No conto de Arthur C.
Clarke A SENTINELA (*), de 1948, uma expedição à Lua, em 1996,
descobre meio enterrada na poeira lunar, uma estrutura piramidal
cercada por um campo de força, presumivelmente colocada ali há
talvez milhares de anos antes da existência de nossa civilização
por visitantes extraterrestres.
Após muitos esforços,
usando detonações nucleares, os homens conseguem romper a proteção,
mas isto faz com que o objeto emita uma transmissão endereçada aos
confins do espaço, supostamente para avisar aos construtores que os
humanos finalmente haviam conseguido sair do seu planeta. O conto
termina com a expectativa de que os visitantes voltarão para fazer
contato com nossa civilização. Mas expressa um temor:
“Os que estavam na
escuta certamente voltarão suas mentes para a Terra. Talvez desejem
auxiliar nossa jovem civilização. Devem, no entanto, ser muito,
muito velhos e, frequentemente, os velhos têm uma inveja insana dos
jovens.”
O temor do primeiro
contato é explicável: basta observar aqui mesmo na Terra, o que
aconteceu quando civilizações tecnologicamente mais avançadas
fizeram contato com nativos. Principalmente no continente americano,
os europeus, mesmo sendo bem recebidos, se revelaram arrogantes e
gananciosos, saqueando até as últimas riquezas dos nativos, banindo
as “heresias” representadas por suas culturas, obrigando-os a se
converterem às suas religiões, escravizando-os e finalmente
exterminando-os por guerras ou pelas doenças que trouxeram, ou até
mesmo dizimando suas fontes de alimentação, como fizeram os colonos
com os búfalos da América do Norte.
Assim, se as culturas
tecnologicamente mais avançadas se comportarem da mesma forma que
nós, só teremos a temer deste primeiro contato.
Extraterrestres se preocupariam com nossos princípios morais e éticos? Talvez tenham princípios completamente diferentes...
Talvez por isto, os
governos das principais potências se mostram tão reservados quando
o assunto são OVNI (objetos voadores não-identificados) e supostos contatos com seres extraterrestres. Do
ponto de vista militar, é uma clara situação de impotência se
admitir que naves alienígenas possam cruzar o espaço aéreo de uma
nação a seu bel-prazer, sem serem interceptados nem identificados.
Do ponto de vista
político, parece evidente que alguém capaz de vencer distâncias
intergalácticas pouco se importará com problemas desta natureza.
Outro aspecto que tem que ser levado em conta é o pânico que a
presença de alienígenas poderia causar na população e de que
forma isto pode influenciar suas crenças e princípios morais. Será
que seres tão diferentes seguem alguma regra de conduta que os
impeça de nos ver apenas como um rebanho de animais a ser estudado
ou dissecado? Quererão levar alguns espécimes para seu zoológico
espacial? Ou nos utilizar para pesquisas, como fazemos com alguns
animais do nosso próprio mundo?
A curiosidade sobre
alienígenas é grande...Mas, será que vale mesmo a pena
encontra-los, ou melhor, ser encontrado por eles?
Afinal, eles também
poderiam ser também mais evoluídos na arte da convivência, como os
humanos tentam ser há tanto tempo. Neste caso, seriam os “ETs
bonzinhos” como aquele do filme de Steven Spielberg. Poderiam nos ensinar muita coisa...
Interessante que, para
cada filme ou história de ET camarada existem uns dez (ou mais?) de
alienígenas vampirescos, que exterminam de forma sistemática e buscam
ocupar nosso planeta para criar sua colônia, ou estão atrás de
recursos como água ou oxigênio, abundantes em nosso planeta.
Em algumas destas
histórias, os visitantes devastam sem nenhuma explicação ou
diálogo, e a princípio, os terráqueos parecem não ter a menor
chance. Depois, de alguma forma ilógica e fantasiosa, conseguem
derrotar os alienígenas e suas tecnologias mais avançadas, usando
apenas nossas armas rudimentares e alguma criatividade.
Uma civilização tecnologicamente mais avançada poderia arrasar nosso planeta sem mesmo pisar nele. Mas, por que faria isto?
Mas, examinando a história de
nosso planeta, podemos constatar que as civilizações mais
adiantadas tecnologicamente sempre subjugaram as mais rudimentares.
Nossa maior esperança é a de que os ETs sejam bem diferentes de nós, e mais avançados também na filosofia e no conceito de preservação da criação.
Afinal, mesmo se um pequeno
percentual dos incontáveis relatos de avistamentos de OVNI forem autênticos,
isto mostraria outra alternativa: os visitantes querem apenas
observar, sem interferir, da mesma forma que os humanos observadores
da vida selvagem terrestre e aquática, que filmam, tiram fotos e
colocam rastreadores em animais apenas para conhecer seus hábitos.
Oremos para que os
alienígenas sejam bem menos gananciosos do que os humanos comuns e
se comportem como os naturalistas e ecologistas...
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(*) Alguns anos depois da publicação nos EUA do conto A SENTINELA, Arthur C. Clarke recebeu um convite para desenvolver a história como argumento para um filme. Daí se originou o lendário 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (1968), um filme que virou cult para os fãs da ficção científica. O conto original foi publicado nos EUA em 1951 pela Avon Periodicals Inc., e no Brasil em 1978, na coletânea SOBRE O TEMPO E AS ESTRELAS, da Editora Nova Fronteira.