Há 14 anos compartilho
minha casa com uma gatinha vira-lata que apareceu do nada e se
instalou com a maior sem-cerimônia, me adotando como seu mordomo.
Os gatos tem tido uma
quase sempre bem sucedida parceria com os seres humanos, desde há
séculos.
Consta que teriam sido os
egípcios os responsáveis por esta aproximação, e, incrivelmente,
os maiores beneficiados foram os humanos!
Não pretendo dar uma
aula de história, mesmo porque outros blogs apresentam de forma bem
mais didática os fatores que envolveram o início deste
relacionamento. Apenas narro os fatos de maneira informal, como num
bate-papo. Os egípcios viviam em uma região onde o ciclo climático
limitava as atividades agrícolas, que forneciam a base alimentar
para a população. O plantio, cultivo e colheita seguiam calendários
bastante definidos, e por isto os egípcios desenvolveram seus
estudos sobre astronomia, e aprenderam a interpretar o efeito dos
movimentos da Terra sobre as estações do ano e o clima. Tudo para
ter uma colheita bem-sucedida. Quando tinham sucesso, geralmente as
safras eram maiores do que as requeridas para consumo nas
entressafras, e o excedente ficava armazenado em celeiros, para
suprir as necessidades, no caso das próximas safras não serem tão
abundantes.
Esta moça entrou lá em casa e se instalou com ares de dona do pedaço...
Porém, mesmo com tais
precauções, em determinados momentos eles se viram ameaçados pela
fome, devido a uma praga difícil de combater: ratos!
Os ratos também
desenvolveram uma associação com os humanos, mas de uma forma que
só beneficiava a eles: invadiam os celeiros e devoravam o que podiam
dos grãos armazenados. Além disto, grande parte do que não era
devorado ficava contaminado pelos seus dejetos, ficando inadequado
para o consumo.
Entretanto, as regiões
desérticas em torno das povoações egípcias eram abundantes em
gatos, em seu estado selvagem.
Em situação normal, os
felinos viviam em tocas apertadas e bem escondidas, e sendo animais
de pequeno porte, eram presas de diversos animais maiores, como
chacais, raposas e linces. Mas, sendo eles também predadores, tinham
a difícil rotina de ficarem escondidos na maior parte do dia, saindo
de suas tocas apenas à noite, para descobrir, caçar e trazer para
seus filhotes insetos e animais menores, como pequenos répteis,
pássaros e... ratos!
Mas, suas saídas
precisavam ser muito breves e eficazes, para que ficassem expostos o
menor tempo possível, evitando que, de predadores, se tornassem
presas. Os gatos são caçadores rápidos, silenciosos e certeiros!
Especialistas em
comportamento animal de um canal de TV a cabo especializado em fauna
estabeleceram um ranking de animais predadores, baseados no
percentual de sucesso de suas investidas. O vencedor foi o gato,
superando tubarões, orcas, lobos outros menos votados.
Mas, voltando ao Egito
antigo, os egípcios viram com esperança que à noite, os gatos
venciam a timidez, se aproximavam dos povoados e partiam com sua
habitual agressividade e eficácia contra os ratos, depois de
verificarem que os humanos não representavam ameaça para eles. Pelo
contrário, os egípcios logo perceberam que a presença dos felinos
era uma dádiva dos céus, e dentro de sua religiosidade, atribuíram
isto a uma intervenção divina!
Assim, os gatos passaram
a ser bem tratados e bem vindos nas casas e povoações, com status
de enviados dos deuses, e portanto sagrados.
A partir da segunda
dinastia egípcia, foi incorporada às divindades uma deusa gata,
chamada Bast ou Bastet.
Imagem egípcia de Bast. Existem outras representações em que ela é uma mulher com cabeça de gata.
Bast era considerada como
os olhos do deus-sol Rá e protetora da maternidade, da família e da
cura. Os médicos egípcios a adotavam como símbolo.
Os templos consagrados à
deusa abrigavam diversos gatos que, quando morriam, eram mumificados,
como os nobres e faraós.
No Egito, quando um gato
da casa morria, as pessoas da família raspavam as sobrancelhas em
sinal de luto. Quem matasse um gato poderia ser condenado à morte.
Depois de ter salvo o
povo egípcio da fome, os gatos, sempre cumprindo sua finalidade
protetora, passaram a ser adotadas como animais domésticos,
desfrutando de todos os direitos da casa.
Por isto, não estranhe o
jeito folgado e a postura exigente dos gatos...eles um dia evitaram
que os homens morressem de fome!
Segundo C. W. Ceram essa gata era a deusa de Bubaste. Ele não esclarece se a deusa tomou o nome da cidade ou vice-versa.
ResponderExcluirAbraços.
Ceram sabia das coisas. No ginásio, eu tinha um professor de história geral que sempre tinha na mesa um exemplar de DEUSES, TÚMULOS E SÁBIOS, ao lado do livro-texto.
ExcluirAbraços, Barcellos
Acho que Cleópatra era considerada a encarnação de Bast. Bem, euzinha não tenho muito apreço nesses bichanos e nem sei te explicar os motivos. Talvez de outras vidas rsrsrs Gosto mesmo é dos cães! A sua dona do pedaço é bem bonitinha e daqui percebo que seus bons tratos de mordomo tornaram a moça realmente uma Rainha do lar.
ResponderExcluirBeijuuss Leonel e bom carnaval!
Eu sempre gostava mais dos cães, até que a convivência de 14 anos com minha pequena senhora me ajudou a compreender melhor os felinos.
ExcluirHoje gosto dos cachorros e gatos da mesma forma, embora eles demonstrem sua amizade de formas bem diferentes!
Feliz carnaval na roça!
Bjs!