FRASE:

FRASE:

"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

PIERRE CLOSTERMANN - UM CURITIBANO NA RAF

Nascido no Brasil, mas de nacionalidade francesa,  por ser filho do banqueiro francês Jacques Clostermann, que morava no Brasil, Pierre Henri Clostermann foi  o maior ás da aviação de caça francesa na II Guerra Mundial.
Pierre nasceu em Curitiba, em 28 de fevereiro de 1921.  Estudou no Brasil e pouco antes do início da II Guerra Mundial, foi para os EUA, cursar Engenharia Aeronáutica. Em 1940, após a queda da França, ele abandonou os estudos de engenharia e embarcou para a Inglaterra, onde cursou uma escola de pilotos militares, como voluntário pelos “Franceses Livres” do General  Charles De Gaulle.
Graduado como sargento-piloto, na Real Força Aérea Inglesa (Royal Air Force - RAF), a princípio fez parte da formação do esquadrão 341,chamado Grupo Alsácia, uma unidade formada exclusivamente por aviadores franceses.

Em julho de 1944, numa breve e discreta cerimônia num aeródromo provisório em território francês, Pierre Clostermann é condecorado pelo sorridente Ministro da Aeronáutica Britânico, Sir Archibald Sinclair, com a Distinguished Flying Cross (DFC). 
(Foto do livro O GRANDE CIRCO.)

Em julho de 1943, obteve suas primeiras vitórias, abatendo dois caças alemães Focke-Wulf FW-190 numa mesma missão.
Porém, envolveu-se em um nebuloso episódio, durante uma missão onde era o  avião-ala, encarregado de proteger a retaguarda do comandante da unidade, o lendário René Mouchotte, o primeiro não-britânico a comandar uma unidade da RAF. Segundo sua própria narrativa, ele perdeu contato visual com o seu líder , após este ter feito uma manobra muito radical, e envolveu-se em combate individual com caças alemães, abatendo um deles. Mais tarde, ouviu-se pelo rádio a voz de Mouchotte, comunicando estar sem cobertura, sob ataque inimigo. Mouchotte acabou sendo abatido e morto neste combate, enquanto Clostermann obtinha mais uma vitória.
Depois disso, parece que o clima ficou desfavorável para ele, no Grupo Alsácia, e Clostermann foi transferido para outro esquadrão da RAF, passando a voar junto com pilotos ingleses.
Ele participou da fase final da guerra e, pilotando caças Supermarine SpitfireHawker Tempest, abateu confirmados 23 aviões alemães, além de nove prováveis, sem contar aviões, tanques, viaturas militares e outros alvos destruídos no solo. No seu livro, os registros são expostos de forma mais completa, porém, isto ainda geraria muita discussão, em épocas mais recentes.
Por estes feitos, recebeu a Distinguished Flying Cross (DFC), a mais alta condecoração aeronáutica inglesa, além de diversas outras, inclusive comendas americanas e francesas, como a Legião de Honra (mais tarde, recebeu do Brasil a Ordem do Mérito Santos-Dumont).
Ao final do conflito, ele comandava uma ala(wing) inteira da RAF, e tinha a função e posto de wing-commander (tenente-coronel), mas foi integrado na Armée de l'Air (Força Aérea Francesa) como primeiro-tenente, como "deferência especial", pois sua formação fora apenas como sargento ao ingressar na atividade aérea, e ele não havia concluído o curso superior.

Ao final da guerra, Pierre Clostermann se despede do seu Hawker Tempest V, batizado "Le Grand Charles" em homenagem a Charles De Gaulle, líder dos "Franceses Livres". As cruzes sem o fundo preto representam aviões alemães provavelmente abatidos, mas ainda não homologados como tal. (Foto do livro O GRANDE CIRCO.)

Isto o deixou aborrecido e ele solicitou sua desmobilização imediata da Armée de L'Air!
Em 1948, colocou partes de seu diário de guerra num livro considerado pela crítica especializada como a melhor narrativa dos combates aéreos da II Guerra, Le Grand Cirque, publicado no Brasil pela Ed. Flamboyant nos anos 60, com o título O Grande Circo. Possuo ambas as edições, a francesa e a brasileira.
O Grande Circo foi meu livro de cabeceira na adolescência. Passei bons momentos "voando" nas páginas deste livro, espiando sobre o ombro de Pierre Clostermann, enquanto ele disparava os canhões de seu potente Hawker Tempest contra os  caças Me-109 e FW-190 alemães.
Depois, Clostermann escreveu também o livro Fogo No Céu (original: Feux du Ciel) - Ed. Flamboyant -1966, onde conta episódios baseados em atividades aéreas de outros pilotos, em diversos teatros de operações aéreas da II Guerra.
Clostermann concluiu seu curso de Engenharia Aeronáutica, e ainda voltou a voar anos depois pela Armée de L'Air, na guerra contra a Argélia, o que rendeu mais um livro: Episódios da Guerra Aérea Na Argélia (Ed. Flamboyant) e além disto, teve sua patente de guerra reconhecida, sendo reformado como coronel.
Mais tarde, exerceu cargos na indústria aeronáutica, nas empresas Max Holste e na divisão francesa da Cessna Aircraft  Company. Entrou também na política e uma de suas ações, como parlamentar ligado à indústria aeronáutica francesa, foi tentar obstruir a aquisição de aeronaves brasileiras pela Armée de L'Air, na década de 80!  Assim, meu herói virou vilão! Contudo, estava defendendo os legítimos interesses do seu país!
Mas o ás francês falhou em abater os Xingus e Tucanos da EMBRAER,  usados até hoje pela Armée de L'Air!
Touché, Pierre !

Embraer 121 Xingu: assim como o Embraer 312F Tucano, até hoje operado pela Armée de L'Air, apesar do lobby contrário de Clostermann. (Foto: Stéphane Pichard - AIRLINERS.NET)
Em 2004, a editora brasileira Adler, especializada em livros e gravuras  sobre aviação, promoveu, com apoio da Força Aérea Brasileira, um encontro na França,  de Pierre Clostermann com pilotos veteranos do 1º Grupo de Caça da FAB, que também atuaram na II Guerra. Nesta ocasião, o piloto francês autografou uma série de gravuras dos aviões voados por ele, emitidas pela editora.
Durante a guerra das Malvinas,  ele elogiou a coragem e os feitos dos pilotos argentinos, alguns ex-alunos de seu filho, também piloto militar, com quem aprenderam a pilotar os aviões Mirage. Isto lhe custou diversos ataques por parte de alguns jornais ingleses, que questionaram suas vitórias e condecorações inglesas, obtidas na II Guerra.
Mas tudo não passou de uma série de equívocos,  usando como pretexto os critérios diferentes para classificação de “vitórias”, segundo padrões da RAF e da Armée de L'Air.
Pierre Clostermann faleceu em 22 de março de 2006 em Montesquieu-des-Albéres, na França.

Notas adicionais:

1 - Existem versões diferentes sobre o período da vida de Pierre Clostermann nos anos  compreendidos entre seu nascimento e o início da II Guerra Mundial. A versão que eu apresento é a que consta na contracapa da edição brasileira de O GRANDE CIRCO. 

2 - Sobre seu pai, a Wikipédia o menciona como diplomata, mas ele só exerceu as funções de Consul Geral da França no Brasil no pós-guerra, no período entre 16 de outubro de 1949 a 31 de maio de 1954.

3 - Na edição original  francesa do livro Le Grand Cirque, havia uma foto de um jovem oficial alemão, equivocadamente legendada como sendo do aviador e ás austríaco Walter Nowotny. Na edição brasileira de 1966, esta foto já havia sido suprimida.

4 - Sobre Walter Nowotny, nas edições que possuo, há outro equívoco, no capítulo dedicado a ele, onde são citadas as circunstâncis sobre a sua morte. Este assunto é abordado na postagem: QUEM ABATEU O ÁS NOWOTNY? (Clique no título para acessar).

23 comentários:

  1. Sensacional,
    Você, além de dar uma pincelada maiúscula na vida e obra desse ás, ainda consegue colocar algumas informações de cocheira que valorizam o texto e mostram uma pesquisa séria. Como você, eu também li aquela série Flamboyant e lembro de "O grande circo" de Closterman, ótimo livro. Parabéns pela postagem, JAIR.

    ResponderExcluir
  2. Leonel meu amigo....

    Li e achei sensacional, apenas uma curiosidade!
    - Aquelas cruzezinhas na lateral do Vião, na 2ª foto... Significam " Combatentes ABATIDOS ? ".. rss

    Valeu a leitura... P.S.- Adorei o Link do POMBO... Muito baõ...kkkkk
    Abraços
    Tatto

    ResponderExcluir
  3. Tatto, as cruzinhas (neste caso, miniaturas das insígnias usadas pelos aviões alemães) pintadas na lateral do avião significavam cada uma delas um avião de combate do inimigo, derrubado em voo! Quando confirmado, por testemunho de outros pilotos, pela camera de bordo ou pelos destroços localizados no solo, era preenchida com a cor preta. Quando ainda não confirmado oficialmente, apenas o contorno. Estas marcas não eram padronizadas, mas feitas pelos pilotos, por ostentação, cada um à sua maneira, e não eram consideradas pelas forças armadas, apesar de permitidas.
    Para a contabilidade militar, o que valia mesmo era o que constava na ficha individual de cada piloto.
    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Leonel,

    meu querido amigo "ÁS DO ASTEROIDE"!!
    (Ih, querido,agora terás que mudar graficamente um tiquinho seu título do blog...é que a partir de 2012, mesmo a contragosto nosso, todos teremos que aderir à nova(e intragável) ortografia...!
    Desculpe pela dica, amigo, é que eu já tou me preparando pra ir me acostumando a ela... senão você vai pensar que a 'fessora escreveu o interessante nome do teu blog ...errado!!rsrs

    ***
    Enquanto você passeou pelos portões (dos idos de março de 2010!) nos Botões Madrepérola, eu me enchi de cultura no grande salão de sua "memorável biblioteca para assuntos bélicos", em agosto, do mesmo ano!!

    Gostei de ler!
    Amei aprender!

    E, sabe o que eu mais apreciava em Saint-Éxupery?? Não, não era a leitura 'cativa' do Pequeno Príncipe!!

    -Amava ler as obras daquele autor sobre aviação, e ele tem muitas, como você sabe melhor do que eu, meu querido. Era um deleite!
    E como disse o Jair: que pesquisa!! você foi fundo mesmo! Parabéns pela elucidação, não conhecia o nome de Pierre Clostermann...

    Um grande abraço a você!
    Tenha uma ótima semana, junto dos seus!
    E obrigada por colocar o link...

    ResponderExcluir
  5. ...ops...Exupéry...
    e eu falando de ortografia...rs

    ResponderExcluir
  6. Estou com vontade de ignorar essa p...de ortografia do Ministériu da Istupidez!

    ResponderExcluir
  7. Ah, amigo, não xinga a coitada!!rs
    Remédio amargo e istúpidu esse, lá isso é mesmo!!
    Argh!

    ResponderExcluir
  8. É como se nos sentássemos todos confortavelmente para uma belíssima aula de História.

    Perfeito, professor!

    Beijo...

    ResponderExcluir
  9. Mais um tanto de história pra essa semianalfabeta da aviação.
    Beijuuss, amigo, n.a.

    ResponderExcluir
  10. e quanto as novas regras...rsrsrs...tôcumcê e num abro!

    ResponderExcluir
  11. Grande Pierre Henri Clostermann e belas obras para conhecer Leonel. Deve ser bem interessante!!
    Concordo com vc sobre a gente ter que saber para onde manda nossa força, ou energia do pensamento, ou assina...kkkk...isso é sério mesmo!
    Boa noite e beijos,
    Carla

    ResponderExcluir
  12. VENDICE DISSE ONARIO HORTO GRAFICO CEM UZO. PRESSO DE OCAZIÃO!
    A única coisa boa dessa reforma foi a queda do trema.
    Essa matéria, para mim, foi cinco estrelas, amigão. Parabéns!

    ResponderExcluir
  13. Guri,

    Que espetáculo!
    Adoro estas tuas narrativas sobre fatos históricos, sobre a vida de grandes homens e seus grandes feitos!
    Nosso amigo Leonel...sempre sinônimo de cultura!!


    Beijinhossssssssss

    ResponderExcluir
  14. Leonel,
    Passando aqui pela manha para dar um olhada no novo post e deixar um bom dia!
    Quero ler com bastante calma tudo, entao depois eu volto. Garantido, rsrsrs
    Beijos

    ResponderExcluir
  15. Na minha humilde opinião, muito conhecimento Leonel não é revelado para que não saibamos o poder concedido por Deus a todos nós, seus filhos....e muita coisa quando negada, não revelada tem teor luciférico, mais esconde que mostra. Infelizmente uma herança conciliada entre poucos....e que afeta a todos.
    Haveremos de acordar nestes tempos em que o mal se levanta para confrontar o bem....
    Bom dia!
    Carla

    ResponderExcluir
  16. Selinho comemorativo da Ana pro Asteróide na página de Troféus do Sete Ramos.

    ResponderExcluir
  17. Li tudo! rsrsrs
    Leonel o modo que voce cria uma biografia é muito agradavel de ler.
    Quando voce mostrou a imagem do aviao dele dizendo:
    "Ao final da guerra, Pierre Clostermann se despede do seu Hawker Tempest..." Achei muito original da parte dele fazer o que fez no seu aviao. Ficou tao pessoal!
    Agora te pergunto: Os aviadores tinham mania de sempre fazer assim, ou somente ele que fez? Me deixou curiosa, porque daqui imaginei que o seu aviao deve ter um valor imenso por ele ter sido tao criativo.
    Gostei também quando li voce dizendo que este livro O Grande Circo fez parte da sua adolescencia e que voce ao ler entrava na sua historia fazendo o protagonista.Que viagem deve ter sido, voce voando e bombardeando, rsrsrs
    No meu blog eu falo sobre isto... Sobre o escritor fazer o leitor imaginar e viver a historia como se ele estivese la... rsrsrs Esta capacidade de um escritor conseguir fazer o leitor entrar na historia, para mim é de uma pessoa altamente capaz de colocar em uma folha toda a emoçao vivida ou mesmo imaginada.
    Esta foi outra coisa que gostei deste personagem... A cada momento vivido ele depois relatava ao ponto de criar um livro.
    Daqui dou os parabéns para ele, por toda sua capacidade de criar, pelo tempo em que viveu.
    Beijos

    ResponderExcluir
  18. Quanto ao seu simpático comentário no meu blog, obrigada Leonel! Posso dizer exatamente o mesmo de você.
    Beijos e boa noite!!

    ResponderExcluir
  19. Passando por aqui para convidar-te a passar no meu cantinho,se gostares me add para trocarmos informações...Eu gostei do seu e já te add,bjsssssssssss

    ResponderExcluir
  20. E pensar que o Mercado Livre está vendendo por 40 reais (!) um exemplar de FOGO NO CÉU com dedicatória do próprio Clostermman a um amigo brasileiro (evidentemente, o dono do livro e que provavelmente já morreu...). Há uma foto da folha de rosto, já amarelada, onde se pode ler nitidamente as palavras com que o autor se dirige ao seu "velho amigo Augusto", e fala das "lembranças velhos tempos passados" ... O ano é de 1952. Quarenta reais. Realmente falta de senso histórico e ignorância.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente, parece que poucos reconhecem o valor histórico de algumas coisas. Em Curitiba, há alguns anos atrás, tive a oportunidade de ver e folhear um exemplar do livro TROTDZEM, de Hans-Ulrich Rüdel (No Brasil, PILOTO DE STUKA) com a dedicatória do autor, que esteve na América do Sul, nos anos 60.Pertencia a um descendente de alemães residente no local.
      Seja benvindo ao Asteroide, Paulo Pereira! Breve voltarei a postar!

      Excluir
  21. Perdoe-me pela tradução do google:
    Para mais informações sobre a infância de Pierre Clostermann no Brasil (1921-1937), eu convido você a visitar esta página, infelizmente em francês no momento: Enfance de Pierre Clostermann au Brésil
    Leitura feliz
    Pierre-Alain Clostermann

    ResponderExcluir