brilhantes, saindo-se com criatividade de situações onde os outros se perdem. Nesta categoria temos Beckenbauer, o Kayser da máquina alemã dos anos 70, Falcão, o gênio catarinense adotado pelos gaúchos, injustiçado em 1978 e consagrado em 1982, Zidane, o franco-argelino que destruiu nossa seleção em 1998, o “Divino” Ademir da Guia, maestro palmeirense, Didi, o "folha-seca", Zizinho, Gérson, Tostão, Zico, e muitos outros, alguns dos quais só ouvi falar.
Na outra categoria, composta exclusivamente de atacantes, temos aqueles jogadores,  que são como serpentes venenosas: ficam quietinhas na maior parte do tempo, até o bote, sempre certeiro e fatal!
E aqui eu abro um parentese para explicar que sou da velha guarda e o que eu chamo de “atacante” no futebol atual é aquele jogador que no meu tempo se chamava “centroavante” (no RS, era centerforward mesmo, ainda por cima com pronúncia germânica, com o “w” soando como “v”: centerforva! ).
Os bons eram na maioria  altos e fortes, bons cabeceadores, aguentavam o tranco, eram capazes de dominar a bola mesmo sendo empurrados pelas costas, e às vezes passavam uma partida inteira sem receber uma bola “redonda”, só tentando alcançar os chutões e espirradas da sua própria defesa. Até que...acontecia o momento! Numa fração de segundo, o zagueiro adversário errava, ou não alcançava a bola, que ia para os seus pés ou para sua cabeça! Então, era uma chance única e é nesse momento que surgem as diferenças abissais entre o cabeça-de-bagre e o verdadeiro puro-sangue, o verdadeiro matador (podem achar politicamente incorreto, mas esta é a linguagem do futebol!). O zé-mané se assusta, enche o pé, geralmente de cabeça baixa, estoura a bola contra o goleiro ou manda na arquibancada.
Mas o craque sabe reconhecer o momento, a chance e o que fazer com ela! E quando todos se desesperam, se assustam e se precipitam, ele muda o ritmo do próprio tempo, para (do verbo parar, os entendidos dizem que agora não tem mais acento diferencial!) uma fração de segundo, dá um ou dois toques geniais e definitivos!  É o gol!
Pois bem, jogadores assim, eu me lembro, às vezes até irritavam a torcida, pois passavam o jogo quase sem movimentação aparente, pareciam lentos ou desligados do jogo, eram vaiados e xingados, até que de repente... pluft! Gol!
Assim eram Flávio, criado no Inter, chamado Minuano depois de ter ido para o Corínthians, Fluminense e Portugal, retornando ao Inter para ser campeão brasileiro e artilheiro do campeonato em 1975. Assim era Romário, o baixinho (!) capaz de marcar de cabeça entre os grandalhões da Suécia, em 1994! E tantos outros gols! E o aparentemente desajeitado Gerd Müller, arma letal dos alemães, que chutava até de costas para o gol! O lendário Juarez, o "Leão do Olímpico" do Grêmio Portoalegrense, um verdadeiro "panzer"!
Pois bem, felizmente, para os botafoguenses, parece que temos alguém com essas características no Botafogo:  o grandalhão  uruguaio Sebastian “Loco” Abreu!

"El Loco" Abreu recebe os abraços de Marcelo Cordeiro, Marcelo Matos e do resto da equipe após o golaço que decidiu o jogo e interrompeu a trajetória santista de cinco partidas sem derrota. (Foto: Daniel Ramalho  - Agência O Dia).

Como bom centroavante clássico, pouco fez durante os 20 minutos em que esteve em campo, no jogo contra o aclamado Santos, na quinta-feira passada. O Santos estava melhor e Jéferson salvou pelo menos dois gols, com defesas monumentais. Neimar estava endiabrado, e o Santos, no segundo tempo, colocou o anãozinho irriquieto Madson. Marcelo Matos evitou mais um gol santista, numa cruzada rasteira de Neimar.  E aos 25 minutos do segundo tempo, Joel colocou Abreu no lugar de Maicosuel. O Santos estava "vindo para cima", e ele chegou a aliviar dois escanteios, fazendo as vezes de zagueiro. Mas, em um levantamento sobre a área, mostrou as garras, e a cabeçada decaiu raspando a trave do assustado goleiro do Santos. Até que, quando tudo parecia já terminado, aconteceu: aos 45 minutos, outra bola alta  caiu na cabeça de Edno, ele tocou para o meio da área, e a  “pelota” caiu nos pés do uruguaio. O goleiro, desesperado, jogou-se na frente, para levar a bolada, mas...a bolada não veio! Ao invés disto, um leve toque embaixo da bola fez com que ela subisse em curva apenas uns dois palmos, o suficiente para deixar o aturdido guardião da meta santista completamente fora da jogada. No final da curva, a bola tinha um encontro marcado com a chuteira do craque, que então sim, fuzilou para as redes, apesar do desespero do zagueiro que tentava defender o seu arco. Naquela fração de segundo, tudo o que foi feito durante a partida desapareceu. Pedaladas, dribles, jogadas de efeito, tudo se perdeu nas entrelinhas! O resultado do jogo estava cruelmente selado!
Se eu fosse Nelson Rodrigues (que pretensão!), diria que "El Loco" Abreu seria o meu personagem da (ou do meio da?) semana!

4 comentários:

  1. - Parece que o espírito inquieto do Nelson Rodrigues encontrou um intérprete à altura (não vou chamar um amigo de "cavalo"). Quando a palavra escrita se transforma em imagens vivas na nossa mente, o nome disso é talento.
    - "El Loco", porém, tem dois defeitos graves:
    1. Sobra-lhe o preto na camisa - cores mais alegres, como o grená e o verde, combinariam melhor com o branco;
    2. Não é brasileiro. E se tentássemos convencê-lo a naturalizar-se, estaríamos provocando um "casus belli" com um país amigo.
    - Um abraço, Sr. Leonel "son" Rodrigues!

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  2. Entendo os "defeitos" de "El Loco", mas os tricolores também tem um "matador" de respeito: Washington II, para não confundir com o outro não menos letal, dos anos 80.

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  3. Você se espelha em Nelson Rodrigues, mas quem deve estar dando vivas à sua brilhante análise do jogo e a história do futebol é outro grande jornalista: João saldanha que, tenho certeza, você vai dizer que não gosta por que ele tinha carteirinha do PCB. Abraços, JAIR.

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  4. Jair, infelizmente, ninguém é perfeito, nem mesmo o João Saldanha, um grande botafoguense e que, ao contrário dos jornalistas que eu vejo hoje (com poucas exceções), entendia mesmo de futebol.
    Só não entendia de história, pois caiu na armadilha da utopia socialista, como tantos e tantos...

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