Até 1981, filmes sobre a ação de submarinos na II Guerra Mundial tinham um clássico como referência: O Mar é o Nosso Túmulo (Run Silent, Run Deep – EUA – 1958).
Então, foi lançado O Barco – Inferno no Mar (Das Boot – ALE – 1981), considerado hors concours o melhor filme sobre este tema.
Este filme tem uma história curiosa: sua filmagem rendeu diversas versões: a primeira foi para exibição em cinemas, com 150 minutos (1981); uma série de três episódios de 100 minutos, apresentada pela BBC (1984); uma série de 6 episódios de 50 minutos para a TV alemã (1988) (também apresentada no Brasil); a Versão do Diretor, em DVD, com 209 minutos (1997); e finalmente, em 2004 foi lançado em DVD a Mini-Série Sem Cortes, com 293 minutos, omitindo apenas as cenas repetidas dos capítulos anteriores, apresentadas na TV a cada episódio.
Essa análise é feita sobre a Versão do Diretor, em DVD, distribuída no Brasil pela Columbia Pictures, em widescreen 1.85:1, com trilha sonora em Dolby 5.1.
Apesar de tantas versões, quando o assistimos, o que vemos não é uma sucessão de recortes emendados sem continuidade, mas uma história que corre com fluidez e onde, apesar da longa duração, a ação surge a todo o momento, sem dar tempo para o tédio.
O filme ajudou a projetar o diretor Wolfgang Petersen no cenário mundial. A história se baseia no livro Das Boot, de Lothar-Günther Bucheim, onde ele conta a história de uma patrulha de guerra típica a bordo do submarino alemão U-96, durante a II Guerra.
Jürgen Prochnow: excelente, como o carismático capitão Willenbrock, do U-96.
O filme é protagonizado pelo excelente ator
Jürgen Prochnow, no papel do carismático e seguro capitão Willenbrock, e
Herbert Grönemeyer como o correspondente de guerra tenente Werner, que acompanha a viagem, documentando a missão, a exemplo do que o autor do livro fez na vida real.
Klaus Wennemann é o primeiro-tenente chefe das máquinas e imediato do submarino.A consultoria ficou a cargo de Heinrich Lehmann-Willenbrock, o verdadeiro comandante do U-96, e de Hans-Joachim Krug, imediato do U-219.
O capitão Willenbrock (Prochnow) e o correspondente de guerra Werner (Grönemeyer) numa das tomadas externas.
A história se passa em 1941, durante a Batalha do Atlântico, quando a Alemanha tentava asfixiar as Ilhas Britânicas, cortando o seu fluxo de suprimentos vitais, que chegava exclusivamente pelo mar, na maioria em comboios com dezenas de navios, escoltados por contratorpedeiros.
Os submarinos alemães empregavam a tática chamada “alcatéia”, onde quem localizasse a presença de um comboio não o atacava imediatamente, mas comunicava sua posição e rumo a outros submarinos, que se reuniam numa emboscada.
Quando atacavam, de preferência à noite, o faziam de forma simultânea, de posições diferentes, torpedeando diversos navios e confundindo os contratorpedeiros de escolta.
Esta tática teve efetividade terrível no início da campanha, ameaçando a sobrevivência da Inglaterra. Por isto, os aliados empenharam todos os seus esforços e desenvolveram novas tecnologias e táticas, refreando o ímpeto dos chamados "lobos cinzentos".
Na época abordada pelo filme, a maré já começava a mudar a favor dos aliados, e o U-96 enfrenta dificuldades para cumprir sua missão.
Em grande parte do tempo, a ação se passa no claustrofóbico interior do submarino. As cameras viajam como se fossem os olhos dos tripulantes, se deslocando pelos apertados corredores e compartimentos, captando a agitação e a tensão dos momentos mais críticos.
E podemos ter uma ideia do dia-a-dia da tripulação, confinada com seus problemas diários e sua intimidade exposta, num cubículo onde é impossível ter privacidade.
A atmosfera tensa e claustrofóbica do interior do submarino é bem captada pelas tomadas da camera.
Ao contrário de outros filmes, os alemães não são os frios e estereotipados fanáticos nazistas de sempre, mas combatentes comuns, com idéias, temores e sentimentos próprios, capazes de tremer sob um ataque de cargas de profundidade e de se emocionar ao ver fotos da família. Apenas um dos integrantes da oficialidade é ostensivamente nazista, mas não parece entusiasmar outros membros da tripulação. Na realidade, seus colegas e o capitão não parecem leva-lo muito a sério.
O filme cita que, dos quase 40.000 marinheiros que foram para o mar na II Guerra a bordo dos submarinos alemães, 30.000 não voltaram, um índice de baixas superior ao de qualquer outra atividade bélica.
A versão cinematográfica do filme recebeu seis indicações para o Oscar 1982, nas categorias de melhor fotografia (Jost Vacano), melhor direção (Wolfgang Petersen), melhores efeitos sonoros (Mike Le Mare), melhor montagem (Hannes Nikel), melhor mixagem de som (Milan Bor, Trevor Pyke e Mike Le Mare) e melhor roteiro adaptado (Wolfgang Petersen), mas não venceu em nenhuma. Parece que um filme alemão, com heróis alemães, e falado em alemão não caiu tanto no agrado dos jurados americanos.
Em compensação recebeu diversos outros premios de órgãos mundiais ligados ao cinema, inclusive o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro de 1981 (EUA).
A trilha sonora é magnífica!
U-boot é o termo alemão para submarino (de unterseeboot, barco submarino). Mas os submarinistas alemães chamavam seu próprio submarino simplesmente de “boot” (barco). Das Boot significa simplesmente submarino, no jargão dos marujos. Mas, o título brasileiro adotou uma tradução literal e o título virou BARCO, acrescentando: Inferno no Mar.
Em Portugal, o título adotado foi: A ODISSEIA DO SUBMARINO U-96.
Definitivamente, a história não é sobre um “barco” qualquer, mas sobre um submarino! E na minha opinião, mais adequado do que “barco” seria SUBMARINO!
Nota adicional: Na redação original deste post, eu havia citado a presença da ex-chacrete Rita Cadillac fazendo uma ponta no filme, como garçonete. Entretanto, graças a um comentário recebido, revi as cenas e constatei que nenhuma das garçonetes é realmente a ex-chacrete, apesar de constar esse nome nos créditos. Na verdade, esta citação se refere ao nome artístico de uma "stripper", cantora e atriz francesa, já falecida, cujo verdadeiro nome era, segundo consta no site IMDB, Nicole Yasterbelski. Mais famosa na Europa como atriz de striptease, ela participou de diversos filmes europeus, principalmente policiais, nas décadas de 50-60. Possivelmente, foi ela quem inspirou o apelido da chacrete.