Via de regra, pesquisadores científicos costumam ter sucesso como escritores de ficção-científica. Talvez por labutarem em uma área onde ficam no limiar entre indícios e hipóteses, podem vislumbrar inúmeras possibilidades a serem exploradas. E, na ficção-científica, podem desenvolver suas ideias livremente, sem nenhuma necessidade de comprovação.
Arthur C. Clarke, Isaac Asimov e Carl Sagan são exemplos desta tendência. Depois de curtir uma obra de especulação científica do saudoso Sagan, Os Dragões do Éden, tive o ensejo de apreciar o seu excelente romance de ficção científica Contato. E pouco tempo depois, pude assistir e colocar na minha videoteca o filme baseado no livro.
Nem sempre um filme sai à altura do livro em que se baseia, mas, neste caso, os produtores foram particularmente felizes. Talvez por terem tido a boa idéia de colocar o próprio Carl Sagan como consultor do diretor Robert Zemeckis (De Volta Para o Futuro, Forrest Gump). Além de autor do livro que deu origem ao filme, Sagan também foi um dos idealizadores do projeto SETI (Search for ExtraTerrestrial Inteligence) que, como no filme, utiliza radiotelescópios como instrumentos de pesquisa.
Contato (Contact -1997- EUA - 153 min.), tem a ótima direção de Zemeckis e a presença marcante de Jodie Foster no papel da apaixonada pesquisadora de vida extraterrestre Eleanor (Ellie) Arroway. O papel caiu como uma luva para Jodie, que, apesar de não ter sido indicada para o Oscar de melhor atriz, recebeu diversos prêmios de outras associações e academias de cinema por este papel.
O filme tem como tema a dedicação de Ellie na busca por sinais de vida inteligente extraterrestre, com o auxílio de radiotelescópios, num projeto financiado pelo governo americano. Entretanto, para o Dr. David Drumlin (Tom Skerrit), ranzinza funcionário do governo encarregado do projeto, tudo não passa de um tremendo desperdício de dinheiro. Ele acaba cortando as verbas da pesquisa e encerrando o projeto. Mas a incansável Ellie consegue sensibilizar um empresário bilionário (John Hurt) a patrocinar um projeto privado e volta à sua vigília. De repente, o impossível acontece: os aparelhos captam uma transmissão vinda de uma fonte inteligente, que não pode ser de nenhum satélite artificial, nem de alguma rádio-pirata! Depois de alguns ajustes e decodificações, se constata que se trata de uma transmissão realmente destinada aos terráqueos, e mostra como esses podem estabelecer contato mais aproximado entre as duas civilizações.
Jodie Foster como Ellie, a cientista apaixonada pela busca de vida extraterrestre.
O governo acaba assumindo o controle do projeto e os cientistas passam a sofrer pressões. A trama evolui, em meio aos inevitáveis confrontos entre políticos, religiosos fundamentalistas e cientistas, cada qual querendo "puxar a brasa para sua sardinha". E Ellie, a principal responsável pela descoberta, se vê questionada quanto à questões teológicas, sofre desgaste e acaba empurrada para um segundo plano pelo vedetismo dos políticos, como costuma acontecer em situações assim. Entretanto, a mensagem extraterrestre acaba gerando protestos de grupos radicais religiosos que negam sua autenticidade. Após diversos conflitos e até atos de sabotagem, o milionário protetor da jovem cientista aparece para resgata-la e volta a coloca-la como protagonista dos fatos.
E, seguindo as instruções vindas do espaço, uma assustada Ellie parte para um insuspeitado encontro, como a Alice do conto infantil entrando na toca do coelho, onde coisas inesperadas e maravilhosas acontecem.
Mas, num mundo dominado por políticos, fundamentalistas e pela disputa entre egos inflados, a jovem cientista é quem acaba ficando numa saia justa.
Um ótimo filme de ficção-científica, baseado em um ótimo livro de ficção-científica. Ainda dá para curtir o DVD.
Mas, num mundo dominado por políticos, fundamentalistas e pela disputa entre egos inflados, a jovem cientista é quem acaba ficando numa saia justa.
Um ótimo filme de ficção-científica, baseado em um ótimo livro de ficção-científica. Ainda dá para curtir o DVD.