FRASE:

FRASE:

"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

EDUCAÇÃO: A ÚNICA VIA PARA O DESENVOLVIMENTO

Só me lembro de meu pai zangado de verdade comigo uma vez: foi quando eu negligenciei nos estudos! Ele, que nunca completou sequer o curso primário, sabia o quanto era importante o estudo para permitir o progresso de seu filho!
A educação é a única via que pode levar um país ao desenvolvimento. País desenvolvido não é o que tem armas nucleares, petróleo no subsolo ou belezas naturais para atrair o turismo!  Ou o que tem um grande parque industrial onde trabalhadores sobrevivem à custa de subsídios e sem aspirações de elevação de nível econômico e social.

A Coréia do Sul é um exemplo de país onde os investimentos maciços na qualidade da educação pública levaram à uma escalada de desenvolvimento.

País desenvolvido é aquele que tem um povo onde o analfabetismo é ausente e onde as pessoas tem escolaridade para conseguir postos de trabalho com salários que lhes garantem não apenas a sobrevivência, mas qualidade de vida! O resto é consequência! Quem tem educação, tem saúde, emprego, transporte e segurança!
Por que estou falando isto?
Por causa dos comentários sobre uma reportagem que vi hoje no telejornal BOM DIA BRASIL, da Rede Globo. Tratava-se de manifestações de protestos no Chile, contra uma política governamental de privatização do ensino. Ao comentar, o jornalista Alexandre Garcia fala sobre o desleixo do Brasil em relação à educação, o que permitiu que fossemos ultrapassados por países que já estiveram em situação pior que a nossa.

Quem quiser ler a notícia, pode ver em:

Se não quiser ler, pode apenas assistir ao clip.
Por favor, pensem nisso quando forem escolher quem vai lhes representar no legislativo e no executivo! Eleição não é lugar para brincadeira!

Nota: quando falo da omissão das autoridades com a qualidade da educação, não quero dizer que a saúde, os transportes e a segurança estejam satisfatórios!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

HISTÓRIA: AS VÍTIMAS BRASILEIRAS DOS SUBMARINOS

Na minha postagem HISTÓRIA: SUBMARINOS ALEMÃES ATACAM!, eu mencionei que finalmente sabia quem tinham sido os atacantes de todos os navios brasileiros afundados na II Guerra Mundial.
Aqui, está, conforme prometi a mim mesmo, o resultado de muitas consultas e de cruzamentos de informações, sobre o tema navios brasileiros atacados por submarinos do eixo Itália-Alemanha durante a II Guerra. Esta é a lista dos navios afundados, com data, hora e local (quando disponíveis), a identificação do submarino atacante e o nome do seu capitão na ocasião do ataque.


Navios Brasileiros Torpedeados na II Guerra Mundial

1942
N.
Navio
(Mortos)
Data
Hora
(1)
Local
(Posição)
Submarino
Tipo(2)
Comandante
do submarino
01
Buarque
(1)
15/02
04:43
Costa leste dos EUA
36°35'N, 75°20'W
U-432
VIIC
Cp T Heinz-Otto Schultze
02
Olinda
(0)
18/02
18:07
Costa leste dos EUA
37°30'N, 75°00'W
U-432
VIIC
Cp T Heinz-Otto Schultze
03
Cabedelo
(54)
25/02
-
Antilhas?
Da Vinci
Cp Cv Longanesi-Catani
04
Arabutã
(1)
07/03
21:10
Costa leste dos EUA
35°15'N, 73°55'W
U-155
IXC
Cp Cv Adolf C. Piening
05
Cairu
(1)
09/03
02:25
Costa leste dos EUA
39°10'N, 72°02'W
U-94
VIIC
1T Otto Ites
06
Parnaíba
(7)
01/05
20:46
Leste de Trinidad-Tobago
10°12'N, 57°16'W
U-162
IXC
Cp T Jürgen Wattenberg
07
Comte. Lira
(2)
18/05
22:30
200 nm da costa do RN
Barbarigo
Cp T Enzo
Grossi
08
Gonçalves Dias
(6)
24/05
13:15
Mar do Caribe
16°09'N, 70°00'W
U-502
IXC
Cp T J. Von Rosenstiel
09
Alegrete
(0)
01/06
23:51
Mar do Caribe
13°40'N, 61°30'W
U-156
IXC
Cp Cv Werner Hartenstein
10
Pedrinhas
(0)
26/06
23:17
300 nm a NE de Porto Rico
23°07'N, 62°06'W
U-203
VIIC
Cp T Rolf 
Mützelberg
11
Tamandaré
(4)
26/07
08:15
Ao largo de Trinidad-Tobago
11°34'N, 60°30'W
U-66
IXC
Cp T Friedrich Markworth
12
Piave
(1)
28/07
20:30
100 nm leste de Barbados
12°30'N, 55°49'W
U-155
IXC
Cp Cv Adolf C. Piening
13
Barbacena
(6)
28/07
00:40
100 nm leste de Barbados
13°10'N, 56°00'W
U-155
IXC
Cp Cv Adolf C. Piening
14
Baependi
(270)
16/08
00:12
Costa de Sergipe
11°50' S, 37°00'W
U-507
IXC
Cp Cv Harro 
Schacht
15
Araraquara
(131)
16/08
02:02
Costa de Sergipe
12°00'S, 37°19'W
U-507
IXC
Cp Cv Harro 
Schacht
16
Anibal Benevolo
(150)
16/08
09:13
11 nm da Barra de SE
11º42' S/37º23' W
U-507
IXC
Cp Cv Harro 
Schacht
17
Itagiba
(36)
17/08
18:03
Costa da Bahia
norte da Ilha de Tinharé
13°20'S, 38°40'W
U-507
IXC
Cp Cv Harro 
Schacht
18
Arará
(20)
17/08
18:03
Costa da Bahia
norte da Ilha de Tinharé
13°20'S, 38°49'W
U-507
IXC
Cp Cv Harro 
Schacht
19
Jacira
(0)
19/08
00:00
Costa da Bahia
Entre Ilhéus e Itacaré
14°30'S, 38°40'W
U-507
IXC
Cp Cv Harro 
Schacht
20
Osório
(5)
28/09
01:10
Foz do Amazonas
norte de Salinas-PA
00°03'N, 47°45'W
U-514
IXC
Cp T Hans J. Auffermann
21
Lajes
(30
28/09
02:15
Foz do Amazonas-PA
00°13'N, 47°47'W
U-514
IXC
Cp T Hans J. Auffermann
22
Antonico
(16)
28/09
00:00
Costa da Guiana Francesa
05°30'N, 53°30'W
U-516
IXC
Cp Cv Gerhard Wiebe
23
Porto Alegre
(1)
03/11
16:42
Largo de Port Elizabeth -África do Sul
35°27'S, 28°02'E
U-504
IXC
Cp Cv Hans Poske
24
Apalóide
(5)
22/11
22:17
Leste das Pequenas Antilhas
13°28'N, 54°42'W
U-163
IXC
Cp Cv Kurt Engelmann
1943
N.
Navio
(Mortos)
Data
Hora
(1)
Local
(Posição)
Submarino
Tipo(2)
Comandante
do submarino
25
Brasilóide
(0)
18/02
03:15
Costa da Bahia
12°38' S, 37°57' W
U-518
IXC
Cp T Friedrich Wissmann
26
Afonso Pena (125)
02/03
23:01
Ao largo da Bahia
Barbarigo
Cp T Roberto
Rigoli
27
Tutoia
(7)
01/07
00:15
Largo de Iguapé-SP
24º43' S, 47º19' W
U-513
IXC
Cp Cv Rolf Guggenberger
28
Pelotaslóide
(5)
04/07
17:45
5 nm norte de Salinas -PA
00°24'S, 47°36'W
U-590
VIIC
1T Werner Krüer
29
Bagé
(28)
01/08
02:36
30 nm sul de Aracaju-SE
11°29'S, 36°58'W
U-185
IXC/40
Cp T Augustus
Maus
30
Itapagé
(22)
26/09
18:50
10 nm de Lagoa Azeda-AL
10º05'S, 35º54'W
U-161
IXC
Cp T Albrecht Achilles
31
Campos
(12)
23/10
12:33
15 nm de Alcatrazes-SP
24°42'S, 45°45'W
U-170
IXC/40
Cp T Günther
Pfeffer
1944
N.
Navio
(Mortos)
Data
Hora
(1)
Local
(Posição)
Submarino
Tipo(2)
Comandante
do submarino
32
Vital de Oliveira
(99)
20/07
04:54
25 nm sul do farol S. Tomé– RJ
22°29'S, 41°09'W
U-861
IXD2
Cp Cv Jürgen Oesten

(1) A hora, no caso dos submarinos alemães, se refere à hora de Berlim em que foi comunicado o afundamento. Esta coluna não serviu como ordenação, portanto podem haver horários fora de ordem, para um mesmo dia
(2) Os submarinos alemães tipo VIIC eram menores e tinham menor raio de ação que as diversas variantes do tipo IX, maiores e com maior autonomia.

Abreviaturas usadas no quadro:
nm= milha náutica (1.853 m)
N,S,E,W, NE = Norte, Sul, Leste, Oeste, Nordeste
1T = Primeiro-tenente
Cp T = Capitão-tenente
Cp Cv = Capitão-de-corveta

Como se pode ver, pouco mais da metade (17) dos navios brasileiros afundados durante a II Guerra foram atacados em águas nacionais. Os outros foram afundados em diversas partes do Atlântico, como na costa dos EUA e no Caribe. Até no Oceano Índico houve um ataque, no caso do Porto Alegre.

O Arará: um dos seis navios brasileiros torpedeados pelo U-507 entre os dias 16 e 19 de agosto de 1942. De seus 35 ocupantes, 20 foram mortos no ataque.

Originalmente, constavam 34 navios, mas excluímos desta lista o navio Cisne Branco, uma vez que não há nenhuma referência ao seu afundamento nos arquivos dos submarinos alemães, sendo que o submarino que alegadamente o teria torpedeado (U-161) foi afundado no mesmo dia, a uma distância longe demais do local do naufrágio. Muitas contradições envolvem a misteriosa explosão que causou o naufrágio do Cisne Branco. Na realidade, há mais dúvidas do que certezas em relação a este navio e pode ter acontecido algum acidente, já que ele levava carga militar considerada secreta (talvez explosiva), embora declaradamente transportasse apenas sal.
Também foi excluído o veleiro Paracuri, que consta nos arquivos alemães como apenas danificado por tiros de canhão pelo submarino U-159 no Caribe, em 05 de junho de 1942, não havendo registro de vítimas.
Quanto ao Cabedelo, faltam alguns dados, já que este navio saiu em 14-fev-1942 do porto de Filadélfia, nos EUA, com destino ao Rio de Janeiro, e desapareceu sem deixar destroços, sobreviventes ou corpos. Dois pesquisadores europeus, um alemão e o outro italiano, chegaram a mesma conclusão de que ele foi torpedeado pelo submarino italiano Da Vinci, em 25-fev-1942. Porém, não temos informações sobre o local exato. 

 O Cabedelo, que se acredita ter sido afundado próximo às Antilhas pelo submarino italiano Da Vinci, em 25 -fev-1942: 54 mortos.

Também não consta da lista, por não ser um navio, o pequeno pesqueiro de 20 t CHANGRILÁ (Shangri-Lá), afundado ao largo de Cabo Frio (RJ) a tiros de canhão pelo submarino U-199, em 22-jul-1943. O destino deste barco, dado como desaparecido, só foi conhecido no início deste século, quando foi liberado o teor do interrogatório dos tripulantes sobreviventes do U-199, capturados e levados para os EUA, após o afundamento do submarino, em 31-jul-1943. Os 10 tripulantes, do CHANGRILÁ, todos pescadores de Arraial do Cabo, foram metralhados para que não revelassem a presença do submarino naquela posição. Seus corpos nunca chegaram à costa nem foram encontrados.
Este não foi o único caso de desrespeito à tratados internacionais no tratamento de sobreviventes de naufrágios. Após um incidente com o navio Laconia, esses caso se tornaram frequentes.
Em 12-set-1942, no Atlântico Sul, ao largo da costa africana, o submarino U-156, comandado pelo capitão-de-corveta Werner Hartenstein, torpedeou o navio inglês Laconia. O barco transportava 136 tripulantes, 80 civis, 268 soldados ingleses e cerca de 1.800 prisioneiros de guerra italianos, vigiados por 160 soldados poloneses. Percebendo que havia aliados italianos entre os náufragos, o comandante iniciou uma operação de salvamento, convocando mais dois submarinos, um alemão e outro italiano para cooperar no resgate. Rebocando botes e com os conveses cheios de soldados, os três submarinos rumaram para a costa africana quando foram avistados por um avião-patrulha americano. Apesar de ostentarem bandeiras brancas e cruzes vermelhas, foram atacados e forçados a submergir, causando a perda de vidas. Mais tarde, os aproximadamente 1.500 sobreviventes foram resgatados por navios franceses, a essa altura aliados dos alemães.
Em decorrência disso, o almirante Karl Doenitz, comandante da frota submarina alemã, expediu uma ordem para que seus barcos não mais se envolvessem em resgates de passageiros de navios torpedeados. Entretanto, essa ordem não explica o metralhamento sistemático de sobreviventes.
Essa determinação foi um dos motivos que levaram o Almirante Doenitz a ser indiciado pelo Tribunal de Nuremberg, instaurado pelos aliados após o conflito, para julgar os crimes de guerra cometidos pelos alemães. Sua defesa alegou que o mesmo procedimento fora adotado pelos aliados em situações semelhantes, citando ações da marinha dos EUA no Pacífico. Essa estratégia parece ter funcionado, pois ele pegou apenas dez anos de prisão. Doenitz faleceu em 1980, aos 89 anos.
Anos após o Julgamento de Nuremberg, o governo brasileiro, a pedido da Marinha, solicitou a extradição, para julgamento no Brasil, do ex-capitão-de-corveta Gerhardt Wiebe e outros oficiais, que serviam no submarino U-516 por ocasião do torpedeamento do navio brasileiro Antonico, em 28-set-1942, ao largo da Guiana Francesa. Após abandonarem o navio em baleeiras, os quarenta sobreviventes ainda foram metralhados pelos tripulantes alemães, sendo 16 mortos, inclusive o comandante Américo Neves, e diversos feridos. Mas houve sobreviventes que relataram o fato. A extradição foi negada e o Brasil desistiu da solicitação.
As perdas humanas brasileiras nestes afundamentos atingiram a soma total de 1.080 mortos.
Curiosamente, o primeiro navio brasileiro a ser atacado na II Guerra não foi alvo de nenhum submarino, mas de um avião!
Em 22 de março de 1941, o Taubaté, que viajava no Mediterrâneo, do Chipre para Alexandria, no Egito, foi atacado próximo ao seu destino por um avião da Luftwaffe, que após lançar bombas sem acertar, metralhou o navio, mesmo após o içamento de uma bandeira branca, matando um tripulante e ferindo outros 13. A diplomacia brasileira protestou, mas consta que a embaixada alemã não se pronunciou a respeito. Na época, o governo de Getúlio Vargas via com certa simpatia o regime nazista e a política externa brasileira buscava a neutralidade em relação à guerra.
Durante a II Guerra, os submarinos alemães afundaram mais de 3.000 navios aliados.



A lista dos navios brasileiros torpedeados foi elaborada com dados das seguintes fontes:

Apontamentos do Gen. da reserva Darcy Lázaro, veterano da FEB (Assoc. Dos Ex-Combatentes – Seção Paraná), conforme citado pelo pesquisador Diniz Esteves.

Informações constantes no livro do falecido Brig. Ivo Gastaldoni MEMÓRIAS DE UM PILOTO DE PATRULHA.

Em uma série de artigos do mesmo autor, publicados na REVISTA DA AERONÁUTICA, editada pelo Clube de Aeronáutica.

No excelente livro O BRASIL NA MIRA DE HITLER, de Roberto Sander (Ed. Objetiva, 2007), que conta diversos detalhes sobre o afundamento dos navios brasileiros, sobre a atividade de espionagem alemã no Brasil e da política brasileira da época.

No site www.uboat.net, onde constam informações detalhadas sobre as operações de mais de 1000 submarinos alemães durante a II Guerra Mundial.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

NO MEU TEMPO...(CONVERSA DE BOTECO)

Cada vez vejo mais dificuldade em me fazer compreender pelas pessoas. É que no meu tempo muita coisa era diferente.
No meu tempo, "crack" era jogador de seleção, "pó" era o que ficava sobre os móveis quando o tempo estava seco, "fumo" era um rolo coberto de alcatrão,  "balada" era um gênero musical, "gato" era um animal doméstico, "blitz" era tática de guerra alemã, "carreta" era um carro de bois, "vapor" era navio de passageiros e "avião" era o outro nome de aeroplano. 
Para mim, naquele tempo tudo era mais simples, eu tinha poucas coisas e aspirava poucas coisas, apenas coisas que estavam ao meu (curto) alcance.

Poucas coisas restaram daquele tempo...

No meu tempo, não tinha supermercado, e as compras eram feitas na venda da esquina, onde as despesas eram anotadas num caderno, que era pago no final do mes (quando dava). Nas calçadas, as crianças brincavam de bambolês e bolinhas de gude, ao invés de computadores e videogames.
Mas, a gente ia ao colégio para estudar e aprender, não para ter onde comer! E para passar de ano, tinha que ter aproveitamento nas provas e sabatinas. Quando a professora entrava na sala, os alunos ficavam respeitosamente de pé, até que ela desse "bom dia" e mandasse sentar.
No meu tempo, os bandidos portavam revólveres e fugiam da polícia, ao invés de atacar até delegacias, com bandos armados com armas de guerra. E quando a polícia pegava um ladrão, que havia roubado um relógio ou uma carteira, era mostrado numa foto do jornal, geralmente um molecão magricela, descabelado e vestindo uma camiseta. 
As coisas continuam as mesmas, só que diferentes... 
Alunos andam armados e agridem professores, e ainda recebem apoio paterno.
Hoje, os ladrões são senhores de cabelos grisalhos ou pintados, e aparecem nos telejornais dando entrevistas coletivas, cheios de pose, vestindo ternos e gravatas de grifes famosas, tentando justificar a forma como roubaram milhões do dinheiro público (nosso dinheiro)!
Na realidade, isso até foi uma melhora, já que antes, mesmo roubando, eles não tinham sequer que aparecer em público para se explicar! Talvez ainda chegue um dia em que eles aparecerão algemados, indo para as celas. Ah, e sem que ninguém tome as dores e saia em sua defesa.
Sou um saudosista, mas não a ponto de acreditar que tudo era perfeito ou de deixar de reconhecer os confortos e benefícios que a tecnologia nos trouxe nesta era. 
Entretanto, vieram também as mudanças sociais e comportamentais que nos fizeram abrir mão de algumas coisas simples que se perderam para sempre... 
Coisas tais como inocência, respeito e fé...
Mas, enfim, tudo tem um preço...

sábado, 6 de agosto de 2011

THOR HEYERDAHL E A EXPEDIÇÃO KON-TIKI

O primeiro livro que eu li na minha vida na realidade era uma condensação, um resumo do livro, publicado pela revista Seleções do Reader's Digest. Porém, foi o suficiente para prender minha atenção e me despertar para um universo de coisas que ficavam além dos limites do quintal da casinha onde eu morava. Alguns anos mais tarde, eu pude adquirir a versão completa do livro, que foi devorado com o mesmo apetite com que fora o resumo.
A referida obra chamava-se A EXPEDIÇÃO KON-TIKI (Ed. Melhoramentos, 1951), de Thor Heyerdahl, pesquisador norueguês. Thor foi o primeiro “super-herói” real que eu admirei.
Logo nas primeiras linhas, fiquei fascinado por suas teorias sobre a migração dos povos sulamericanos e polinésios.


A equipagem da Kon-Tiki. Da esquerda para a direita: Knut Haugland, Bengt Danielsson, Thor Heyerdahl, Erik Hesselberg, Torstein Raaby e Hermann Hatzinger.
Com exceção do sueco Danielsson, todos eram noruegueses. 

Após estudar as tradições destes povos, ele achou coincidências que pareciam indicar que a história de uns começava onde a de outras dera uma reviravolta. Haviam muitos indícios de que as tradições polinésias começavam como uma continuação de uma migração para o oeste de antigas tribos incas.
E o ponto de união era o personagem Kon-Tiki, um lendário chefe que liderara a migração partindo da costa oeste da América do Sul e que também aparecia nas tradições polinésias como o pioneiro que viera do sol nascente para fundar as primeiras povoações nas ilhas do sul do Pacífico.

Representação tradicional de Kon-Tiki ou Viracocha: uma figura como esta foi estampada na vela da jangada.

Tudo começara na década de 30, quando Thor e sua esposa Liv, em lua de mel, estavam na ilha de Fatu Hiva, no arquipélago das Marquesas, no Pacífico Sul. Só que sua “lua de mel” já durava mais de um ano, e se fundira com uma viagem de estudos!
Eles eram os únicos brancos na ilha e moravam em uma cabana à beira-mar construída por eles mesmos. Comiam apenas frutas, peixe e frutos do mar que eles próprios apanhavam.Uma espécie de pré-hippies!
Lá, numa noite, naquela atmosfera de sonho tropical, eles conversaram sobre uma coisa intrigante: Liv não entendia porque as ondas batiam forte sempre em apenas um dos lados da ilha, enquanto no outro o mar ficava calmo. O estudioso Thor explicou que as correntes marítimas predominantes naquele local vinham no sentido leste-oeste, e por isto o lado leste era sempre batido pelas ondas.
Nesta mesma ilha, um velho chefe nativo, que ele nunca esqueceria, lhe falou que Kon-Tiki, o pai fundador de sua tribo, viera de terras distantes do outro lado do mar, da direção do sol nascente. Thor não deixou de lembrar que na Ilha de Páscoa, que fica no caminho entre o continente americano e a Polinésia, havia monumentos de pedra que lembravam outros existentes na América do Sul.
No Peru, ele havia descoberto que o nome original do rei-sol dos incas, Viracocha, era KON-TIKI ou ILA-TIKI. E que esse rei, depois de atacado e derrotado por outro chefe, chamado Cari, numa batalha em uma ilha do lago Titicaca, fugiu com os sobreviventes para o mar, rumando para o ocidente.

A Kon-Tiki: apenas uma palhoça sobre troncos de balsa para cruzar o Pacífico e comprovar a possibilidade de uma teoria. Bandeiras dos países envolvidos foram hasteadas nos mastros.

Nos anos 30, havia teorias variadas, tentando explicar o povoamento da Polinésia como resultado de migrações originárias da Ásia, da África e até da Europa.
A hipótese sulamericana não constava nas explicações ensinadas nas escolas sobre a povoação dos continentes. E como Thor não era membro de nenhum grupo dominante nas academias de ciência, os eruditos não levavam a sério suas teorias.
E o principal óbice que lhe lançavam no rosto era a impossibilidade de atravessar o imenso Oceano Pacífico, já que não havia nenhum registro de que os sulamericanos possuissem embarcações oceânicas, nem habilidades como navegadores marítimos.
E foi daí que o determinado Thor, que apesar de vir da terra dos vikings, fora criado nas montanhas do interior e jamais se aventurara a navegar no mar, resolveu fazer algo muito ousado.

Thor Heyerdahl - (6-out-1914 - 18-abr-2002)

Ele já havia pesquisado sobre um tipo de embarcação primitiva sulamericana, uma jangada feita com troncos de balsa, madeira muito leve e fácil de entalhar.
E sua proposta foi essa: construir com materiais naturais uma jangada típica da época dos incas e tentar chegar à Polinésia navegando à vela, e pegando carona nas correntes marítimas que levam para o oeste!
Com financiamento obtido através de empréstimos e doações particulares de amigos militares do exército americano, a jangada foi construída,  com licença do governo peruano, medindo aproximadamente 13,70 X 5,50 m, com uma cabana-abrigo de 4,20 X 2,40 m no centro.
A ideia era simular o mais que possível as condições originais, mas a contragosto, outro participante da tripulação o convenceu a levarem um aparelho de rádio transmissor-receptor. 

 O roteiro da Kon-Tiki através do Pacífico.
 
E, no dia 28 de abril de 1947, levando Thor e outros cinco tripulantes voluntários, a jangada partiu do porto de Callao, no Peru, para a “impossível” jornada.
Lembrando a Enterprise de Star Trek, “se aventurando audaciosamente onde homem nenhum jamais esteve”! Claro que não era essa a opinião de Thor Heyerdahl ! Para ele, tudo o que faziam era repetir o mesmo caminho de Kon-tiki. Por isto mesmo,  a jangada foi batizada com o nome do navegador que ele acreditava ser o pioneiro.
Após muitas dificuldades, eles aprenderam alguns macetes, como pilotar a jangada com o auxílio de quilhas corrediças ao invés do leme, cavalgando as correntes de Humdbolt e Equatorial, através do maior dos oceanos.
E, no dia 7 de agosto de 1947, após 101 dias de travessia e tendo percorrido 7.964 km, a Kon-Tiki encalhou nos recifes da desabitada ilhota de Raroia, no arquipélago Toamotu!

 No final, o paraíso...Nesta paisagem de sonho, nas Ilhas Tuamotu, Thor Heyerdahl e sua equipagem encalharam a Kon-Tiki em 07 de agosto de 1947, após atravessarem o Pacífico Sul, numa jornada de quase 8.000 km.

Com 8 anos, senti a emoção tomar conta de mim, enquanto lia as páginas finais...
Eu tenho o livro encadernado até hoje, assim como um filme documentário sobre a viagem.
Thor não parou por aí e continuou pesquisando novas hipóteses, desta vez propondo que a população das américas poderia ter vindo do Egito através do Atlântico. Construiu um barco estilo egípcio em papiro, o Ra (nome do deus-sol egípcio), para atravessar o Atlântico, partindo de Marrocos. O barco teve problemas e naufragou, mas ele mudou o método de construção e fez outra tentativa com o Ra II, com o qual conseguiu chegar em Barbados, no Caribe.

 O Ra II no Kon-Tiki Museum, em Oslo, Noruega. Para acessar o site do museu, clique no link: http://www.kon-tiki.no/e_aapning.php

Esta viagem rendeu outro livro e um filme. Ele fez outras expedições à ilha de Páscoa, aos Galápagos e ao Oriente Médio.
Em Oslo ficam o Kon-Tiki Museum e a Thor Heyerdahl Research Foundation. Thor escreveu 15 livros sobre as suas teorias, viagens e expedições. O livro sobre a expedição Kon-Tiki foi traduzido em mais de 70 línguas e vendeu mais de 50 milhões de exemplares!
Há poucos anos, li um dos seus últimos livros, NA TRILHA DE ADÃO (Editora Schwarcz, 2000 – original: Adams Fotspot, 1998), uma autobiografia onde ele fala inclusive sobre sua atuação na II Guerra Mundial, e na luta para defender suas teorias sobre as migrações.

Thor Heyerdahl faleceu em 18 de abril de 2002, na Itália, aos 87 anos.
Mas, seu nome vaga pelo espaço, entre Marte e Júpiter: o asteroide 2473 foi batizado Heyerdahl, em sua homenagem.